A criança de 11 anos, "filha de preto com gay e super bem-sucedida", vem a Porto Alegre neste domingo. A descrição vem dos próprios pais e se refere ao show conjunto de Ana Carolina (a gay) e Seu Jorge (o preto), que ocorre a partir das 20h do Dia dos Namorados no Anfiteatro Beira-Rio e encerra a turnê Ana e Jorge – que atravessa o país desde abril, mais de uma década depois de a dupla estourar com É isso aí.
É claro que Seu Jorge e Ana Carolina já tinham carreiras consolidadas em 2005, quando resolveram se unir em um projeto conjunto e lançar um CD que teve mais de 300 mil cópias vendidas – o problema é que a parceria nunca virou turnê. A apresentação, registrada em DVD, nunca havia se repetido, até 2016. Depois de 11 anos, os músicos voltaram a se juntar para, com repertório e show totalmente remodelados, enfim pegar a estrada.
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– O retorno não foi muito pensado. Foi natural. Durante esse tempo, viemos nos paquerando, mas só agora surgiu a vontade de fazer. Depois de tantos anos, seria interessante contar o que aconteceu com Ana e Jorge durante esse período, e é por isso que o repertório traz sucessos meus e do Jorge, além de releituras de outras canções – explicou Ana Carolina, em coletiva concedida em São Paulo, logo após o primeiro show da turnê, no Citibank Hall, em abril deste ano.
A brincadeira com o filho, reproduzida no início do texto, é o que abre o espetáculo – quando Ana e Jorge falam sobre essa passagem de tempo, sobre as mudanças que o mundo teve nestes 11 anos e sobre como suas carreiras se movimentaram neste período. A partir daí, em cerca de 30 músicas, o show passa por momentos introspectivos, apresenta um momento caseiro em que os dois tocam sambas e entrega ao público covers que vão de Tom Jobim a Araketu, mas é na pegada eletrônica que tem seu maior mérito: se na primeira reunião foi a romântica É isso aí que estourou, nesta nova junção a música de trabalho é Mais uma vez (nós dois), agitada, com refrão pegajoso e uma base eletrônica. Não é à toa que, neste novo show, os dois são acompanhados no palco apenas por um DJ e um instrumentista, que dão o tom de festa à apresentação:
– A parte mais importante desta parceria é a possibilidade de ir para frente, de testar nossos limites. A gente não queria muita gente no palco, mesmo, para não perder o que encontrou da primeira vez, então chegamos ao meio do caminho, em algo que ficou confortável para os dois – avalia Seu Jorge.
Quatro momentos do show
Fundo de quintal
Lá pelo meio do show, Ana Carolina assume o pandeiro e, ao lado de Seu Jorge, que não larga seu violão, apresenta uma sequência de sambas e pagodes que incluem Tiro ao Álvaro, de Adoniran Barbosa, e Chiclete com Banana, de Gilberto Gil.
Cada um na sua
Cada artista escolheu uma música que tivesse marcado sua vida. Ana escolheu Mal acostumado, da banda de axé Araketu, que ganhou uma versão quase lírica. Jorge também ousou e decidiu-se por Talismã, de Leandro e Leonardo. As interpretações são tão únicas que é possível ouvi-las sem perceber que são antigas.
Sucesso atrás de sucesso
Assim que a apresentação começa a chegar perto do fim, os hits aparecem em profusão. Já no apagar das luzes, nas últimas composições a serem apresentadas, Seu Jorge e Ana Carolina emendam Burguesinha e Garganta, talvez seus maiores sucessos, respectivamente. É claro que a ordem do show de Porto Alegre pode mudar, mas, caso seja mantida, com certeza será um dos momentos de maior uníssono da apresentação.
A hora do hit
É provável que ela seja cantada duas vezes, uma no início e outra ao final do show, portanto é de bom tom ir ao Anfiteatro Beira-Rio com a letra decorada: Mais uma vez (nós dois) é a música que a dupla escolheu como single do novo trabalho, e é ela que ganhou o status de ápice da apresentação. A batida eletrônica e o clima de balada que as luzes impõem ao momento fazem com que a plateia entre na onda e dance como numa festa.
*O repórter viajou para São Paulo a convite da Hits Entretenimento