Foi um caso de arte como refúgio. Ou como ferramenta de desabafo. Entre questões íntimas e políticas, o disco Sobre Viver foi lançado em maio, emoldurando o turbilhão de emoções que Criolo atravessou nos últimos anos. É a turnê desse álbum que o cantor traz a Porto Alegre neste sábado (23). O show será no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), às 21h.
Sobre Viver é o primeiro álbum de Criolo em cinco anos, desde Espiral de Ilusão, que era baseado no samba. Também é seu primeiro disco com ênfase no rap em oito anos — o último tinha sido Convoque Seu Buda.
— Veio tudo naturalmente. O sentimento se criou, e o rap renasceu — relata Criolo. — Pensei que não ia mais fazer novos discos e novas canções. Quando apareceu em música o tanto de emoção que estava presa no peito, senti que ainda tinha que tentar mais uma vez, e assim nasceu o disco.
Em sua concepção, o álbum foi atravessado pelo luto. Criolo perdeu a irmã em 2021, vítima de covid-19. Em setembro do ano passado, ele deu uma amostra do que viria em Sobre Viver com o single Cleane, nome de sua irmã falecida. Embora não tenha entrado no disco, aqui o cantor apresenta um rap carregado na denúncia e no desespero. No álbum, Criolo fala de irmã na emocional Pequenina, em que rememora fragmentos da história de sua família.
A perda de Cleane inspirou o título e o conceito de Sobre Viver, como explica o cantor:
— Perdi minha irmã e já vinha de um tempo sem escrever nada. Lembrei que desde pequeno a gente lá em casa nunca pôde viver de verdade, a gente só sobrevivia ao outro dia, e vem disso também o nome do disco, com tudo que já passamos de ruim, e isso marca tanto. Por agora, toda essa dor coletiva se amplifica numa pandemia que teve uma condução de resolução complemente desastrosa.
A primeira faixa de Sobre Viver pode ser pensada como sua conclusão: Diário do Kaos abre o disco falando sobre como a música e o amor podem transformar vidas. Ao longo do álbum, denúncia se faz presente em faixas como a autoexplicativa Quem Planta Amor Aqui Vai Morrer e, especialmente, Sétimo Templário — em que Criolo mira mazelas do Brasil atual: milícia, genocídio, desmatamento na Amazônia, entre outros temas urgentes ao país. É uma moldura da indignação também.
— Todo jovem que propõe mudança é perseguido, toda pessoa que bota a cara para lutar contra as desigualdades é assassinada. Se vai mudar? Espero que sim, mas, por ora, é só ver para além do noticiário, que já tem apresentado uma fração desse abandono — reflete.
Em Ogum Ogum, Criolo versa "Intolerância religiosa, ignorância maliciosa", em faixa que conta com a participação da cantora cabo-verdiana Mayra Andrade. Aliás, engrossam a lista de parcerias do disco nomes mais contemporâneos da música brasileira, como MC Hariel e Liniker, mas também com espaço para o consagrado Milton Nascimento.
O cantor divide com Bituca a melancólica Me Corte na Boca do Céu a Morte Não Pede Perdão, que fala sobre solidão no Carnaval. Sobre a realização dessa parceria, Criolo assinala:
— Desafio, desafio, desafio e... desafio. Escorrer emoção, coração na sola do pé, nas orelhas e na garganta. Tudo que tem essa letra e bênção do mestre Milton é algo que ainda não percebi ser verdade. Amado Milton Nascimento, mestre, amigo, luz nossa. Presente dos céus, voz do mundo, fé e amor do universo num único ser.
Criolo — "Sobre Viver"
- Neste sábado (23), às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685). Abertura da casa: 19h. Classificação: 18 anos.
- Ingressos: R$ 140 (inteiro) ou R$ 75 (solidário).
- Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e um acompanhante.
- Pontos de venda sem taxa (somente em dinheiro): loja Planeta Surf do Bourbon Wallig (Av. Assis Brasil, 2.611, loja 249 ), das 10h às 22h, e bilheteria do Araújo Vianna (aberta somente no dia do evento, duas horas antes do início do show).
- Ponto de venda com taxa: pelo site da Sympla.