Uma barata passeia tranquilamente pelos dedos de Tyler, The Creator, antes de ser engolida e regurgitada pelo rapper em um videoclipe de seu novo álbum Goblin, o primeiro feito com o apoio de uma gravadora, que promete atiçar a blogosfera com seu lançamento, nesta terça-feira, dia 10. Antes da mordida, e em outras partes do disco, suas rimas transitam com franqueza ímpar pelas ebulições emocionais da adolescência, citando o massacre de Virginia Tech, flertando com o suicídio, ameaçando de morte alguns pop stars e críticos de música, e finalmente concluindo:
- Dane-se a fama, eu só quero saber se meu pai gosta de mim. Mas eu não estou nem aí, então ele é provavelmente igual a mim.
A estética chocante, acompanhada das contradições de uma infância disfuncional, algo como uma versão nova da temática de Eminem no início de sua carreira, transformaram Tyler e seus cúmplices do coletivo Odd Future Wolf Gang Kill Them All em um tsunami da internet. Começaram com um blog, algumas mixtapes, videoclipes produzidos em casa e todos os discos disponíveis para download gratuito, até juntarem um público fanático, da mesma idade, e serem consagrados no festival South by Southwest, em março.
Goblin está sendo lançado pela influente gravadora XL (White Stripes, Radiohead, The xx, Vampire Weekend) e chega aqui em julho como aposta da corajosa LAB 344. Trata-se de um teste para galgar a rentabilidade de um tipo de rap feito de produções espartanas, mal ajambradas, que ignoram o apelo melódico e primam pela auto analise implacável, tudo o mais longe possível do mainstream.
- Eles são os novos Sex Pistols, os novos Black Flags. Daqui a 15 anos vão olhar de para trás e achar tudo isso criancice, mas por enquanto eles tem de viver isto - disse o baterista Questlove, do The Roots, que tocou com o coletivo em sua estreia na TV, no programa de Jimmy Fallon, no ano passado.
Ao vivo, o grupo tem a energia assustadora e animalesca de uma rebelião na Febem, mas quando se presta atenção na poesia, Odd Future não é só choque. Nas rimas de seus integrantes, principalmente nas do talentoso Earl Sweatshirt, há técnica meticulosa.
Na performance da sua EARL, cujo clipe embrulha o estômago assim como e de Yonkers, Earl despeja suas rimas com um fluxo que deve assustar rappers mais veteranos. A pena é que o menino foi mandado para um reformatório depois de sua mãe ouvir um de seus raps, provavelmente EARL, em que a rima diz que ele é um astronauta que se masturba com vídeos de conexão baixa de um rapper branquelo e foi enviado à terra para cutucar os católicos no rabo com uma serra.