O teatro gaúcho perdeu, na madrugada desta segunda-feira (25), o dramaturgo e escritor Ivo Bender, morto aos 82 anos em Porto Alegre. Autor de extensa produção teatral e de dois livros de contos, Bender deixa uma legião de admiradores.
A atriz e professora Mirna Spritzer teve a oportunidade de presenciar as diferentes facetas acadêmicas de Bender no Departamento de Arte Dramática da UFRGS: foi colega do estudante 11 anos mais velho que ela, aluna do dramaturgo que virou professor e, mais tarde, quando ela também conquistou o diploma, colega de cátedra.
— Ele formou uma geração. Era um mestre para todos nós. Tinha tanto amor e prazer pelo que fazia que aprender com ele se transformou em um laboratório de vida —diz Mirna.
A qualidade que mais surpreendeu a atriz e professora foi a capacidade de ser complexo sem perder o bom humor. A mistura conquistava seguidores.
— Era muito querido pelos alunos. Era uma coisa meio grega. Ivo andava e tinha um séquito de alunos atrás dele — recorda.
Foi justamente a habilidade de não deixar que seu vasto conhecimento intelectual comprometesse uma postura leve em relação à vida que conquistou a admiração do ator Zé Adão Barbosa. Nos últimos anos, ator e dramaturgo ficaram próximos devido às constantes visitas de Ivo à Casa de Teatro de Porto Alegre, cuja biblioteca foi batizada com o nome de Bender cerca dois anos atrás, quando doou parte de seus livros à instituição.
— Ele tinha um humor fantástico. Contava histórias engraçadíssimas, algumas até picantes — revela Zé Adão.
Mesmo com a idade avançada, Ivo não deixava de visitar a Casa de Teatro, onde gostava de sentar-se sob a sombra de um abacateiro para tomar chá. Avisava, por telefone, que um motorista o deixaria na porta, sendo necessário que alguém o aguardasse. Fazia questão dos encontros.
— Muitos artistas, na idade de Ivo, acabam se enclausurando. Ele não. Ivo queria viver — diz Zé Adão.
Orientadora de Bender no mestrado e no doutorado em Letras, a professora Regina Zilberman observa que os contos, baseados em relatos rurais, percorrem um caminho diverso de suas peças, urbanas:
– Os contos têm um narrador misterioso e personagens incomuns, o que cria um clima de mistério muito instigante. Também destaco sua obra como tradutor. Verteu ao português Racine e Emily Dickinson, a quem dedicou a última peça que escreveu (Diálogos Espectrais, de 2004). Espero que seu espaço seja preenchido por outros autores, pois foi um incentivador de jovens talentos.
Já o ator e professor Marcelo Ádams, estudioso da obra dramática de Ivo Bender, destaca seu papel como homem de teatro:
– Ele chegou a dirigir espetáculos e a atuar. Foi professor, formou uma geração inteira de alunos no DAD, promoveu oficinas de criação dramática. Como ser humano, era um homem muito inteligente. Não há dúvida de que ele marcou presença. Seus textos serão relidos com alguma curiosidade para saber quem foi esse homem tão importante.