Se você procurar a definição da palavra samba no dicionário, encontrará a seguinte informação: “dança de roda semelhante ao batuque, com dançarinos solistas e eventual presença da umbigada, difundida em todo o Brasil com variantes coreográficas e de acompanhamento instrumental”. Diogo Nogueira não discorda, mas é mais objetivo na resposta, definindo-o também como “sagrado”, palavra que dá título ao seu novo álbum.
As oito faixas que contemplam Sagrado falam sobre as heranças do cantor e as dos batuques ancestrais, que, saídos das praias africanas, se redefinem nos terreiros, esquinas, morros e calçadas do Brasil para celebrar a vida como experiência de alegria e liberdade.
Toda essa referência estará no palco do Araújo Vianna, hoje, às 21h, traduzida na voz do cantor carioca. O espetáculo, que comemora, além do lançamento de Sagrado, seus 15 anos da carreira, contará com as clássica Pé na Areia, Clareou e Alma Boemia.
No show, que promete ser diverso, haverá também uma homenagem a Arlindo Cruz. Ela começa com uma breve citação que, em seguida, é envolta pela imagem do artista projetada, fazendo uma fusão entre Arlindo tocando e Diogo cantando O Bem e O Meu Lugar.
Além de um set list recheado, o show conta com a participação do balé da Companhia de Dança Leandro Azevedo – dançarino, coreógrafo e tricampeão da Super Dança dos Famosos.
Já a banda é formada por 11 músicos: Rafael dos Anjos (violão), Henrique Garcia (cavaco), Julio Florindo (baixo), Paulo Bonfim (bateria), Rafael Delgado (banjo), Gabi D’Paula (coro), Alisson Maninho (percussão), Wilsinho Baltazar (percussão), J. Chiclete (percussão), Marechal (percussão) e Fabiano Segalote (trombone).
Nesta entrevista, Diogo fala sobre seu novo lançamento. Confira.
Como foi a sua entrada no meio artístico?
Eu nasci nele. Mas logo que eu tive a lesão no joelho (o cantor era jogador de futebol), eu passei a frequentar as rodas de samba. As pessoas sabiam que eu tinha uma voz parecida com a do meu pai (o cantor João Nogueira, 1941 – 2000) e passaram a me convidar para cantar. Eu, jovem, passei a cantar nesses lugares. A coisa foi evoluindo com sua naturalidade e, depois de três anos, eu tive que montar um show. Com o show montado, contratei uma banda própria, e passei a fazer algumas casas, como o Sesc, de São Paulo. Um dia, um presidente de uma extinta gravadora, que hoje faz parte da Universal, assistiu meu show e me contratou para gravar o meu primeiro DVD, que foi gravado no Teatro João Caetano, aqui no Rio de Janeiro, um teatro super reconhecido. Foi aí que minha carreira começou.
Quais foram as suas inspirações para esse novo álbum?
Minhas inspirações vieram da minha infância, de tudo que aconteceu durante o meu nascimento, as coisas que, na verdade, me trouxeram até aqui. Foram dois anos fazendo uma pesquisa para chegar no repertório definitivo do Sagrado. Além disso, fiz uma pesquisa com a Roberta Sena sobre o nome do álbum, o porquê do sagrado, sobre o que é sagrado para a gente. Todas as respostas estavam sempre relacionadas ao samba, às manifestações espirituais, ao candomblé, à umbanda, ao povo africano. Cada música que está ali tem esse toque de sagrado, tem essa coisa popular, do povo, do romântico à moda antiga, da família... Todos esses elementos são sagrados, não só pra mim como para as pessoas que admiram meu trabalho e me entendem como artista.
O álbum traz muitas referências à religião de matriz africana. Você acredita que o samba tem muita ligação com ela?
O samba nasceu no terreiro, do cativeiro. Quando eles faziam o samba, era uma forma de se manifestar espiritualmente. Através desses ritmos – dos batuques –, então, por isso, toda essa referência.
A última canção do seu álbum, Meu Samba Anda por Aí, traz a voz do seu pai. Qual a sensação de lançar uma música tendo esse encontro de vozes entre pai e filho?
Foi maravilhoso, porque essa é uma música inédita do meu pai e a forma que ela chegou até mim foi o grande barato da história. Essa música foi a primeira a ser escolhida. Ela chegou através de um áudio de WhatsApp e eu estava exatamente em uma reunião de escolha de sambas para o álbum. Assim que ela chegou, foi um momento muito emocionante. Essa música representa muito pra mim, até porque é justamente o encontro do passado com o presente, que é muito do que eu quis trazer nesse álbum.
Como foi feita a gravação da parte em que seu pai canta?
Essa música é de 1972, segundo a pesquisa que eu fiz. Eu fui atrás do filho do compositor que fez a parceria com o meu pai – a música é de João Nogueira e Paulo Valdez – para descobrir. É um áudio provavelmente gravado com um gravador daqueles que se aperta o play e tem fita, porque era a única forma de gravar uma música. Ele (o áudio) chegou até mim através do João Martins, que é um grande compositor do Rio de Janeiro.
Como foi feita a capa do álbum?
Foi feita por inteligência artificial, por Emílio Rangel. Passei todos os elementos que eram sagrados para mim, para ele (Emílio). Então tem a casa, onde aparece a janela em que eu acordava e via meu pai compor e fazer música, tem o violão, tem a mangueira onde eu brincava na casa da minha avó, as bolas de gude, tem a pipa. Tem até uma roda de samba, com uma foto embaçada do meu pai. Então, eu coloquei pra ele todos esses elementos que são sagrados e ele conseguiu montar esse quadro lindíssimo que eu sou apaixonado.
O Diogo da capa do álbum imaginaria chegar até onde você chegou hoje?
Não, eu queria jogar bola. Eu queria ser criança, inclusive acho que falta isso hoje.
O que é o samba pra você?
O samba é minha vida. Se eu estou aqui é porque o samba fez com que eu chegasse até aqui. E também, porque, na verdade, a minha família é toda de sambistas. Meu avô, pai do meu pai, tocava violão e tocou com Pixinguinha, Donga, com vários artistas, àqueles que construíram a história do samba aqui no Rio de Janeiro. Se eu sou alguém hoje, é porque o samba fez isso.
Tendo em vista que já morou no Rio Grande do Sul, qual a sua maior memória afetiva do Estado?
O acolhimento dos familiares que eu tenho aí. Minha irmã, Valéria, mora no Rio Grande do Sul, é casada com um gaúcho, Ricardo, e a família dele me abraçou de uma forma lindíssima. Todas as pessoas que eu conheci em Porto Alegre foram pessoas supercuidadosas e carinhosas comigo durante o período que eu morei aí, e até hoje. O povo gaúcho sempre foi muito acolhedor comigo.
O que o público gaúcho pode esperar do show que você fará hoje?
Muito samba, do início ao fim, muita dança, pois estou levando um corpo de balé que trabalha com o Leandro Azevedo, muita paz e amor… Pode ter certeza.