Muito, muito triste.
Morreu um grande ídolo, um cantor excepcional, um músico excepcional, um letrista excepcional.
Sou um cara apaixonado por muitas das canções do tempo de Wham! e da carreira solo de George Michael – de Club Tropicana a Flawless, de Wake me up before you go-go a Outside, de I want your sex a Fastlove, de Last Christmas a Jesus to a child, de Father figure a Cowboys and Angels, de Freedom a Freedom 90, de Careless whisper a Heal the pain, de Outside a Flawless, de A different corner a Round here. E ainda há sua história de vida, a luta interna, a libertação, os deslizes que humanizavam o astro.
Tinha alma, tinha elegância, tinha despudor, tinha os dois pés na pista de dança e uma faca cortando o coração – sabia dançar até fazer doer os joelhos e também era bom para dor de cotovelo. Seus versos farão falta, sua dança fará falta. Na sua voz, a fossa transformava-se em algo celestial. Nossos corpos transformavam-se em uma espécie de espelho: queríamos imitar seus passos, seus movimentos.
Em 2007, escrevi um comentário em ZH sobre o lançamento do DVD comemorativo dos 25 anos da carreira do cantor e compositor, Revival Twenty Five. O disco duplo reúne 40 clipes, sendo sete do Wham!. Vão me acompanhar para sempre a doce tristeza de uma canção de Natal ("Last Christmas, I gave you my heart / But the very next day, you gave it away / This year, to save me from tears / I'll give it to someone special"), a dor desnorteadora de um romance interrompido unilateralmente ("Take me back in time maybe I can forget / Turn a different corner and we never would have met / Would you care / I don't understand it, for you it's a breeze / Little by little you've brought me to my knees / Don't you care"), a sofisticação e a sensualidade do antológico videoclipe de Freedom 90 (dirigido por David Fincher antes de virar um cineasta famoso e estrelado pelas supermodelos da época Linda Evangelista, Naomi Campbell, Christy Turlington, Tatjana Patitz e Cindy Crawford), a diversão e a vulgaridade do videoclipe de Outside (em que o cantor parodia o episódio que trouxe à tona sua homossexualidade: a prisão por atentado ao pudor – com um policial à paisana – em um banheiro público de Beverly Hills, em 1998; ao final do vídeo, dois tiras que coíbem atos obscenos acabam se beijando na boca), o frescor de Club Tropicana (uma síntese visual dos anos 1980), a vibração contagiante de Flawless (em que um quarto vira boate), a interpretação arrepiante de Kissing a fool, as recriações de Killer/Papa was a rolling stone e Roxanne...
Descanse em paz, George Michael.
Obrigado por tudo.
*ZERO HORA