Lançado em 2015, Divertida Mente foi um fenômeno e conquistou crianças ao redor do mundo com seus personagens carismáticos e coloridos. Todavia, não é exagero dizer que a animação da Disney/Pixar conseguiu atingir os adultos de maneira mais intensa por suas camadas mais profundas, que vão além da estética e precisam de uma certa vivência para serem compreendidas em sua plenitude.
Desta forma, o suposto filme infantil consegue acertar dois alvos ao mesmo tempo, um jovem e o outro maduro, com entregas distintas dentro do mesmo produto. Esta sofisticação vista no trabalho de Pete Docter fez com que o Divertida Mente original fosse um sucesso de crítica e de público, faturando US$ 857 milhões ao redor do mundo.
O longa-metragem está dentro da lógica hollywoodiana e, por isso, ganhou uma continuação. Assim, Divertida Mente 2, agora comandado por Kelsey Mann, foi lançado nos Estados Unidos na última sexta-feira (14), tornando-se uma das maiores estreias para uma animação na história. No Brasil, o título chega aos cinemas nesta quinta-feira (20).
Se no primeiro filme acompanhamos Riley, uma menina de 11 anos precisando lidar com mudanças em sua vida e com a tentativa de equilibrar as suas cinco emoções — Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho —, na sequência, vemos a protagonista precisando enfrentar a temida adolescência e a chegada de novos e confusos sentimentos.
Mas, afinal, o que faz dos dois Divertida Mente um sucesso entre os adultos, que muito facilmente derramam lágrimas pelas produções? Separamos cinco pontos — assim como as emoções iniciais da Riley — que ajudam a responder.
A tristeza é fundamental
Em determinado momento de Divertida Mente, a Tristeza, que é sempre malvista pelos outros sentimentos, principalmente a Alegria, mostra-se como parte fundamental para o desenvolvimento de um ser humano. Em diversas fases da vida de uma pessoa, a melancolia é importante para lidar com situações delicadas, auxiliando na compreensão daquele momento e seguindo em frente. Não é preciso — e nem possível — estar feliz o tempo todo.
Ninguém é definido por uma única emoção
Expandindo o tópico anterior, o primeiro longa-metragem já antecipa que nenhuma pessoa é definida apenas por uma única emoção. A jornada de cada ser humano conta com variações, com cada sentimento "assumindo o controle" em determinados momentos. A partir disso, memórias são criadas, embaladas pela emoção do momento, que se tornam parte da personalidade de cada um.
Na reta final do filme original, a Tristeza e a Alegria se unem para criar uma lembrança que conta com um pouca das duas. O segundo título amplifica esta mensagem, exemplificando a complexidade de cada pessoa.
A dor do amadurecimento
Um dos momentos mais dramáticos de Divertida Mente é quando Bing Bong, o amigo imaginário de Riley, fica preso na zona do esquecimento e acaba desaparecendo da memória da menina. O momento, que até deixou as crianças tristes pelo personagem ser cativante, pegou os adultos ainda mais em cheio. Ali, fica representado visualmente o amadurecimento e uma parte da inocência sendo abandonada. Fica muito difícil, ao ver a cena, não se emocionar ao se dar conta do que já foi deixado para trás.
Nostalgia
Se o amadurecimento traz consigo a perda de parte da inocência, o avançar da idade também apresenta o fator de começar a olhar para trás e sentir falta daquilo que se viveu no passado — que não é necessariamente bom, mas com o tempo e o processamento da memória fazendo o seu trabalho de "limpar" as partes ruins, começa a parecer melhor do que realmente foi.
Assim surge a ideia da nostalgia, que é um sentimento quase intrusivo e que vem, cada vez mais, ganhando espaço no cotidiano. Afinal, "bom era na minha época". O segundo filme mostra, então, que, na adolescência, a nostalgia ainda não ganha tanto espaço, mas já indica que tal emoção deve ser mais presente na vida dos adultos.
Peculiaridades dos adultos
Se algumas piadas funcionam bem para os pequenos, outras tantas serão compreendidas principalmente pelos adultos. Quando a animação mostra, por exemplo, a mente dos pais da Riley, vemos que cada pessoa tem uma emoção predominante na "sala de comando", destacando as suas particularidades. Porém, alguns dos momentos mais engraçados são quando lembranças intrusivas ganham destaque, como quando as pessoas começam a cantar, por exemplo, a música de uma propaganda antiga de pasta de dente.
Estas sacadas são mais efetivas com os mais velhos, que conseguem refletir sobre os episódios, enxergando o absurdo e a graça de ter estes pensamentos que surgem "do nada". Outro destaque voltado para o público mais veterano é quando a mãe da Riley, no primeiro filme, lembra-se do piloto de helicóptero pelo qual ela foi apaixonada na juventude, desligando-se do seu marido e projetando uma outra vida, mesmo que por alguns momentos. É nostalgia misturada com uma pitada de frustração. Engraçado, mas levemente melancólico.