Neste ano atípico para o mercado musical, artistas e público passaram por diversas fases: gravações em casa, lives, apresentações em drive-in e, agora, depois de oito meses, a progressiva volta dos shows diante da plateia, com as restrições e os cuidados exigidos. A banda gaúcha Nenhum de Nós ilustra bem esse período de adaptações forçadas pelas circunstâncias. No sábado (14), o grupo fará sua segunda performance em drive-in. No fim do mês, tem três shows marcados em São Paulo, encarando outra vez os fãs no formato presencial.
A apresentação deste final de semana, no POA Drive-in Show, retoma a turnê Paz e Amor, iniciada em junho do ano passado e interrompida em março pela pandemia. No espetáculo, o Nenhum de Nós faz um passeio por seus mais de 30 anos de carreira celebrando dois álbuns: Paz e Amor (1998) e a sua versão ao vivo, Paz e Amor Acústico (2009).
Mas, antes de subir ao palco, o grupo lança nesta sexta-feira (13) nas plataformas digitais um novo disco, Feito em Casa, gravado em meio ao isolamento social. O trabalho traz entre as oito faixas Você Vai Lembrar de Mim, Julho de 83, Foi Amor, esta com participação de Roberta Campos, e duas releituras: Tudo Novo de Novo, de Paulinho Moska, e Duas Metades, hit da dupla sertaneja Jorge & Mateus.
Thedy Corrêa, vocalista do Nenhum de Nós, diz que o show de sábado necessitou de um olhar diferente para preparar o roteiro:
— Tem pessoas que estão precisando se reconciliar com aquele momento de ir a um show, daquela hora de botar pra fora, de cantar, daquela catarse. Sabemos que algumas pessoas estão vindo de longe, de Santa Catarina, por exemplo, por uma necessidade de colocar em dia sua saúde emocional. Será um show leve, descompromissado, para agradar a quem é fã do Nenhum.
Sobre o formato dos shows em drive-in ou com públicos reduzidos a um terço da capacidade dos locais, Thedy rejeita o rótulo “novo normal” que se popularizou na pandemia:
— Claro que estamos superanimados para esse show no drive-in, mas a gente sabe que a pandemia ainda está muito presente. Vejo muita gente dizendo que ela já foi, mas acredito que as pessoas precisam dar uma respirada, é compreensível. Mas a pandemia está viva.
Diálogo
Sobre os três shows no final do mês em São Paulo, já no formato presencial, em um teatro com capacidade reduzida, Thedy comenta:
— A gente não pode pensar que teremos esse novo normal, é um pouco simplista. Penso que vai ser um novo momento viável e teremos que nos acostumar. Veremos como será viável voltar a fazer um show, da maneira mais prudente. Mas não da maneira normal.
Sobre o sentimento de lançar um disco neste momento, o músico destaca:
— É quase como diz a frase aquela, “a ocasião faz o ladrão”, né? Tínhamos essa ideia de ver como as coisas iam se comportar, com esse método de gravação, do lance de fazer um disco todo com cada um em sua casa. Quando começamos a fazer, achamos que valia a pena registrar tudo que tínhamos feito. Alguém pode dizer que a gente já gravou algumas dessas músicas várias vezes, mas um ouvido atento vai perceber que essas versões estão diferentes.
Thedy explica como surgiu a ideia de gravar a canção de Jorge & Mateus:
— Nas últimas vezes em que estivemos no (programa) Altas Horas, dividimos o palco com eles. Depois disso, nos aproximamos. Na última vez em que o Nenhum tocou em Goiânia, me encontrei com o Mateus e fomos conversar. A gente sempre teve o princípio de fazer isso, quebrar algumas correntes. No disco Pequeno Universo (2005), por exemplo, gravamos um samba do Jorge Aragão (Eu e Você Sempre), mas com a nossa cara. Gravamos músicas regionais gaúchas com a nossa característica. Por trás dessa gravação, tem a ideia de que música pode ser uma ferramenta para o diálogo, pois estamos dentro de uma sociedade dividida. O Mateus, por exemplo, tem uma tatuagem enorme em um dos braços, do Jimi Hendrix, veja só. Estamos vivendo um momento em que precisamos estabelecer pontes. Se não for assim, não conseguiremos levar adiante essa sociedade fissurada. Existe um movimento no qual a arte está sendo tratada como um acessório dispensável. Está na hora de a arte se colocar como fundamental. Uma banda de rock gravando a canção de uma dupla sertaneja é interessante para propor uma reflexão.
Nenhum de Nós
- Sábado (14), às 20h30min.
- Estacionamento da EPTC (Avenida Padre Cacique, 1.365).
- Ingressos a R$ 200 (setor comum), R$ 100 (meia-entrada ou ingresso solidário), R$ 300 (setor premium) e R$ 150 (meia-entrada ou ingresso solidário premium). Ingressos solidários mediante a doação de um quilo de alimento não perecível a ser entregue no acesso ao evento. Ingressos à venda neste site.