As baladas românticas de Adele superaram o discurso ousado, crítico e político de Beyoncé. Pelo menos na cerimônia do Grammy, que se estendeu até a madrugada desta segunda-feira. A cantora britânica levou os principais prêmios da noite (álbum, canção e gravação do ano, além de álbum pop e performance pop), e tornou-se a única artista a vencer as três categorias mais importantes em um mesmo ano duas vezes – já havia conquistado os mesmos prêmios em 2012.
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Nem Adele convenceu-se de que merecia ficar com tantos gramofones (aliás, agora ela contabiliza 15).
– Não posso aceitar este prêmio. Minha vida é Beyoncé, e seu álbum Lemonade para mim foi monumental e um apoio para a alma. (Nele) Conseguimos ver outro lado de você que nem sempre nos deixava observar. Meu álbum do ano era Lemonade –disse a loira, que, ao receber o prêmio de melhor álbum do ano por 25, chegou a quebrar o troféu e oferecer metade à colega, levando a plateia ao riso.
O discurso de Adele foi comovente e levou Beyoncé às lágrimas. De fato, Lemonade é o disco mais ousado da artista de 35 anos, no qual ela descortina as dificuldades e a resistência das mulheres negras americanas, falando sobre temas como a força para superar um pai rígido, problemas com o marido e uma longa história de perseguição. Além da música, foi todo pensado visualmente e tem vídeos incríveis. Foi apontado como melhor álbum do ano por várias publicações especializadas – entre elas a Rolling Stone dos EUA. Mas não foi suficientemente bom para garantir a Beyoncé os Grammy que lhe faltam em sua estante.
A diva pop – que fez sua primeira aparição após anunciar a gravidez de gêmeos em uma performance muito bem produzida de Love Drought e Sandcastles – soma 20 gramofones. É uma das artistas mais vencedoras de Grammy da história, mas ainda não conquistou duas das categorias mais importantes do prêmio, álbum e gravação do ano – coincidentemente, Adele já tem os dois e em dobro. É de se refletir sobre isso, uma vez que, em 2016, Taylor Swift desbancou o favorito Kendrick Lammar e levou o álbum do ano, fato que provocou polêmica e acendeu um debate sobre racismo na premiação.
Ainda que o trabalho de Adele seja incrível, sendo de fato um dos melhores álbuns do ano e com um dos principais hits dos últimos tempos (Hello), Beyoncé merecia sair do Staples Center, em Los Angeles, com mais do que os dois gramofones que recebeu – melhor álbum urbano contemporâneo e melhor videoclipe por Formation. Nesse ponto, teve razão Ryan Tedder, vocalista da banda OneRepublic e colaborador habitual das duas cantoras, que havia antecipado há uma semana: "O eleitor médio do Grammy é um cara branco com mais de 40 anos, alguém mais atraído por Adele do que Beyoncé".