Anos antes dos festivais nativistas promoverem a renovação e o reconhecimento da música regional gaúcha, Pedro Ortaça sabia que algo precisava mudar. Em meados dos anos 1960, forjou ao lado de Noel Guarany (1941 – 1998), Cenair Maicá (1947 – 1989) e Jayme Caetano Braun (1924 – 1999) uma nova identidade musical, baseada na crítica social, na história e no cotidiano da região das Missões. Cinquenta anos depois, Ortaça é o remanescente dos quatro troncos da cultura missioneira – com a qual esses compositores passaram a ser identificados – e não deixa morrer o ideal de um canto que celebra o passado e, ao mesmo tempo, sugere mudanças para o futuro. É esse canto que ele apresenta nesta quarta-feira, às 21h, no Theatro São Pedro.
Aos 75 anos, é a primeira vez que o músico toca no histórico prédio da Praça da Matriz. Concorda que será uma apresentação emblemática de sua carreira, mas não se mostra deslumbrado. Com 1m61cm de altura, agiganta-se ao citar suas conquistas:
– É a primeira vez no Theatro São Pedro, mas já toquei muito em Porto Alegre, no Dante Barone e em outros lugares. Eu sou Mestre das Culturas Populares Brasileiras – afirma Ortaça, citando o título que recebeu do Ministério da Cultura em 2008.
Além de receber homenagens ao longo de seis décadas de carreira, o compositor levou sua música para todas as regiões do Brasil e também se apresentou na Argentina, no Paraguai e no Uruguai.
– Quando comecei, a maioria cantava em baile, festa, comércio, tiro de laço... Não havia quem cantasse com esse conteúdo de cultura e história. As Missões, por exemplo, têm 400 anos de história. Nós nos inspiramos nisso. Cantávamos sobre as pessoas menos favorecidas, sobre o índio, o negro, os pobres do nosso país, para que melhorasse a vida de nossos irmãos e conterrâneos – conta Ortaça.
O músico deu continuidade a uma tradição de família. Nascido em Pontão de Santa Maria, no interior de São Luiz Gonzaga, Ortaça cresceu vendo o pai cantar, e o avô e a mãe tocarem gaita. E já passou para a nova geração o gosto pela música. No espetáculo desta quarta-feira é acompanhado pelos filhos Alberto, Gabriel e Marianita, com quem gravou o CD Pedro Ortaça & Filhos (2015).
A apresentação deve contar com clássicos como Bailanta do Tibúrcio e Timbre de Galo, mas o cantor não adianta mais canções do repertório por um motivo simples: jamais sobe ao palco sabendo o que vai tocar.
– Vou cantando uma ou outra conforme sinto a receptividade do público. Mas é claro que algumas não podem faltar, pois o pessoal ia reclamar, como Timbre de Galo, que já conta com mais de 6 milhões de acessos na internet – explica o conectado Ortaça.
O repertório pode não estar definido, mas uma característica é garantida em qualquer espetáculo de Ortaça: a devoção à música. Uma das grandes referências do compositor gaúcho é o argentino Atahualpa Yupanqui (1908 – 1992), que pôde ver de perto em 1981, em seu histórico show na 11ª Califórnia da Canção Nativa, em Uruguaiana. Era a primeira vez que Yupanqui tocava no Brasil. Da plateia, Ortaça viu uma dedicação exemplar ao canto, que guarda na memória até hoje:
– Uma coisa linda que ele fez foi pedir para que não o fotografassem com flashes, pois havia um monte de câmeras voltadas para ele. Se visse um flash, sairia do palco. A concentração na música tinha que ser total.
Pedro Ortaça e Família
Nesta quarta-feira, às 21h
Theatro São Pedro (Mal. Deodoro, s/ n°)
Ingressos: R$ 90 (plateia e cadeiras extra), R$ 80 (camarote central), R$ 60 (camarote lateral) e R$ 50 (galerias). Com 50% de desconto para associados do Clube do Assinante ZH (somente titular), associados da AATSP (ingressos limitados), estudantes, jovens de baixa renda e pessoas com deficiência (40% da lotação), idosos, e associados do Banricoop. À venda na bilheteria do teatro a partir das 13h.