Depois da perda repentina de Pina Bausch em 2009, aos 68 anos, cinco dias após ter sido diagnosticada com câncer, houve um momento de interrogação sobre o futuro da companhia Tanztheater Wuppertal, que desde 1973 havia se tornado sinônimo da inovação provocada na dança contemporânea pela referencial coreógrafa alemã. Mas o grupo, em sua maioria formado por colaboradores de longa data, não só continuou como teve sua equipe praticamente inalterada.
É esse o elenco que volta a Porto Alegre depois de cinco anos, para apresentações nos dias 23 e 24 no Teatro do Sesi, marcando o tradicionalmente antecipado lançamento do 18º Porto Alegre Em Cena (de 6 a 26 de setembro deste ano). Desta vez, sem a presença física de Pina. Mas é como se ela estivesse por aqui, como sempre. Sob comando dos coreógrafos Dominique Mercy e Robert Sturm, o Tanztheater Wuppertal apresenta Ten Chi ("céu e terra").
Estreado em 2004, trata-se de um dos diários de viagem em forma de espetáculo criados por Pina em homenagem a lugares por onde esteve (Água, de 2001, tinha como referência uma passagem pelo Brasil). A referência, aqui, é o Japão, resultado de uma estadia de três semanas na cidade de Saitama, na província de mesmo nome, região de Tóquio, o que ganha, coincidentemente, em significado após o recente terremoto seguido de tsunami no país.
Nesta produção "tipicamente cornucópica e sem enredo", como definiu o resenhista do Los Angeles Times, em 2007, o olhar é deliberadamente o do estrangeiro. Entre a tradição e - principalmente - a modernidade, a cultura japonesa expressa no palco brinca com os lugares-comuns associados ao país, a exemplo de uma menção a produtos eletrônicos japoneses exportados ao mundo e citações de palavras familiares às plateias internacionais, como "sushi","samurai" e "gueixa". Como escreveu certa vez o pesquisador do teatro Patrice Pavis,a repetição de uma ação banal é uma estratégia de Pina para desmascarar "os jogos de poder, as maneiras cotidianas de falar ou de comportar-se".
Novamente em evidência (em fevereiro, o cineasta Wim Wenders arrebatou o público do Festival de Berlim com Pina, documentário em 3D), a dança-teatro da coreógrafa retorna pela terceira vez a Porto Alegre (em uma turnê programada para passar antes pelo Rio de Janeiro e por São Paulo), depois de uma visita em 1980 e de uma disputadíssima volta, em 2006, durante o Porto Alegre Em Cena, com Para as Crianças de Ontem, Hoje e Amanhã (2002).
Característica da dança-teatro (ou Tanztheater, em alemão), gênero do qual a coreógrafa é uma das principais expoentes, ao lado de nomes como Gerhard Bohner, Johann Kresnik e Reinhild Hoffmann, a realidade é a principal matéria-prima. Os bailarinos - ou "dançatores" - têm seus movimentos baseados em uma espécie de dramaturgia, produzindo uma dança figurativa que se distancia de vertentes abstratas da dança contemporânea.
Ten Chi leva 17 bailarinos ao palco (incluindo a brasileira Regina Advento), que trabalharão com textos de autores das mais diversas procedências, como o alemão Bertolt Brecht, a polonesa Wislawa Szymborska e o português José Saramago. A música, igualmente multicultural, conta com nomes que vão do japonês Ryoko Moriyama ao argentino Gustavo Santaolalla. Para Pina Bausch, a dança não conhece fronteiras.
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Começa a venda de ingressos para "Ten Chi",espetáculo da companhia de Pina Bausch
Espetáculo da coreógrafa alemã marca o lançamento do 18º Porto Alegre Em Cena
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