Maria Luiza Fontoura sempre foi samba. Sempre com amor. Quase de forma literal a esses dois fatos, a cantora porto-alegrense integra o duo Samba e Amor, que forma com Lucas de Azevedo, que trabalha com o ritmo e a MPB. Só que, a partir da pandemia, cresceu seu sentimento por outro estilo — ela se descobriu pagodeira. O resultado dessa reinvenção musical pode ser conferido em Pagode da Malu, que teve o primeiro bloco lançado em 31 de janeiro.
O álbum traz um show ao vivo de MariaLuiza (assinatura de seu nome artístico) gravado no Bar Patrimônio, na zona norte de Porto Alegre. O primeiro bloco conta com interpretações de Eu Mereço Ser Feliz, de Mumuzinho; Manda Áudio, sucesso nas versões dos grupos Di Propósito e Menos é Mais; Nem de Graça, do Pixote; e A Gente Já Não Rola, da Turma do Pagode. As faixas foram lançadas juntas em um pot-pourri nas plataformas digitais, além de um vídeo contendo essa apresentação no YouTube. Cada música também ganhou sua divulgação em clipe separado, com exceção de A Gente Já Não Rola.
O segundo bloco do Pagode da Malu está previsto para março, contando com as faixas Melhor Eu Ir (Péricles), Ligando Os Fatos (Pique Novo) e Sonho de Amor (Nosso Sentimento), além da participação do grupo feminino de pagode Samba Delas. Um terceiro também será lançado, mas ainda sem data definida.
— São músicas que transmitem a alegria do pagode e a luta do brasileiro. Como a gente precisa seguir tendo esperança de dias melhores, então eu trouxe bastante disso no repertório. Também tem bastante amor, além de clássicos para a galera cantar junto e vir abaixo — descreve a cantora de 27 anos.
Pouco antes da pandemia, MariaLuiza havia se mudado para São Paulo, visando a divulgação do Samba e Amor. No entanto, o mundo paralisou naquele março de 2020, e, logo, ela voltou para Porto Alegre. Em solo gaúcho e na quarentena, a cantora voltou a se reconectar com o cavaquinho. Passou a publicar vídeos tocando e cantando nas redes sociais, tendo um bom retorno do público. No começo, Malu focava no samba de raiz e MPB, mas também começou a se aventurar no pagode. O feedback foi positivo. Seu namorado, Miguel Luz, que filma e edita os vídeos da cantora, a aconselhou a investir no gênero.
— Me senti em casa cantando pagode. O público me abraçou muito. Tem sido incrível essa interação — afirma MariaLuiza.
No gênero, a artista percebeu que há poucas mulheres atuando. Até cita exemplos como a cantora Marvvila, o grupo catarinense Entre Elas, e as gaúchas do Samba Delas. Vale lembrar também Ludmilla, com seu projeto Numanice. Mas Malu reconhece que ainda se trata de um ambiente majoritariamente masculino.
— Enxerguei um espaço para me colocar. Acho que está faltando mulher nos palcos da vida. Não só nos palcos da música: na direção de projetos, puxando a frente de ideias. Então, estou muito motivada não só pelo estilo, mas também por conta desse movimento de empoderamento — diz.
Para o longo de 2022, sua ideia é seguir lançando mais músicas, autorais ou de outros compositores, além de vídeos. Até hoje, MariaLuiza lançou sete composições próprias, algumas com Samba e Amor e outras em performance solo. Porém, o pagode é um terreno que ainda está tateando.
— Não quero começar a escrever antes de entender bem o que é ouvido. Acho que o artista tem que ter um tempo de maturação, compreendendo como construir e somar, não apenas sair botando coisa na rua. Recém estou chegando — explica.
Outro plano da cantora é sair dos bares e consolidar sua própria festa, contando com outros grupos e DJs. Assim, a edição festiva do Pagode da Malu terá sua estreia no dia 17 de março, no Sava Iate Clube, em Porto Alegre. Mais informações sobre ingressos podem ser vistas no Instagram @marialuizacantora.
— Quero construir o Pagode da Malu como realidade no Rio Grande do Sul. Acho que ainda falta essa representatividade aqui no Estado — atesta.
Com a benção da madrinha
A primeira lembrança de MariaLuiza como cantora data de seus cinco anos. Ela estava em casa com sua mãe, quando viu Elis Regina cantar Fascinação na TV.
— Aquilo me tocou de uma hora que olhei pra trás e falei: mãe, eu vou ser cantora! Isso me marcou. No fim, não é só um sonho de criança, mas de adulto também — recorda.
MariaLuiza costumava cantar dos cinco aos nove para a família ou em viagens. Porém, sua mãe faleceu e, em seu processo de luto, guardou sua voz para si. Anos mais tarde, Malu chamava a atenção dos colegas sempre que cantarolava. Passou a ser convidada para bandas.
Aos 18, quando cursava a faculdade de publicidade e propaganda, uma amiga a questionou porque ela só cantava como hobby, nos churrascos ou festas entre amigos. A partir dessa indagação, MariaLuiza virou a chave e decidiu que aquele seria seu objetivo. Terminou a faculdade, mas nunca trabalhou na área.
Além do projeto Samba e Amor, Malu cantou no Exterior — Portugal e Uruguai —, apresentou-se no Planeta Atlântida (em 2016, com seu grupo; e em 2017, com Good Samaritans) e participou do The Voice Brasil, em 2019, sendo selecionada para o time de Ivete Sangalo. A partir daí, dividiu o palco com nomes de projeção nacional, como Michel Teló e Gabriel O Pensador.
Porém, MariaLuiza lembra que um dos momentos mais marcantes de sua trajetória foi conhecer Beth Carvalho, em 2017, a madrinha do samba. Durante uma ida ao Rio de Janeiro, ela foi parar numa festa de aniversário em que Beth também estava presente. Malu cantou Bolero de Satã, que fez sucesso na voz de Elis Regina. Nervosa, a cantora fingiu que a madrinha não estava ali, tentou pensar que estava cantando sozinha. Depois da performance, Beth pediu para falar com ela:
— Beth disse para mim que nunca tinha ouvido cantarem essa música como tinha cantado. Pô, a Elis cantou e ela veio falar isso pra mim (risos). Ela me incentivou, dizendo “segue, que a música está em ti”. Para mim, já deu tudo certo.