Harry Belafonte, defensor dos direitos dos negros e responsável por introduzir os ritmos caribenhos na música americana, morreu nesta terça-feira (25), aos 96 anos, em Manhattan, Nova York. A causa da morte foi insuficiência cardíaca congestiva, disse seu porta-voz ao New York Times.
Nascido em 1927 no Harlem, filho de mãe jamaicana e pai francês da ilha de Martinica, o ator e cantor de calipso passou a maior parte de sua infância na Jamaica antes de retornar a Nova York. Essa mistura de culturas que influenciou música e sua luta pela igualdade racial.
O calipso, um gênero de música caribenha baseado nas influências da África Ocidental e da França, trouxe-o à proeminência em meio à prosperidade e ao crescimento das cidades após a Segunda Guerra Mundial.
Seu terceiro álbum, intitulado Calypso, de 1956, tornou-se o primeiro LP a vender mais de um milhão de cópias nos Estados Unidos. O álbum incluiu o que se tornou a canção de assinatura de Belafonte, Day-O (The Banana Boat Song), baseada em uma música folclórica jamaicana.
Na canção, Belafonte canta com sotaque caribenho: "Pilha banana até a manhã chegar / A luz do dia chega e queremos ir para casa". Na época, Belafonte zombou das sugestões de que a música era simplesmente uma música de dança, chamando-a de uma rebelião dos trabalhadores que exigiam salários justos.
Mesmo no início da carreira, Belafonte não evitou polêmicas. Em 1957, estrelou o filme Ilha ao Sol, no qual interpretou um político negro em uma ilha fictícia que tem um caso amoroso com uma mulher.
Em 1954, ele se tornou a primeira pessoa negra a ganhar um prêmio Tony, por seu papel no musical da Broadway Almanaque do John Murray Anderson. Seis anos depois, ele foi o primeiro negro a ganhar um prêmio Emmy por Tonight with Belafonte, seu programa de música na televisão. Belafonte também possui três prêmios Grammy.
Luta
A música e os filmes desempenharam um papel secundário no ativismo de Harry Belafonte. À medida que o movimento pelos direitos civis ganhou força, ele assumiu um papel pioneiro que foi além do simples apoio moral — tornou-se um confidente de Martin Luther King e contribuiu com seu próprio dinheiro para apoiar a causa.
— Quando as pessoas pensam em ativismo, sempre pensam que há algum sacrifício envolvido, mas sempre considerei isso um privilégio e uma oportunidade — disse ele em um discurso de 2004 na Universidade Emory.
Belafonte convidou Luther King e o pastor de Birmingham, Alabama, Fred Shuttlesworth, ao seu apartamento em Nova York para planejar a campanha de 1963, a fim de integrar esta cidade notoriamente racista do sul. Quando King foi preso em Birmingham, Belafonte levantou US$ 50 mil (cerca de US$ 400 mil em valor atual, ou aproximadamente R$ 2 milhões) para salvá-lo, numa época em que a ascensão da música pop trouxe riqueza e estilos de vida luxuosos para muitos artistas.
— A popularidade mundial e o compromisso de Belafonte com nossa causa é um ingrediente chave na luta global pela liberdade e uma poderosa arma tática no movimento dos direitos civis aqui nos Estados Unidos — disse King, sobre o músico.
Apesar de suas críticas às políticas americanas, Belafonte afirmou que os Estados Unidos "oferecem um sonho que não pode ser realizado tão facilmente em nenhum outro lugar do mundo", mas só é alcançável por meio da "luta".
Após sua eleição para a presidência, John F. Kennedy nomeou Belafonte para o comitê de assessoria do recém-criado Corpo da Paz, com o qual o jovem presidente esperava que os Estados Unidos mostrassem seu poder por meios não militares. Mas enquanto muitos no Corpo da Paz esperavam "mostrar como somos bonitos como povo", Belafonte esperava expor os jovens americanos às lutas do mundo em desenvolvimento.
O ativista passou cada vez mais tempo na África — especialmente no Quênia — e se tornou um dos artistas americanos mais importantes na luta contra o apartheid na África do Sul. Seu álbum Paradise in Gazankulu, lançado em 1988, falava da opressão dos negros sul-africanos e foi parcialmente gravado em Joanesburgo com artistas locais. Belafonte também começou o supergrupo USA for Africa, cuja música We Are The World arrecadou U$ 1,985 bilhão (R$ 392,3 bilhões) para as vítimas da fome na Etiópia.