Depois de 14 anos sem encenar óperas do grande repertório, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) leva ao palco neste final de semana Don Pasquale, do italiano Gaetano Donizetti (1797 – 1848). Apesar dos espetáculos operísticos não serem tão constantes na Capital como em outros tempos, a demanda da cidade para o gênero parece alta: em apenas dois dias, todos os ingressos da plateia já haviam se esgotado.
– Até o final da década de 1970 e o início dos anos 1980, Porto Alegre tinha um circuito muito forte deste tipo de espetáculo. Mas, dentro da arte, a ópera é uma das instituições mais completas, exige trabalho, tempo e investimento, o que dificulta um pouco sua produção constante – explica Evandro Matté, diretor artístico da Ospa e regente da montagem deste final de semana.
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Matté e sua orquestra, no entanto, não aguardaram as condições ideais para montar Don Pasquale. Apesar do fosso do Theatro São Pedro não ter espaço para todos os músicos necessários, as sessões serão no histórico teatro, marcadas para sábado, às 20h, e domingo, às 18h. A solução para a falta de um fosso maior foi levar a orquestra para o palco, dividindo espaço com os solistas e um coro de 40 pessoas.
Para possibilitar que a história do velho e avarento Pasquale, que proíbe o sobrinho de casar com sua amada, fosse encenada com tanta gente no palco, a diretora cênica Camila Bauer resolveu encenar a ópera como se ela estivesse sendo filmada para o cinema, com os solistas dirigidos por câmeras e claquete. O recurso permite que a atenção do público seja dirigida aos pontos nos quais a ação principal transcorre, mesmo com outras pessoas em cena.
– Em um momento, o solista pode interpretar ele mesmo aguardando para entrar em cena e, de repente, coloca a peruca, torna-se o personagem, faz a cena e sai. Brincamos com essa coisa de bastidores, de levar para o palco dois contextos diferentes de tempo – conta Camila.
Os solistas que viverão a experiência proposta pela diretora cênica são Saulo Javan (baixo), Carla Domingues (soprano), Giovanni Tristacci (tenor), Douglas Hahn (barítono) e Lucas Alves (tenor).
– Com a orquestra em cena, o som vai também para o primeiro plano, mas o maestro tem uma sensibilidade muito grande, percebeu os momentos em que os solistas têm mais dificuldade e reduziu o volume da orquestra nesses pontos. Também estou curioso para ver como a claquete funcionará com o público, porque constrói e desconstrói o contexto – diz o paulista Saulo Javan, que interpreta o personagem-título.
Mesmo com as dificuldades, Evandro Matté afirma que a Ospa pretende encenar ao menos uma ópera por ano:
– Fazer uma ópera só cantada, sem encenação, é interessante porque a música está presente, mas o público espera o cenário, os personagens caracterizados. Gosto muito dessa movimentação em cena. Faz o espectador curtir a história de outra forma.
A TRAMA
-A ópera cômica Don Pasquale é considerada uma obra-prima do italiano Gaetano Donizetti (1797 – 1848). "No momento em que uma orquestra quiser optar por encenar uma ópera bufa, com certeza Don Pasquale será uma das principais opções", define o maestro Evandro Matté.
-O texto foi encenado pela primeira vez em 1843, e traz como principal personagem o velho e rico Don Pasquale, que proíbe seu sobrinho, Ernesto, de casar com a jovem e pobre Norina, sob pena deserdar o rapaz.
-Dr. Malatesta, amigo de Pasquale, é comovido pela história de Norina, e trama um plano para ajudá-la a se aproximar de Ernesto. Para isso, engana o amigo: Malatesta finge que Norina é sua irmã e convence Pasquale a se casar com ela.
-A ópera conta com muitas situações cômicas, mas o dueto entre Malatesta e Pasquale, no terceiro e último atos, é considerado pelos críticos o ponto alto do espetáculo.
-O texto será cantado no seu idioma de origem, o italiano, mas legendas em português serão projetadas no palco.
ÓPERA "DON PASQUALE"
Sábado, às 20h, e domingo, às 18h.Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/nº).Ingressos esgotados.