Depois de quatro anos, a banda Los Hermanos volta a Porto Alegre neste sábado (11) para se apresentar no Pepsi On Stage. O grupo carioca retomou as atividades em 2019 com a turnê comemorativa dos 20 anos do primeiro álbum que percorre 11 capitais. Além disso, no dia 1º de abril, o quarteto divulgou a música Corre Corre – a primeira inédita desde 2005, quando lançou o disco Quatro. Composição de Marcelo Camelo, a canção foi gravada em março, no Rio.
A última passagem de Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, Rodrigo Barba e Bruno Medina pela capital gaúcha foi em outubro de 2015, com show no Anfiteatro Beira-Rio . Desta vez, o grupo chega embalado pelo show do último sábado (4), no Maracanã, diante de 42 mil pessoas – levando mais público ao lendário estádio do que bandas internacionais de renome, como Foo Fighters, que tocou para 30 mil fãs em 2018.
No repertório da apresentação que durou cerca de duas horas, o Los Hermanos tocou faixas de seus quatro discos, além da recente Corre Corre. Em clima de celebração, o show alternou momentos mais carnavalescos, mais contemplativos e sequências mais hardcore da primeira fase da banda. Abrindo com A Flor, o grupo passou por faixas como Anna Júlia, O Vencedor, Cara Estranho, Último Romance e Pierrot, entre outras.
Marcelo Camelo (vocal e guitarra), Rodrigo Amarante (vocal e guitarra), Rodrigo Barba (bateria) e Bruno Medina (teclado) formaram o Los Hermanos nos corredores da PUCRJ, em 1997. Após uma década de estrada, a banda encerrou suas atividades em 2007. Desde então, os músicos dedicam-se a projetos solos e costumam se reunir quando há espaço nas agendas - e se a saudade aperta.
Em entrevista à GaúchaZH, o tecladista Bruno Medina falou sobre a relação da banda com Porto Alegre, as motivações para a reunião, além de comentar sobre fãs e haters.
O que motivou este retorno da banda?
A ideia dessa turnê surgiu no início de 2017, quanto todos nós, por coincidência, estávamos no Rio e decidimos nos encontrar. Conversa vai, conversa vem, alguém perguntou: "Por que não fazemos uma outra turnê?". A partir daí, acertamos as agendas e cá estamos. Creio que existe uma mística em torno de descobrir o fato motivador das nossas turnês, mas a questão é na verdade bem simples: somos amigos, sentimos saudades de estar juntos, gostamos das músicas que fizemos e tem muita gente ainda a fim de nos ver tocar. Precisa de mais algum motivo? (risos).
A última turnê do Los Hermanos foi em 2015. Como tem sido tocar juntos após esse anos separados? Há algo de diferente no entrosamento entre vocês?
O Los Hermanos sempre foi uma banda serena, então o peso da idade não influencia tanto quanto poderia na logística de uma turnê, que é sempre intensa. Apesar destes 12 anos que se passaram desde que resolvemos mudar o ritmo de nossa carreira, penso que existe um patamar de entendimento mútuo e intimidade que se mantém. Sinceramente, sempre que nos encontramos, mesmo que tenham se passado anos, parece que estivemos juntos no fim de semana anterior. A receptividade do público tem sido excelente. O fato de as turnês terem sido espaçadas até agora permite a gente se dedicar a outras prioridades. Então, quando estamos juntos, trata-se de um momento muito leve e agradável, como um reencontro entre velhos amigos que não se veem há algum tempo.
A banda volta a Porto Alegre após de quase quatro anos. Como é a conexão do Los Hermanos com o público gaúcho?
Gostamos muito de tocar aí, a cidade tem uma atmosfera roqueira que é muito nítida, e, talvez por isso, sempre nos recebeu muito bem. Ao longo dos anos fizemos algumas apresentações memoráveis, um público sempre muito passional, uma energia realmente especial.
Qual foi o momento mais memorável do grupo na capital gaúcha?
Lembro muito das Terças Insanas do Manara. Quando a turnê do Bloco do Eu Sozinho (segundo disco, de 2001) começou, decidimos que tocaríamos apenas nos lugares que artisticamente fizessem sentido, dada a nova fase da banda. Longe das rádios, com um disco tido como mais difícil, isso representou fazer shows em espaços muito menores do que os que estávamos acostumados durante a turnê do primeiro disco, ainda na esteira do sucesso de Anna Júlia. O Manara acabou se tornando muito representativo desse momento em que assumimos de vez as rédeas da nossa carreira. Foi um retrocesso, num certo sentido, mas um avanço muito grande também, porque as pessoas que iam nos ver ali de fato pareciam entender para onde estávamos rumando. A partir do Manara fomos, aos poucos, alçando voos maiores na cidade, sempre preservando uma relação bastante emocional com o público.
No começo de abril, a banda lançou Corre Corre, primeira faixa inédita de estúdio em 14 anos. Como foi a experiência de se reunir em estúdio após tanto tempo?
Foi incrível. Ao longo dos últimos anos, Marcelo e Rodrigo montaram seus próprios estúdios e passaram a produzir seus trabalhos, e essa bagagem adquirida por eles foi importante para conseguirmos atingir um bom resultado com a faixa no pouco tempo que tínhamos – entre arranjo, gravação e pós-produção foram apenas seis dias. De forma geral, o próprio amadurecimento pessoal de cada um também facilitou o processo: mais consciência do papel na música, serenidade para buscar timbres, testar alternativas de arranjo etc. Mas, no fundo, éramos ali os quatro de sempre, reproduzindo as dinâmicas musicais e pessoais que foram calcadas em 22 anos.
Como foi a construção de Corre Corre? Pelo que entendi, vocês gravaram a canção em uma semana e a lançaram na outra, certo?
Quando o Marcelo compôs a música Corre Corre, considerou que ela tinha "cara" de Los Hermanos, mas na ocasião ainda não havia nenhum plano de lançar material inédito com a banda. Quando se iniciaram as conversas sobre os preparativos dessa turnê, ele nos apresentou a música e imediatamente nos apaixonamos. Decidimos que valeria a pena tentar fazer um arranjo quando estivéssemos todos juntos no Rio. Como nos adiantamos nos ensaios, surgiu a oportunidade de entrar em estúdio e gravar, e foi isso que fizemos, sem pensar muito sobre o que significaria em termos de carreira, visto que é a primeira música inédita em 14 anos. Apenas nos pareceu que seria legal ter uma música nova para somar ao repertório dos discos anteriores.
Vocês pretendem gravar mais músicas aproveitando essa reunião? Quem sabe, um disco novo?
Não temos nada guardado para o futuro, nem existe um plano de lançar algo como um disco. Até dois meses atrás, eu diria que eram remotas as chances de surgirem músicas novas, sobretudo devido aos rumos que a vida de cada um tomou e os compromissos que cada um assumiu. Moramos em três países diferentes. No entanto, aí está Corre Corre, música que foi arranjada durante os ensaios e gravada e mixada em apenas três dias. Dito isto acho, sim, possível que em algum momento novas músicas surjam, não saberia precisar se semana que vem ou daqui a 10 anos. No momento, nosso maior desejo é saborear essa nova música, que custou tanto a nascer. O resto a gente vê mais pra frente.
Projetada nacionalmente em 1999, a banda angariou diferentes gerações de fãs. Ao longo desses anos, a música do grupo embalou romances, viagens de amigos, festas, casamentos e, é claro, fossas. É trilha sonora da vida de muita gente. Por que a música do Los Hermanos se entrelaçou tão profundamente com os fãs?
Resisto um pouco a filosofar sobre o legado artístico da banda, mas acho, sim, que nossas músicas conseguiram atravessar as duas últimas décadas de uma maneira bastante digna. Acredito que, no momento em que surgimos, o rock tinha um lugar de maior protagonismo na música brasileira, e isso nos foi favorável em certa medida. Dizem que fomos uma das últimas bandas a lançar demo em cassete, possivelmente a primeira brasileira a ter um disco vazado na internet, testemunhamos de perto a mudança na relação com rádios e gravadoras a partir do advento do digital. O fato de nossa carreira ter se dado em grande parte num período de muitas transformações para a indústria musical nos obrigou a buscar uma ruptura no modelo vigente, sobretudo na relação com rádios e gravadoras. Acho que isso talvez explique nosso potencial de influenciar as gerações que vieram depois. Lembro que quando lançamos o Bloco e veio à tona toda a desavença que tivemos com nossa gravadora na época, uma amiga veio me contar que, inspirada pelo nosso movimento, resolveu pedir demissão. Esse relato me deixou um tanto emocionado, além de me levar a conclusão de que estávamos nos posicionando de maneira consistente, arriscando nossa ainda breve carreira em função de algo em que realmente acreditávamos, e isso foi imprescindível para que conseguíssemos chegar até aqui da maneira que chegamos. Respondendo à pergunta, acredito que sempre fizemos as coisas com muito comprometimento e sinceridade, nunca o aspecto financeiro foi preponderante, tanto é que a banda parou justou no momento em que estávamos no auge de nossas carreiras. Para nós, nunca houve data conveniente para lançar disco, saíam quando ficavam prontos. Também nunca fomos a banda mais ágil em tempo de gravação ou mixagem, ou seja, nunca priorizamos a quantidade em detrimento da qualidade. Inclusive, até paramos de fazer discos quando sentimos que o momento não era oportuno, que não conseguiríamos atingir criativamente o patamar dos discos anteriores. Eu tenho certeza de que o público percebe e valoriza isso. Para mim, o Los Hermanos é e sempre será uma banda de amigos da faculdade que foi encontrando seu caminho tendo o coração como norte. Na dúvida, sempre seguimos nossa intuição e acho que deu certo, afinal aqui estamos 22 anos depois.
De que maneira você consegue perceber a banda se conectando com as novas gerações?Quando perguntamos nos shows quem esta ali pela primeira vez, percebo ser o caso de 40% a 50% da plateia e isso é incrível. Com certeza houve uma renovação, afinal sem ela seria impossível conseguirmos chegar até aqui. Na última década, praticamente não houve nenhum esforço em promover nosso repertório, o que me leva a crer que nossas músicas passaram de uma geração para a outra através de pais que as tocavam para seus filhos, de irmãos mais velhos e primos que as introduziram para seus entes mais novos. Essa constatação nos orgulha muito e nos faz crer que conseguimos compor músicas que de fato ressoam na vida das pessoas.
Por outro lado, da mesma forma que o Los Hermanos desperta amor incondicional, também há quem insista em ir por um caminho diferente, em depreciar a banda ou tachar os fãs de "chatos". É como se fosse um esporte ou uma moeda de capital cultural detestar o trabalho do grupo e marcar esse posicionamento nas redes sociais. Para você, o que desperta esse comportamento entre os críticos do Los Hermanos?
Aceitamos com naturalidade isso, porque denota, de alguma forma, relevância. Mas realmente nunca foi nosso foco rebater os críticos. Diferente de um cargo público eletivo, uma banda não precisa refletir os anseios da população, apenas daqueles que se identificam com o que fazemos. Dessa forma, nossos shows são pensados para agradar nossos fãs, e isso basta. A internet, de maneira geral, virou a porta de banheiro da rodoviária, ou seja, uma tela em branco para tecer comentários aleatórios sem consequências muito palpáveis. Como disse a outro jornalista, nenhuma banda chega aos 22 anos fazendo turnês do porte da que fazemos dando refresh (atualização) no Twitter para ler comentário dos haters.
Por fim, o que podemos esperar do show em Porto Alegre?
Estamos muito felizes por estamos juntos no palco novamente, acho que isso está impresso no show. O repertório é mais extenso se comparado ao das turnês anteriores, assim como agora também podemos contar com a maior infraestrutura de som e telões que já tivemos. Há uma música nova que tem ganhado repercussão e isso, por si só, já muda um pouco a experiência para nós. Eu diria que essa está sendo a turnê mais prazerosa, pois a estrutura está muito confortável e nós também estamos bastante relaxados. Tudo isso somado faz com que esses shows estejam sendo muito especiais, tanto para nós como para os fãs, sejam eles mais antigos ou os que nunca nos assistiram. Eu diria que o público de Porto Alegre pode esperar uma noite memorável!
Los Hermanos em Porto Alegre
- Sábado, às 22h, no Pepsi On Stage (Av. Severo Dullius, 1995).
- Ingressos disponíveis no 2º lote: R$ 180 (solidário 1kg alimento) e R$ 340 (inteira)
- Pontos de venda com taxa: eventin.com.br e lojas credenciadas.
- Pontos de venda sem taxa: Multisom da Andradas 1.001 (somente em dinheiro)