Há uma característica específica em alguns sucessos marcantes do Kid Abelha, todos eles de autoria de Paula Toller: letras com ou sem amor, tanto faz, mas com uma dose generosa de sensualidade. O que faz dela uma das cantoras e compositoras mais ousadas do pop rock brasileiro, alguém que soube andar no fio da navalha ao manter sua vida preservada dos holofotes enquanto estourava nas rádios com músicas como Derretendo Satélites (1998), primeiro single da carreira solo que é quase uma ode ao prazer sexual feminino: "Onde sua mão está agora?/ A minha você sabe bem/ Quanto mais tempo demora/ Mais violento vem".
— Derretendo Satélites é uma das composições mais interessantes da minha carreira. Uma letra erótica sem ser vulgar. Não sou de exibir minha vida pessoal na imprensa, mas na música tem tudo — confirma a cantora, em entrevista por e-mail.
São 40 anos de uma trajetória que legou ao pop rock nacional uma série de refrãos envolventes que cantam um tipo de amor nada pudico. Paula trará essas e outras músicas aos fãs que a assistirem neste sábado (6), no Auditório Araújo Vianna, a partir das 21h. Restam poucos ingressos, à venda no site Eventim. É o retorno da turnê Amorosa, que passou por Porto Alegre no ano passado, agora em consonância com o aniversário do disco de estreia do Kid Abelha, Seu Espião, lançado em 1984.
Em carreira solo desde 2016, quando encerrou a parceria com George Israel e Bruno Fortunato, Paula agora exibe outra banda de luxo nos shows de Amorosa. A cereja no bolo é Liminha, ex-baixista dos Mutantes e lendário produtor de gigantes da música brasileira, inclusive do próprio Kid Abelha na época em que ainda assinava como Kid Abelha e os Abóboras Selvagens. Além da direção musical das apresentações, ele assume o violão. Os demais parceiros são Gustavo Camardella (violão e vocal), Pedro Dias (baixo e vocal), Gê Fonseca (teclados e vocal) e Adal Fonseca (bateria).
— Quando lancei minha carreira solo, trabalhei com outros grandes produtores, como o Guto Graça Mello e o Paul Ralphes. Ganhei prêmios e reconhecimento. A retomada da relação com o Liminha veio bem mais tarde, quando ele voltou a morar no Brasil e nos tornamos parceiros de composições, como no disco Transbordada (2014). Dali em diante, nossa amizade se fortaleceu, e ele tem sido um fantástico diretor musical que adora estar na estrada comigo, tocando, o que dá a esse show um toque luxuoso. Um grande privilégio — diz a cantora.
Artista começou a estudar violão aos 58 anos
Batizado de Amorosa para exaltar a relação de afeto com o público ao longo de quatro décadas e como referência ao disco Amoroso (1977), de João Gilberto, que ela ouviu várias vezes na pandemia, o show presenteia os fãs com repertório repleto de canções que marcaram os anos 1980, 1990 e 2000, como Lágrimas e Chuva, Como Eu Quero e Nada Sei, entre outras. Também traz composições mais lado B e homenagens a cantores que fazem parte da identidade artística de Paula, como Rita Lee, em quem se inspirou para ser muito mais do que uma graciosa e irreverente cantora à frente de uma banda de homens, mas uma exímia hitmaker, como ela gosta de se definir.
— Eu nunca aceitei as barreiras, preferi seguir em frente, evoluir, aprender. Comecei a estudar violão com 58 anos! Eu quis ter voz na música e usei a minha voz e a minha inteligência para isso. Talvez seja essa a minha maior contribuição no sentido político, feminista. Quer fazer? Faça. Será difícil, mas vai valer a pena.
Aos 62 anos, Paula Toller já não vê mais graça em ficar comentando o fato de seguir bonita mesmo com o avanço da idade, constatação que mídia e público sempre gostaram de fazer.
— Francamente, acho esse questionamento bem chatinho. Tenho 40 anos de carreira de sucesso, sou produtora, fiz e gravei centenas de músicas e vídeos, sou letrista, fiz duas faculdades, falo cinco línguas. Tenho um pouco mais de assunto do que idade ou beleza.
Paula Toller em "Amorosa"
- Neste sábado (6), às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre.
- Ingressos a partir de R$ 200 no site Eventim.