No dia anterior à sua primeira apresentação em Porto Alegre, no Porão do Beco, em abril de 2008, Mallu Magalhães havia enfrentado duas provas difíceis tentando recuperar os meses perdidos de colégio por conta dos shows pelo país, conforme relatou à Zero Hora na ocasião. Então com 15 anos, ela havia se projetado pela rede social MySpace, tocando um folk delicado com inspiração em Bob Dylan e Johnny Cash, com boa parte do repertório em inglês. Sequer havia lançado o primeiro disco. A cantora que se apresenta neste sábado, no Opinião, tem 24 anos, é casada com Marcelo Camelo, mãe da pequena Luisa e lançou quatro álbuns solo e um com a Banda do Mar. De nove anos para cá, reinventou-se.
– Ter decidido seguir pelo caminho da expressão, da arte, foi uma escolha bastante forte para mim. Abro mão de muitas coisas, tanto para agora quanto para o que construo para meu futuro. Agarrar-se tanto a esse motivo dá ao meu trabalho e à minha vida paixão e verdade. Gosto de viver assim, é esse meu momento: feliz e orgulhosa por estar aqui tocando, fazendo o que sinto que devo – destaca.
Projetada ainda na adolescência, Mallu lembra que o sucesso precoce foi uma experiência radical e intensa.
– Junto à minha personalidade forte, foi uma mistura bombástica. Muito perdi e muito ganhei. Aprendi a perder, também, aprendi que o dia nascerá de novo, a padaria abrirá de novo, a banca de jornal, o trânsito... A vida segue apesar dos meus dramas. Vi, no dia a dia, na rua, um símbolo de paz e segurança – reflete.
Mallu volta a Porto Alegre com a turnê de seu quarto disco, Vem, lançado em junho. Além das composições retratando situações do cotidiano (Linha Verde) e de relacionamento (Navegador), o álbum reflete a ida a Portugal, onde reside, e o nascimento da filha.
– Moro meio a meio, metade em Portugal, metade no Brasil. Compor é retratar a vida e como a sentimos, e é também um mantra, é chamar pelo que queremos. É um disco muito forte, faz sentido pensar que essa coragem é fruto desses dois movimentos que tanta força exigem: a maternidade e estar longe de sua terra natal – analisa Mallu.
A distância de seu país natal aflorou sua identidade brasileira em Vem, que explora ritmos como samba e bossa nova.
_ A composição e gravação do Vem se deu nos dois países. Mas, em comum, estava sempre meu amor pelo Brasil, e a busca dessa brasilidade em mim _ aponta.
No show que traz a POA, Mallu conta que, pela primeira vez, assume apenas os vocais na maioria das canções em vez de tocar um instrumento. Ela promete uma apresentação emotiva e enérgica:
– É para cantar junto, curtir e dançar.
Polêmicas raciais
Em maio, Mallu lançou o clipe de Você Não Presta primeiro single de Vem. O vídeo, que mostra a cantora cercada de dançarinos negros, foi acusado de racismo por usuários e ativistas. As principais acusações davam conta do figurino da cantora no clipe, que não colocaria o corpo da cantora tão em evidência quanto os corpos dos dançarinos negros.
Em seu perfil no Facebook, Mallu pediu desculpas: "Fico triste em saber que o clipe (...) possa ter ofendido alguém. É muito decepcionante para mim que isso tenha acontecido", escreve a artista, antes de pedir desculpas e dizer que seu trabalho não tem ideias "destrutivos ou agressivos".
Em junho, a cantora se envolveu em outra polêmica ao participar do Encontro com Fátima Bernardes por conta de um comentário feito na hora de apresentar a música.
– Essa também é para quem é preconceituoso e diz que branco não pode tocar samba – disse ela durante a introdução de uma música no programa.
Mallu aponta o que ficou para ela nesses episódios:
– Acho que tudo que foi dito pelas pessoas que me criticaram deve ser dito sim. É muito triste para mim que a mensagem que foi passada para quem se ofendeu seja tão oposta ao que acredito e defendo, mas por pior que seja para mim, acho que são assuntos muitos sérios que devem ser debatidos e combatidos sim. No programa da Fátima Bernardes eu estava extremamente nervosa e fiz um comentário que ficou infeliz. Não defendo, de maneira nenhuma, o racismo reverso nem sou racista. Naquela ocasião, por estar ainda sem meus instrumentos, minha performance foi muito ruim. Não haviam me avisado que eu tocaria e me emprestaram violões na hora, um deles nem sequer funcionava. Mas pronto, foi isso. Claro que abala meus planos, pessoal, emocional e profissionalmente, mas tanto eu quanto o público sabem quem sou. Sou, assim como todos, ser humano, errante e sonhador.
MALLU MAGALHÃES
Sábado, às 20h, no Opinião (José do Patrocínio, 834).
Ingressos: R$ 65 (promocional, 1º lote, mediante a doação de 1 kg de alimento não perecível na entrada) e R$ 120 (inteira, 1º lote). Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e um acompanhante.
Ponto de venda sem taxa: Youcom Bourbon Wallig (em dinheiro).
Pontos com taxa: lojas Youcom (shoppings Praia de Belas, Iguatemi,Bourbon Ipiranga, BarraShoppingSul, Shopping Total e Bourbon Novo Hamburgo), lojas Multisom (Andradas 1.001 e Bourbon São Leopoldo) e site blueticket.com.br.