Uma insegurança política em que as partes não se entendem. Esta é a frase que Rodrigo Machado, sócio-diretor da Opinião Produtora, que administra o bar Opinião, o Pepsi On Stage e a agenda do Araújo Vianna, usou para definir o novo decreto estadual, publicado na noite desta segunda-feira (30). Segundo a decisão, regiões com bandeira vermelha devem fechar cinemas, teatros e casas de shows a partir desta terça-feira (1º).
No entanto, Machado frisa que as apresentações no Araújo Vianna marcadas para dezembro seguem confirmadas. Na agenda, por exemplo, estão shows de Marcelo D2, neste sábado, e de Armandinho, no dia 12. Para poder realizar as atividades, o empresário precisou obter uma autorização junto à prefeitura - já que pode utilizar o espaço com 30% de sua capacidade, ou seja, 1.258 pessoas sentadas. Desta forma, tem a liberação para realizar eventos no local.
— O que vale é a nossa autorização, até que ela seja cassada e publicada no Diário Oficial de Porto Alegre. Se for fazer show, o Estado não pode fechar. Só tem que ficar claro é que não estamos nos entendendo, há uma insegurança política de todas as partes. Se vão brigar na Justiça, acionar o Ministério Público, aí o município é quem tem que se entender com o Estado — reforça Machado.
O empresário também considera que o decreto estadual não é claro. No texto, os eventos são vedados em locais fechados e liberados em abertos. Sendo assim, Machado aponta que o Araújo Vianna realiza os shows com as portas abertas, para que ocorra a ventilação cruzada.
— O que não pode funcionar é cinema, local fechado. Se fossem liberados somente eventos ao ar livre, aí seria outra coisa, mas não é o determinado no decreto. A gente pode estar aberto sim — avalia Machado.
Procurada pela reportagem de GZH, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Porto Alegre informou que o Araújo Vianna segue com a liberação, mas que uma nova reunião do Comitê Temporário de Enfrentamento ao Coronavírus da cidade ocorre nesta quarta-feira (2), podendo ou não haver alterações diante do decreto estadual.
Manifesto
Após a publicação do decreto, o Grupo Live Marketing, do qual Machado é um dos sócios, publicou um manifesto sobre a nova decisão do Estado. O texto reforça que o setor de eventos culturais está cansado de ser tratado como "vilão". "Não tivemos nenhum caso de contaminação. No entanto, as ruas e outros espaços permanecem fazendo o ilegal com total liberdade e sem fiscalização. E os eventos profissionais? A eles, o rigoroso olhar da lei dos decretos do governo estadual", questiona o manifesto.
"Viramos o bode expiatório das gestões públicas que, na briga de quem tem mais poder, insistem em nos tratar com total desrespeito e nos colocar no palco de vilões. Somos marionetes e exemplos para a sociedade que, por sua vez, acaba também nos condenando, por aquilo que não fizemos. Pois quando realizamos, garantimos a segurança de nossos públicos", complementa o texto do Grupo LiveMKT.
A disputa entre os poderes é um dos aspectos que norteia o manifesto. "Por um Estado de Direito de verdade, por garantias de continuidade de nossas atividades e a manutenção de milhares de empregos do setor no Rio Grande do Sul, exigimos o nosso trabalho de volta. De fato", finaliza a nota.
— A prefeitura tem outro entendimento da evolução da pandemia, está incoerente o que está acontecendo. Por que não vão fiscalizar a (Avenida) Nova York , o (bairro) Moinhos de Vento, o Bom Fim, e vindo com esse papo de controle de novo? — questiona o empresário.
Outros espaços culturais da cidade não chegaram a divulgar agendas específicas de retomada. No caso do Theatro São Pedro, por exemplo, os administradores do espaço estudavam protocolos e planejavam a realização de espetáculos-teste para promover a reabertura, o que segue sem previsão.
Drive-in
O formato drive-in, por ser em local aberto, é um dos que segue liberado com 50% da capacidade em bandeira vermelha e 75% em bandeira laranja. No decreto, porém, foi vedada a abertura de portas e a circulação externa aos automóveis - alguns drive-ins ofereciam a possibilidade de camarote externo aos espectadores. A circulação na área externa é liberada somente para uso dos sanitários, com utilização de máscara e fila com distanciamento demarcado.
Na Capital, o Drive-in Air Festival, que opera em frente ao Aeroporto Salgado Filho, segue em atividade. Procurada pela reportagem de GZH, a assessoria do espaço informou que a administração está se informando com a prefeitura e o setor jurídico sobre as mudanças. Um posicionamento final seria divulgado até o fim desta terça.