Estar à altura de um dos vilões mais emblemáticos da cultura pop. Este é o desafio de Jonathan Majors, ator que chega para ser o principal antagonista dos super-heróis do Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês) nos próximos anos.
Ao aceitar dar vida a Kang, o Conquistador, em diversas produções, Majors sabe que terá uma legião de fãs o observando de perto e o comparando com o emblemático Thanos (Josh Brolin), que fez história ao destruir a metade dos habitantes do universo com apenas um estalar de dedos.
Em suas duas aparições — até agora, na série Loki e no filme Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania — no MCU, Majors já mostrou que o seu Kang está pronto para ser um daqueles vilões que o público ama odiar.
Mesmo em uma franquia de super-heróis, o ator conseguiu demonstrar o seu talento, entregando um personagem frio e que olha para todos ao seu redor com indiferença, como se todos fossem insignificantes perante a sua grandeza.
Mas Majors vai muito além do MCU e, inclusive, veículos especializados internacionais já o consideram um dos atores mais promissores de sua geração — isto porque o artista tem um potencial enorme para entregar densos papéis dramáticos, ao mesmo tempo em que se transforma fisicamente quando é preciso.
Majors: A Origem
O artista tem 33 anos — ele nasceu em 7 de setembro de 1989 na Califórnia, nos Estados Unidos. Ele e seus dois irmãos cresceram em uma base militar, uma vez que o pai era da Força Aérea dos Estados Unidos. Porém, os pais se separaram e a mãe de Majors conseguiu a custódia dos filhos, levando-os para Dallas.
— Nosso pai, que nos amava muito, simplesmente sumiu um dia... E apareceu 17 anos depois — contou o artista ao The Hollywood Reporter.
Majors relatou posteriormente que foi somente após o assassinato de George Floyd e o movimento Vidas Negras Importam que ele e o pai acabaram se reconectando.
Vivendo em Dallas, Majors se envolveu em algumas encrencas. Uma delas foi uma briga na escola. Por conta disso, ele acabou entrando em um programa de educação alternativa, no qual, aos 14 anos, descobriu o seu amor pelo mundo artístico, após ler Agatha Christie.
Também na adolescência, Majors foi expulso de casa após ser preso por furtar uma loja e, em um determinado momento de sua vida, acabou morando em seu carro por dois anos, enquanto mantinha dois empregos.
O mundo das artes
Após perceber que a sua ligação com o mundo das artes era muito forte, Majors decidiu se graduar. Assim, ele se formou na Escola de Artes da Universidade da Carolina do Norte e, em seguida, foi estudar na Escola de Teatro de Yale, onde recebeu o título de Mestre em Belas Artes, em 2016.
Neste percurso, ele já havia encenado peças teatrais e comerciais de televisão. O seu debute no cinema ocorreu em 2011, com Do Not Disturb, drama independente que sequer foi lançado oficialmente no Brasil.
Pouco antes de terminar o mestrado, o ator já viu as portas se abrirem: ele foi escolhido para participar da minissérie Quando Fazemos História (2017), que fala sobre a luta de homens e mulheres pioneiros no movimento LGBT+ dos Estados Unidos. Na época, ele estava concluindo o programa de artes cênicas de Yale.
— Eu fiz o último semestre enquanto trabalhava em um trailer, em Vancouver, com Gus Van Sant — contou ao Backstage.
Pouco tempo depois, ele também conseguiu um papel em Hostis, filme estrelado por Christian Bale e lançado também em 2017. A sua trajetória estava começando de maneira promissora, mas o reconhecimento veio em 2019, após conquistar um papel de destaque em The Last Black Man in San Francisco.
Destaque
Pelo drama, inclusive, Majors conseguiu uma indicação de melhor ator coadjuvante no Independent Spirit Award. O longa colocou o jovem ator no radar de toda a indústria cinematográfica. No mesmo ano, ele emplacou três outros projetos e começou a mirar mais alto.
Em 2020, Majors se juntou ao poderoso elenco de Destacamento Blood, obra de Spike Lee e um dos últimos trabalhos de Chadwick Boseman. Mais uma vez, o ator conseguiu atrair as atenções pelo seu desempenho, interpretando o jovem sensato entre os veteranos de guerra.
No mesmo ano, ele conquistou o papel de Atticus Freeman, protagonista da série Lovecraft Country, da HBO, o que o projetou para o mundo — infelizmente, a série não ganhou uma segunda temporada, mas o talento de Majors ficou evidente. Enquanto a produção estava sendo exibida, o ator foi escolhido para ser Kang.
Reunião
Porém, a escolha de Majors não foi tão simples. Há alguns anos, representantes do MCU, impressionados com o desempenho do ator em The Last Black Man in San Francisco, chamaram ele para uma reunião que, por pouco, não foi um desastre.
— Espero que isso não me cause problema, mas eu quase abandonei a minha primeira reunião com a Marvel. Foi há muito tempo. Fui criado de uma maneira específica e não gosto de tomar o tempo de ninguém. Cheguei lá e eles pareciam ocupados. Começou a demorar um pouco, então eu só disse: "Eu deveria mesmo estar aqui? Tudo bem, eu só vou embora" — revelou para a Vanity Fair.
Porém, quando estava saindo pela porta, Majors foi avisado de que a diretora de elenco iria falar com ele e, após terem "uma ótima conversa", o ator ficou satisfeito e percebeu que tudo que estava sendo apresentado "parecia coeso".
Paizão
Pai de uma menina de 10 anos, o ator se divide entre a carreira cada vez mais intensa e o papel de educar a pequena sobre a história negra, que é, também, a história americana. Majors aponta que sempre fala para a sua herdeira que é preciso celebrar a sua negritude e que o seu cabelo afro é uma coroa, dada de presente pelos seus ancestrais.
— Você tem uma coroa. É por isso que seu cabelo fica para o alto. Seu cabelo, sua coroa, veio do papai, da mamãe, do papai dela e da irmã dele. Às vezes, esse cabelo pode lhe dar problema nesse mundo e isso não é certo. Algumas pessoas tentarão tirar essa coroa de você — disse Majors, em entrevista à revista W, explicando como conversa com a filha.
Conquistador
Majors estreou no MCU na primeira temporada da série Loki, do Disney+, em 2021, interpretando Aquele Que Permanece, uma das muitas variantes de Kang espalhadas pelo multiverso. Nos momentos em que o astro aparecia na tela, ele mostrou que tinha o magnetismo para conseguir ser um dos destaques das novas fases da franquia dos heróis da Marvel.
A sua segunda aparição como Kang foi em Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania (2023), em que Majors é o vilão. A produção acumulou diversas críticas negativas desde o seu lançamento, mas o desempenho do ator que dá vida ao grande antagonista foi praticamente unânime, conquistando diversos elogios e deixando os fãs entusiasmados com o futuro do personagem — que, inclusive, vai ganhar um filme com o seu nome: Vingadores: A Dinastia Kang, em 2025.
Ainda falando em franquia, o artista será o antagonista de Creed III no mais novo capítulo derivado de Rocky Balboa. No filme, protagonizado e dirigido por Michael B. Jordan, Majors fará o papel de Damian Anderson, um amigo de longa data que, após passar um tempo na prisão, busca reaver o seu espaço no mundo do boxe e também acertar as contas com Adonis Creed.
Mesmo sendo uma denominação que, por muito tempo, assustou ele, hoje em dia, Jonathan Majors é uma estrela de cinema — por sinal, ele achava que tal classificação era um "palavrão". Hoje, ele já aceita o título e vê com bons olhos:
— Eu tinha medo, porque, na verdade, vem com muita esperança. E isso é assustador.