Cantar o presente e celebrar o passado. Vanessa da Mata volta a Porto Alegre para um show com essas duas finalidades. Ela sobe ao palco do Auditório Araújo Vianna neste sábado (3), às 21h, trazendo a turnê Vem Doce — título de seu sétimo álbum de inéditas. É, portanto, uma noite para a cantora apresentar suas novas canções.
Mas também é uma turnê para Vanessa comemorar duas décadas de carreira. Em 2022, o primeiro disco de estúdio, que leva seu nome, completou 20 anos. Embora a mato-grossense (natural de Alto Garças) já atuasse como cantora e compositora desde a década de 1990, foi com seu álbum de estreia que ela ganhou visibilidade pelo Brasil. Então, a artista de 47 anos conta sua história no show, repassando canções marcantes de seu repertório — casos de Não Me Deixe Só, Ai Ai Ai, Ainda Bem, Amado, Boa Sorte/Good Luck, entre outras.
Os hits de Vanessa são reimaginados para o contexto criativo do projeto Vem Doce. Com direção de Jorge Farjalla, conhecido por ser detalhista em espetáculos teatrais, o show é dividido em três atos. Em cada parte, um cenário diferente se estabelece no palco, contendo inspiração em nomes do modernismo brasileiro — como Oswald de Andrade, Lina Bo Bardi e Hélio Eichbauer.
No quesito novidades, Vanessa deve promover uma amostra de Vem Doce. Lançado em março — uma versão deluxe saiu em maio, acrescentando a faixa Se Eva Soubesse —, o álbum perpassa ritmos como baião, samba-rock, R&B, pop, trap e reggae. Contudo, ela lembra que essa diversidade sonora a rodeia desde a infância, no interior do Mato Grosso. A fartura musical vinha tanto de seus familiares, como tios que eram caminhoneiros e traziam novidades da Amazônia, quanto dos gêneros que tocavam em sua região — o que inclui também uma pitada de Rio Grande do Sul.
— Eu frequentei CTG quando criança — diz Vanessa. — Ao mesmo tempo, minha avó nordestina me trouxe uma elaboração musical muito sofisticada, de Cartola a Luiz Gonzaga, de Nelson Gonçalves a Francisco Alves. Músicas românticas italianas e brasileiras eram muito presentes também.
Segundo Vanessa, Vem Doce foi um dos discos mais tranquilos que já fez. Ela reconhece até ter sentido uma angústia ao conceber cada música, além de se descrever como a maior "pressionadora" de seu próprio trabalho, mas foi um álbum em que ela sentiu maior segurança como produtora.
— Consegui sintetizar o máximo possível no disco, tendo ideias de arranjos e timbres a serem usados, o que me fez me apropriar mais do meu trabalho. Então, foi muito mais fácil de elaborá-lo — garante.
De 14 faixas, incluindo a bônus do deluxe, apenas Comentário a Respeito de John não tem a mão de Vanessa na composição (seja na letra ou na melodia) — nesse cover de Belchior, ela conta com a participação de João Gomes, sensação do piseiro. Falando em parcerias, Vanessa faz duetos com o rapper L7nnon (Fique Aqui) e o cantor de MPB Phill Veras (Bem-vindo ao Lar), além de contar com colaborações de nomes como Marcelo Camelo, Papatinho, Dom Lucas, Ana Carolina e Ilan Adar na construção das faixas.
Entre as canções de Vem Doce, é possível perceber relatos de situações cotidianas e identificáveis, como Amiga Fofoqueira ("Ela sabe dos amantes e de todos os podres/ Deveria ser escritora, mas ama um açougue") e Vizinha Enjoada ("Dona Maria/ se é de dia ou de noite / Deus perdoe Nosso Senhor/ se eu chego ou nem estou/ ela reclama do passo que dou"). Mas há outras histórias, como Gêmeos, que fala sobre irmãos criados por "um pai sem amor". Assim como há a suingada e dengosa faixa-título Vem Doce. Para Vanessa, o álbum é uma crônica do Brasil profundo e urbano.
— É um encontro comigo mesma, da minha infância até o presente. Me sinto uma contadora de histórias, uma cronista brasileira que musica essas crônicas — atesta.
Vanessa da Matta em "Vem Doce"
- Neste sábado (5), às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Parque Farroupilha, 685), em Porto Alegre. Abertura da casa: 19h30
- Ingressos a partir de R$ 110 (mediante a doação de 1kg de alimento não perecível). Ponto de venda com taxa: pelo site da Sympla. Ponto de venda sem taxa: Loja Planeta Surf Bourbon Wallig (Av. Assis Brasil, 2.611), das 10h às 22h, somente em dinheiro; e bilheteria do Araújo, que abre duas horas antes do show.
- Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e acompanhante.