Em 2016, quando se apresentou com a Orquestra Sinfônica da Universidade de Caxias do Sul, o pianista georgiano Guigla Katsarava comentou com o maestro Manfredo Schmiedt sobre duas obras do compositor russo Alexander Scriabin (1871 – 1915), uma das especialidades do solista. O regente titular e diretor artístico do conjunto caxiense já tinha ouvido o Concerto para Piano e Orquestra e, por sugestão de Katsarava, conheceu e se encantou com a Sinfonia nº 1.
Na noite de hoje, o maestro e o pianista se reencontram em um programa da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) que contará justamente com estas duas obras. Mais do que isso: uma pesquisa nos arquivos do conjunto porto-alegrense revelou que a Ospa jamais havia incluído uma obra de Scriabin em seu repertório. A apresentação, que começará às 20h30min no Salão de Atos da UFRGS, terá convidados especiais: além de Katsarava solando o Concerto para Piano e Orquestra, o Coro Sinfônico da Ospa e os cantores Natália Pereira (mezzo-soprano) e João Ferreira Filho (tenor) participarão do segmento final da Sinfonia nº 1.
Schmiedt, que empunhará a batuta, explica que as duas obras são representativas da primeira fase de Scriabin, marcada pela influência de compositores românticos, como os conterrâneos Tchaikovsky e Rimsky-Korsakov, e também Chopin, Liszt e Beethoven. São peças ricas em combinações harmônicas, dentro de uma linguagem que se poderia chamar de tradicional no romantismo. Se alguém tiver dúvida sobre a beleza das partituras, o maestro afirma:
– É um pecado que nunca tenhamos tocado a Sinfonia nº 1 na história da Ospa. Estou muito feliz em poder levar esse repertório ao público.
Embora Scriabin exija formações orquestrais grandiosas em sua fase posterior, aproximando-se de Mahler nesse sentido, as obras do programa da Ospa contemplam um tamanho de orquestra compatível com Tchaikovsky ou Rimsky-Korsakov. A Sinfonia nº 1 diferencia-se por apresentar seis movimentos. Schmiedt entende que o primeiro exerce a função de prólogo, e o último, de epílogo. Os quatro movimentos do meio são tributários da estrutura tradicional da sinfonia como forma. É o sexto movimento, no entanto, que oportuniza a participação do coro e dos solistas, como observa Schmiedt:
– Aqui, Scriabin homenageia a arte. É uma exaltação à produção artística, à música, enfim, à criação em geral. Lembra a ideia de Beethoven, que exalta a humanidade e a divindade no coro da Ode à Alegria de sua Nona Sinfonia.
Em um momento posterior de sua produção, como lembra o maestro, Scriabin inovou ao se valer do atonalismo (estratégia de composição que não se baseia nos tons tradicionais da música), estabelecendo também correspondências entre sons e cores. Fica a dica para futuros programas, segundo Schmiedt:
– Tenho curiosidade de poder reger ou assistir no futuro a um concerto com obras com esse tipo de projeção.
Concerto da Ospa – Série UFRGS
Nesta terça-feira (27/6), às 20h30min.
Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 30, com 50% de desconto para estudantes, idosos e sócios do Clube do Assinante. À venda na bilheteria do local nesta terça (27/6), das 11h até a hora do espetáculo.
Estudantes, funcionários e professores da UFRGS podem retirar cortesias (até duas por pessoa) na administração do Salão de Atos, das 9h às 12h e das 14h às 18h. É necessário apresentar o cartão da UFRGS.