O ano de 2017 foi um pouco diferente para Tulipa Ruiz. Acostumada com a correria e a bagunça do Baixo Augusta, região boêmia onde vive em São Paulo e fonte de inspiração para muitas de suas letras, a cantora paulista se percebeu saturada em meio a uma overdose de informações. Por exemplo, não queria mais saber de ouvir músicas com muitos elementos e produção em excesso.
Daí surgiu a necessidade de, nas palavras da artista, “se conectar com a essência da canção, sem mascarar a ideia original”. Foi nesse contexto que surgiu TU, trabalho que ela apresenta neste sábado (21/7) no Opinião, álbum que Tulipa define como “mais cru, para poder voltar a uma audição um pouco mais presente”:
– Esse disco veio nesse momento muito confuso nas relações – explica a cantora, que faz questão de dizer não ter nada contra tecnologia e superproduções. – O TU é uma tentativa de um exercício zen no nosso processo de fazer música.
Trata-se de um projeto intimista com o toque do violão de Gustavo Chagas – irmão de Tulipa e seu parceiro musical – e da percussão do músico francês Stéphane San Juan, que, no show em Porto Alegre, será substituído por Samuel Fraga. Por outro lado, o disco é o primeiro trabalho 100% digital da artista.
Formado por nove faixas, TU traz as novas Pólen, Game e Tu, as duas últimas parcerias com Gustavo. Outra inédita é Terrorista del Amor, composição coletiva com Ava Rocha, Paola Alfamor, Gustavo e Saulo Duarte. Pedra, que fecha o disco, é uma música feita pelo pai da cantora, Luiz Chagas, no ano em que ela nasceu e que nunca tinha sido gravada. Elas se somam às releituras de Pedrinho (de Efêmera, de 2010), Desinibida, Dois Cafés (Tudo Tanto, de 2012) e Algo Maior (Dancê, de 2015):
– O TU ficou maior do que era para ser e aconteceu sem a gente esperar, no meio da turnê do Dancê. Normalmente costumo encerrar uma turnê para fazer um disco. No meio do caminho, ele deu uma atropelada no nosso roteiro.
O espírito do álbum é transportado para as apresentações ao vivo, com um resultado diferente:
– Tem sido prazerosa essa nova troca com o público com as músicas neste formato que gosto de chamar de “nude”. Ele é uma outra ideia de arranjo, uma outra ideia de luz. Tem outras narrativas cênicas.
Na avaliação de Tulipa Ruiz, com essa proposta de instrumentação mais “crua”, os arranjos ficam mais escancarados, assim como as letras das canções.
– De alguma maneira, o que estou querendo dizer fica mais legível. Muita gente vai me falar: “Saquei essa letra agora”. Então é legal o jeito que ele bate, porque, com banda, a gente tem um perfil que é bastante pop, e bastante rock também. O TU comunica em outros lugares.
Não foi só um novo disco que o espírito mais desconectado do ano passado rendeu a Tulipa. Foi em meio à concepção de TU, dias antes de embarcar para Nova York, onde o álbum foi gravado, que a cantora compôs Banho, primeiro single do mais recente álbum de Elza Soares, Deus É Mulher:
– Foi muito especial fazer porque naquela semana jogaram pela primeira vez búzios para mim e descobri que sou filha de Oxum e Iemanjá. Então fiquei pensando muito em todas essas águas, dessas mães e também as que nós, mulheres, produzimos. Banho veio dessa reflexão toda, é uma música oferenda para a Elza.
Foi na estreia do show da cantora carioca que Tulipa entendeu “tudo o que estava transbordando”, ao ver Elza cantando a sua composição.
– Foi emocionante demais, nunca tive uma experiência que chegasse perto do que senti quando isso aconteceu – relembra a cantora, ainda colhendo os frutos de um momento e de “um disco que pintou”, que “não faz parte de nenhuma estratégia”.
– Faz parte mais de uma catarse.
TULIPA RUIZ
Opinião (Rua José do Patrocínio, 834)
Sábado (21/7), às 20h30min
Classificação: 14 anos
Ingressos: R$ 35 a R$ 100.
Pontos de venda: Multisom Bourbon Wallig (sem taxa, somente em dinheiro); Multisom: Shopping Praia de Belas, Iguatemi, Bourbon Ipiranga, Barra Shopping Sul, Shopping Total, Bourbon São Leopoldo, Bourbon Novo Hamburgo, Park Shopping Canoas e Canoas Shopping (com taxa, somente em dinheiro); online: blueticket.com.br/grupo/opiniao.