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Disco póstumo de Sabotage é lançado 13 anos após o assassinato do rapper paulistano. Emicida canta e desfila com o seu Laboratório Fantasma na São Paulo Fashion Week, emocionando especialistas em moda. Mano Brown lança o seu primeiro clipe solo, gravado em Nova York – o frontman dos Racionais MC's agora fala de amor. É a roda do hip hop que não para de se reinventar e ocupar novos e, em alguns casos, surpreendentes espaços.
Em Porto Alegre, os músicos tentam pegar carona no momento de efervescência vivido pelo gênero musical no país. Mas, por enquanto, cumprem o papel de coadjuvantes.
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– Talvez o que falte para o rap gaúcho seja um nome de mais representatividade, com status de grande atração, como já foi o Da Guedes – afirma Gabriel Souza, sócio-diretor da Opinião Produtora e responsável pelos shows de rap da casa da Cidade Baixa. – Mas, nas apresentações de artistas do gênero que trazemos, sempre tivemos músicos locais fazendo a abertura. Entendemos que o nosso compromisso também se relaciona com o fortalecimento da cena underground.
Protagonista do Da Guedes no começo dos anos 2000, Nitro Di, que completou 40 anos no sábado, aposta agora na renovação em sua carreira solo para figurar novamente entre as estrelas da cena. O músico lançou no último dia 20 o EP Sul da malandragem vol.1.
– Tive que me adaptar ao mercado. Sou DJ e sei o que funciona. As pessoas gostam de cantar. Não dá para tocar somente no player de algumas pessoas. Tu tens também de ter um trabalho para a pista ou a rádio, se é essa a tua intenção – analisa Nitro Di.
Para Rafa, integrante do Rafuagi, grupo que hoje é uma referência do rap no Estado – juntamente a Milianos, D’Lamotta, Cachola e Zudizilla –, o crescimento da cena local vai se dar a partir de uma "via de mão dupla". De um lado, o MC defende que os grupos usem a internet de maneira adequada, de outro, que as produtoras e a mídia abram seus espaços.
– No Sul, não devemos nada para o restante do país. Às vezes falta coerência nas postagens nas redes sociais, um profissionalismo maior na hora de se comunicar com o público, isso sim – afirma Rafa. – Cabe aos contratantes (dos shows) valorizarem nossa cena.
O músico destaca ainda a necessidade de "empreendedores de visão".
– Estar atento aos nomes do rap no Estado e ser parceiro de quem está pronto para ganhar o Brasil é essencial – defende o integrante do Rafuagi.
O grupo faz show no dia 18, no Orion Festival, em Guaíba, e lança no dia 20 a música Manifesto porongos, sobre o Massacre de Porongos, episódio da Guerra dos Farrapos.
Entre as mulheres, a gaúcha Fyah Rocha também batalha por maior destaque. No mês passado, ela apareceu como figurante em uma noite de hip hop no Opinião na qual as estrelas foram a norte-americana Akua Naru e a paulista Tássia Reis.
– Foi muito importante ter ali no palco somente mulheres que representam diferentes vertentes do movimento – declara a rapper gaúcha.
A cantora dá algumas pistas para que os artistas gaúchos consigam mais visibilidade:
– Apesar dos bons exemplos, ainda falta um pouco de comprometimento, valorização dos trabalhos locais e, é claro, investimento.
A reinvenção de Nitro Di com "Sul da malandragem"
Se, nos álbuns anteriores, Nitro Di misturava em suas músicas samplers de música regional, como a milonga, agora, com o EP Sul da malandragem Vol.1, vale-se de elementos mais atuais, que vão dos sintetizadores ao trap (mistura de hip hop com música eletrônica).
– Eu sabia que meus trabalhos anteriores seriam aceitos em nível nacional, mas em algumas situações específicas, como festivais e cenas que justamente valorizam esse lance de ser regional – atesta o também integrante do grupo Da Guedes.
À frente há quase 10 anos do programa Mix tape, da rádio Atlântida, o rapper, que também é DJ, conhece o que faz sucesso e também quer as pessoas empolgadas na pista com o seu som. Colocar todo mundo para dançar e cantar parece ser o objetivo de seu novo trabalho – sem deixar de dar o seu recado.
"Então melhor descer do salto, aí de cima é muito alto, pra entender quem é por ti e quem é falso", canta Nitro em Quem eu sou, uma das quatro canções que compõem o EP. Apesar de ter deixado de lado algumas influências regionais, em Sul da malandragem(S.D.M.) bah, tchê, tri..., o músico, ao destacar gírias da Capital, enfatiza o ambiente a partir do qual compõe.
Já em Vamo adiante, convoca os fãs a segui-lo: "Te joga, vem cá nesse pique, só dessa vez te permite, como se estivesse na melhor suíte, com tudo de top que existe". Nitro fecha o EP com Pode apostar, em que fala sobre a saudade da amada em meio a suas andanças.
Essas quatro canções o rapper apresentará nesta quinta-feira, no Opinião, quando fará o show de abertura para o grupo paulista Costa Gold.
Sul da malandragem vol.1 (EP)
De Nitro Di
Êra Êra Music
Grátis, em nitrodi.com.br
Cotação: bom
*ZERO HORA