Um novo ritual deverá ser cumprido pelo público que assistirá aos primeiros shows musicais em teatros e casas de espetáculos do Rio Grande do Sul, tão logo seja liberada a realização destes eventos. Antes de sair de casa, será preciso comprar o ingresso online e apresentá-lo na entrada do evento. As exigências serão máscara no rosto, higienização das mãos, aferição de temperatura e verificação do ticket por QR Code. Depois, bastará sentar na poltrona, previamente reservada, com distanciamento mínimo observado pelo bloqueio de dois lugares de cada lado.
Na última quinta-feira (24), o governador Eduardo Leite anunciou que deve divulgar os protocolos para a retomada de atividades culturais na primeira semana de outubro. Estas regras se baseiam no modelo proposto pelo evento-teste realizado no dia 13 de setembro, no Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre, com performance de Serginho Moah.
Mudanças serão percebidas na plateia, pois a capacidade total de público será reduzida, e também no palco, com apresentações individuais ou, no máximo, em quarteto, conforme o espaço. Nos bastidores, a equipe técnica também será menor.
Segundo Rodrigo Machado, sócio da Opinião Produtora - responsável por administrar a agenda do bar Opinião, do Pepsi On Stage e do Araújo Vianna - e diretor do Grupo Live Marketing (LiveMKTRS), que coordenou o evento-teste no Araújo Vianna, o protocolo estuda trabalhar com 75% da capacidade total do local na bandeira amarela e de 50% na laranja.
Até esta quinta-feira (1), um grupo de empresários de eventos sociais e culturais deve se reunir com representantes da Secretaria da Saúde do Estado para se chegar ao formato final do protocolo. Nos próximos dias, a LiveMKTRS também deve realizar um alinhamento destas regras com representantes da Capital, já que o governo apresenta a diretriz e é escolha do município segui-las ou não, podendo ainda, se quiser, aplicar normas mais restritivas.
— O importante é que o município não altere a determinação do governo estadual. Precisamos agilizar esse processo, pois temos shows com a possibilidade de acontecer ainda em outubro e novembro. A agenda das produtoras precisa ser reativada e isso leva um tempo — explica Machado.
O diálogo e a realização de eventos-teste em parceria com o poder público, segundo Machado, deram maior corpo para a volta das atividades no setor, repassando credibilidade para a sociedade.
— Isso vai ser importante para a economia — aponta o diretor da LiveMKTRS, que antecipa o interesse de artistas como Nando Reis em se apresentarem neste novo formato.
Cautela
Outros produtores da Capital, por sua vez, seguem cautelosos. Carlos Branco, diretor da Branco Produções, que traz no currículo espetáculos nacionais e internacionais em espaços como Teatro do Bourbon Country e Instituto Ling, aguarda a retomada de shows para o próximo ano, pois acredita que o modelo ainda não é completamente viável.
— Alguns espetáculos até funcionam com um terço da capacidade, como esses no Araújo (Vianna), mas a gente vai aguardar. Os nossos espetáculos para teatro não conseguem se pagar com metade da capacidade, teria que dobrar o valor do ingresso — aponta Branco, que já transferiu shows de Daniel Boaventura e o musical One Night of Tina para 2021.
Casas noturnas e outros espaços culturais que não devem ser contemplados neste primeiro momento de liberação seguem aguardando pela vacina. É o caso do Bar Ocidente, que pretende nas próximas semanas reabrir em formato de restaurante. O local está operando somente com refeições para levar e poucos lugares para almoçar ali mesmo. Shows, somente gravados durante a tarde, e sem público, para os artistas retransmitirem nas redes sociais, como os do projeto Ocidente Acústico.
— Financeiramente, sem vacina não rola. Não estou ligado nos protocolos, porque sigo os meus. Enquanto os funcionários e eu não estivermos seguros, não temos condições de reabrir. Temos que pensar no todo — diz Fiapo Barth, proprietário do bar.
Na semana passada, empresários e representantes culturais se reuniram com o governo para estudar a retomada de eventos sociais como casamentos e festas infantis. Marconi Hubner Voss, representante da Associação das Bandas de Baile do RS, esteve no encontro e destaca que foi sugerida "uma atenção especial para boates e casas noturnas", com uma série de limitações. Os locais poderiam abrir as portas com espaçamento entre as pessoas, além de fazer o uso de camarotes e mesas para pequenos grupos.
Em outubro, a associação, em parceria com outras entidades, deve realizar um primeiro evento-teste, em Canoas. A pista de dança segue proibida, e a apresentação deve ocorrer em um local que facilite a circulação de ar.
— Essa determinação tem que vir de cima para baixo porque prefeitos ficam com medo de liberar esses eventos — afirma Voss. — Convidamos o comitê a criar e corrigir protocolos que montamos. Sim, queremos preservar vidas e queremos ter a oportunidade de voltar.
A Opus Entretenimento, responsável pelo gerenciamento e operação de casas de espetáculo do nordeste ao sul do país, foi procurada pela reportagem e informou que prefere aguardar a divulgação do decreto para se manifestar.