A Cucko recebeu, em março, a estreia de Rincon Sapiência em Porto Alegre, com ingressos esgotados. No palco da casa noturna da Cidade Baixa, Manicongo, como também é conhecido o paulistano de 31 anos, fez o que já pode ser considerado um dos melhores shows do ano, mostrando as faixas que agora aparecem em Galanga Livre, lançado no final do mês passado.
Com letras que abordam a consciência e a valorização dos negros, o disco é composto de 13 faixas carregadas de influências das músicas africana, eletrônica e jamaicana, que incluem capoeira, blues, coco, tropicália e afrobeat.
Leia também:
Atração do festival Fête de la Musique, Madblush grava clipe nas ruas de São Paulo; assista
"A gente está fazendo muito pouco", diz cantora trans Valéria Houston após ataques de haters nas redes
O álbum é resultado de uma carreira que começou a ganhar forma a partir de 2009, quando Rincon gravou Elegância, que passou a repercutir nos bailes, antes mesmo de ser mixada e remasterizada. A grande virada do rapper, entretanto, se deu em 2013, quando participou de dois festivais no continente africano. A partir dessa experiência, a exaltação de temas relacionados às raízes africanas viraram marcas ainda mais fortes no trabalho do artista, evidenciadas agora no conjunto das canções de Galanga Livre.
Rincon acredita estar inaugurando no país um novo estilo, o afrorap. Um bom exemplo desse subgênero musical pode ser encontrado em Meu Bloco, no qual mistura trap, rap e samba com rimas inspiradas em referência ao Carnaval.
Segue a mesma pegada Ponta de Lança (Verso Livre), lançada em dezembro, que já virou hino nos shows de Rincon. Na canção, o artista exalta a negritude com referências como a atriz Lupita Nyong’o, que levou o Oscar de melhor atriz coadjuvante em 2014 por sua interpretação em 12 Anos de Escravidão: "A noite é preta e maravilhosa / Lupita Nyong’o / Tô perto do fogo que nem o couro de tambor numa roda de jongo / Nesse sufoco, tô dando soco, que nem Lango-Lango / Se a vida é um filme, meu Deus é que nem Tarantino / Eu tô tipo Django".
Já em A Coisa Tá Preta, outro destaque do disco, Rincon Sapiência procura dar novo sentido à expressão idiomática que acaba por diminuir a autoestima do povo negro. "Se eu te falar que a coisa tá preta / A coisa tá boa, pode acreditar", defende.
GALANGA LIVRE
Rincon Sapiência
Hip hop, independente, Boia Fria Produções, disponível para audição nos serviços de streaming.
Cotação: 4/5 (muito bom)