O cinema hollywoodiano dos chamados "loucos anos 1920" — quando o mundo experimentava uma espécie de libertação das tristezas e das restrições, após a Primeira Guerra Mundial e a Gripe Espanhola. Este foi o recorte histórico escolhido por Damien Chazelle para o seu novo filme, Babilônia, que chega aos cinemas nacionais nesta quinta-feira (19), tendo Margot Robbie e Brad Pitt como estrelas.
Vencedor do Oscar de melhor direção por La La Land: Cantando Estações (2016), o cineasta, fissurado pelo período de transição de Hollywood, quando os filmes começam a ganhar som, aposta naquilo que mais encanta a Academia: a história do próprio cinema. O tiro poderia ser certeiro, se ele tivesse um alvo, algo para dizer.
Logo no começo da projeção, um enquadramento foca no ânus de um elefante, mostrando-o defecar em cima de trabalhadores que estavam levando o animal para uma festa promovida por figurões de Hollywood. Neste momento, já se pode perceber o que Chazelle pretende: chocar pelo suposto exagero e pela excentricidade da época, mostrando que a linha do limite estava quase apagada.
Babilônia, em certos aspectos, consegue ser efetivo: apresenta, com bastante competência, o contraste da indústria cinematográfica na virada para a década de 1930 e como uma legião de artistas da sétima arte, que estava no auge, acaba caindo em decadência — o desempenho vocal também passou a ser essencial para a sétima arte.
Assim, a jornada do personagem Jack Conrad (Pitt), a estrela mais bem-sucedida do seu estúdio na época, indo do auge até o seu ocaso, devido à perda de espaço para artistas vindos do teatro, é a parte mais interessante da obra. Muito disso se deve ao intérprete do mesmo, que reina como um astro há mais de 30 anos, conseguindo ter uma visão de dentro da máquina de Hollywood de atores que antes eram essenciais e, depois, foram meramente descartados.
Em paralelo com essa história de quem esteve muito tempo no topo e começa a descer, surge uma promessa em busca de seu espaço: Nellie LaRoy (Margot Robbie, ótima), que entra nas produções hollywoodianas pouco antes da transição para o cinema falado. Intensa e talentosa para o que o mercado pedia no momento, ela tem uma carreira meteórica, mas também se vê tendo que se reinventar para o novo cenário — algo que será uma barreira alta demais para a jovem atriz.
Ligando estas e outras histórias está Manny Torres (Diego Calva), um mexicano que, de garçom que se apaixona por Nellie naquela primeira festa descrita no texto, passa a ser ajudante de Conrad. Inteligente e admirador do cinema, ele logo começa a ganhar espaço na indústria. Enquanto tenta levar o seu estúdio ao futuro, não consegue se desprender da paixão por Nellie e, por isso, tenta salvar a carreira dela.
Mas Babilônia não é um filme de amor. Não entre os personagens, pelo menos. É sobre o carinho de Chazelle pelo cinema, mas ele não consegue imprimir na película o sentimento e falta a liga para fazer a audiência sentir alguma emoção. O cineasta, com um orçamento pomposo para criar a sua epopeia sobre a jovem Hollywood, deixa um vazio que não consegue ser completado, mesmo com o bom desempenho de seu elenco.
Sem fim
Chazelle, ao escolher contar esta história da maneira que ele faz, parece ter um olhar quase juvenil sobre as festas, as bebidas, as drogas e o sexo inseridos em seu filme e, enquanto Nellie e Conrad começam a perder espaço, ele não sabe por qual caminho seguir — e deixa em suspeição se estas pessoas amavam a arte ou simplesmente o que ela trazia.
Assim, o diretor e roteirista caminha em uma linha tênue que quase o coloca ao lado da geração seguinte de Hollywood, que ele retrata como sendo almofadinhas esnobes e que se chocam com a vida intensa dos artistas que vinham da década anterior.
— Eu queria capturar os altos mais altos e os baixos mais baixos (...) A humanidade em toda sua glória e toda sua animalidade e depravação — disse Chazelle no Festival de Toronto, em setembro do ano passado.
De fato, ele fez isso. Mas não justifica tal intenção, além de mostrar na tela grande que aprendeu novos truques de câmera e, com recursos, pôde experimentar mais. Assim, ele faz com que a imagem esteja sempre frenética, subindo e descendo, convidando o espectador a flutuar sobre toda aquela grandiosidade, seja nas festas ou nos sets de filmagens. O problema é que este voo é desconfortável, mesmo que tudo ao redor seja eficiente, da ótima trilha sonora ao design de produção impecável.
Ao final, Chazelle parece não saber como finalizar o seu trabalho e, por exemplo, existe todo o arco com o gângster James McKay, vivido por Tobey Maguire, que é completamente desconexo — por mais que a intenção do cineasta seja dizer que a alegria se perdeu nos anos 1920 e, depois, as festas viraram algo assustador. Pelo menos, pelos olhos da geração anterior. Mesmo assim, não funcionou e, quando chega este momento, fica a pergunta: por que este filme tem 3h10min de duração?
Entre as produções de 2022 que abordam o amor ao cinema e que devem conquistar a Academia, Os Fabelmans, de Steven Spielberg, desponta com muitos quilômetros à frente, por saber de onde está saindo e onde que chegar. Faz isso com maestria. Para Chazelle, resta apenas lamentar que tenha perdido a chance de fazer algo memorável — e, quem sabe, o desfecho de sua própria obra seja uma projeção para o futuro, com o próprio vendo que seu trabalho serviu como base para que outros brilhem.