Considerado um dos grandes marcos do heavy metal, o disco homônimo Metallica, conhecido como Black Album — em alusão ao White Album, dos Beatles — foi lançado há exatamente 30 anos. O projeto marcou um dos maiores momentos da banda, tendo sido ganhador do Grammy e de 16 discos de platina. Para celebrar a data, o grupo lançará no dia 10 de setembro uma versão remasterizada da obra, além da The Metallica Blacklist, com releituras de 53 artistas de diferentes vertentes musicais — várias faixas já podem ser ouvidas em uma playlist do Metallica nas plataformas digitais.
Confira, abaixo, curiosidades sobre aquele que se tornou um dos álbuns mais vendidos do metal.
Fãs entediados?
O Black Album veio na esteira de uma curiosa percepção. Em entrevista à revista Rolling Stone em 1991, o guitarrista Kirk Hammett contou que foi devido à reação da plateia — e ao de fato de que a própria banda também estava cansada dos arranjos complexos — que o grupo começou a apostar em músicas menores. A faixa mais longa do disco homônimo tem cerca de sete minutos, enquanto na obra anterior, ...And Justice For All, a faixa To Live Is To Die tem quase 10 minutos.
Bob Rock e "Dr. Feelgood"
Apesar de controversa, a decisão da banda de contratar o produtor Bob Rock acabou dando certo. À época, ele havia trabalhado com bandas como Bon Jovi, Kingdom Come, Loverboy, The Cult e, principalmente, Mötley Crue — grupos que estavam longe da sonoridade do Metallica. Os integrantes do grupo, contudo, foram convencidos pelo sucesso que as obras envolvendo o nome do produtor estavam tendo.
— Sentimos que era hora de fazer um álbum com um grande e gordo low-end — disse o baterista Lars Ulrich ao escritor Mick Wall. — E o álbum com melhor som como aquele nos últimos anos foi Dr. Feelgood (do Mötley Crue). Então dissemos ao nosso empresário: "Ligue para esse cara e veja se ele quer mixar o álbum".
Três divórcios
A atmosfera sombria do disco não foi, necessariamente, fruto de um planejamento musical. À época da produção, Lars Ulrich, o guitarrista Kirk Hammet e o baixista Jason Newsted estavam passando por processos de divórcios.
— Eu estava tentando pegar esses sentimentos de culpa e fracasso e canalizá-los para a música, para tirar algo positivo disso. Jason e Lars também, e acho que isso tem muito a ver com o motivo do Black Album soar daquela maneira — contou Hammet à Playboy em 2001.
"Enter Sandman"
Uma das faixas que mais bem representam o conceito geral do álbum, Enter Sandman foi a primeira a ser escrita para o disco, processo que levou cerca de dois dias. Sendo assim, foi ela também que marcou a nova direção da banda em termos de complexidade dos arranjos: todo o instrumental é baseado no riff principal. Apesar disso, foi a última a receber uma letra.
— O lado de 10 minutos progressivo (...) do Metallica tinha seguido seu curso após …And Justice For All. Queríamos simplificar as coisas — afirmou Lars Ulrich em 2014.
Morte súbita
Enter Sandman tratava literalmente de um bebê que morria misteriosamente em seu berço. O vocalista e guitarrista James Hetfield, contudo, acabou escutando a opinião do produtor do álbum, Bob Rock, e deixou a música mais amena.
— Eu disse a ele: "O que você tem é ótimo, mas pode ser melhor. Tem que ser tão literal?". Não que eu estivesse pensando no single, só queria que ele tornasse a música ótima. Foi um processo, ele aprendeu a dizer o que queria, mas de uma forma mais poética e aberta — lembrou Rock em 2011.
"Nothing Else Matters" preocupou James Hetfield
Três de agosto de 1991. O Metallica decidiu apresentar seu novo álbum no Madison Square Garden e, exceto por Enter Sandman, esta era a primeira vez que os fãs iriam escutar as músicas do disco. Hoje consagrada como uma das mais populares faixas do álbum, Nothing Else Matters era a grande preocupação de James Hetfield naquele momento.
— Eu estava apenas esperando que Nothing Else Matters entrasse para ver se as pessoas iriam se olhar e vomitar. Estava me perguntando o quanto de pressão as pessoas iriam se colocar umas nas outras, dizendo: "Você gosta disso?" "Não sei, você gosta?". Mas as pessoas gostaram muito, o que foi incrível — afirmou Hetfield ao autor de Metallica Unbound, K.J Doughton, em 1992.
Vocais inspirados em Chris Isaak
Wicked Game, de Chris Isaak, foi um dos grandes hits dos anos 1990 e 1991 e até hoje inspira covers ao redor do mundo. Hetfield não ficou imune ao sucesso e pediu a Bob Rock que o ajudasse a emular a técnica vocal de Isaak na hora de cantar os títulos mais lentos do Black Album — The Unforgiven e Nothing Else Matters.
Afinação mais baixa e gravação ao vivo
Apesar da crescente tendência das bandas de rock migrarem para um som mais pesado utilizando diferentes afinações nos instrumentos, o Metallica só foi implantar o método definitivamente no Black Album. Na obra, eles utilizaram a afinação em mi — que é a regular — em 10 das 12 faixas, mas acabaram na mixagem decidindo usar ré para Sad But True e mi bemol para The God That Failed.
Também foi a primeira vez que o Metallica gravou as músicas "ao vivo". Conforme Hetfield disse à Guitar World em 1991, antigamente o ritmo das faixas era construído sem Hammett e Newsted, mas dessa vez queriam tentar tocar realmente como uma banda no estúdio.
— Todos estavam na mesma sala e podíamos nos observar. Isso ajudou muito, especialmente com algumas coisas do baixo e do solo. Também ajudou o fato de termos tocado a maioria das músicas por dois meses, mesmo antes de entrarmos no estúdio — contou ele.
Billboard
Apesar das inseguranças da banda em relação ao novo caminho tomado, Metallica é, definitivamente, o maior sucesso da banda. Em dezembro de 2019, a obra tornou-se o quarto álbum da história norte-americana a ficar mais de 550 semanas — mais de 10 anos e meio — na parada da Billboard 200.
Bônus: remasterização e reinterpretação
Em comemoração, o grupo musical vai lançar no dia 10 de setembro uma versão remasterizada de Metallica. Além da promessa de trazer as faixas — entre elas, clássicos como The Unforgiven, Enter Sandman e Sad But True — em uma qualidade ainda melhor do que a original, a edição estará disponível em vários formatos para agradar os mais diversos tipos de fãs.
Será possível adquirir o álbum na versão LP duplo de vinil 180 gramas e em CD padrão. Trazendo a nostalgia de volta, Metallica também ficou disponível em fita-cassete, mas teve todas suas unidades vendidas. Também é possível comprar o disco triplo, que conta com músicas ao vivo, demos e mixagens cruas como conteúdos extras. Por fim, há o box deluxe, de edição limitada, contendo: álbum remasterizado em CD e LP duplo de 180 gramas, três LPs ao vivo, 14 CDs (show ao vivo, entrevistas, demos, mixagens cruas) e seis DVDs (bastidores, vídeos oficiais, shows ao vivo), quatro laminados de turnê, três palhetas de guitarra, pasta com músicas com letras, cartão de download de MP3 dos áudios e um livro de capa dura de 120 páginas com fotos inéditas .
Além disso, há outro projeto. Ao trazer 53 artistas dos mais diferentes nichos musicais, The Metallica Blacklist pode ser considerada um dos projetos mais ambiciosos envolvendo a banda. O tracklist envolve desde nomes como Juanes, Rina Sawayama e Corey Taylor até mesmo Miley Cyrus, que gravou Nothing Else Matters com Andrew Watt, Elton John, Yo-Yo Ma, Robert Trujillo e Chad Smith.