Em Papai É Pop, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (11), Tom (Lázaro Ramos) e Elisa (Paolla Oliveira) têm suas vidas reviradas com o nascimento de Laura (Malu Aloise), primeira filha do casal. A mãe, por um lado, está sobrecarregada com a bebê, enquanto ele ainda não compreendeu o seu papel com a paternidade ativa — fica ausente para divertir-se com o futebol ou sair com os amigos. Até que a responsabilidade pesa, e Tom se pergunta: como ser pai?
Com direção de Caíto Ortiz e roteiro de Ricardo Hofstetter, o drama é livremente inspirado no best-seller O Papai É Pop, do jornalista e escritor Marcos Piangers. Lançado em 2015, o livro reúne crônicas de Piangers sobre sua relação com as suas filhas, Anita e Aurora — respectivamente com nove e três anos na época —, e compartilha suas descobertas sobre a paternidade. A obra teve continuação com O Papai É Pop 2 (2016), além de seu contraponto com A Mamãe É Rock (2016) e A Mamãe É Punk: Crônicas da Adolescência (2018), de Ana Cardoso, esposa de Piangers, abordando a maternidade.
A trama do filme aproveita apenas alguns elementos e passagens do livro. Tom é um personagem diferente de Piangers. Inclusive, o escritor achava inicialmente que seria impossível adaptar a obra. Até que, em 2019, Ortiz assistiu a uma palestra do comunicador em que ele contava sua trajetória, e o filme tomou forma.
— Ele percebeu a história da vida de um cara sem pai, que se atrapalha todo e possui essas fragilidades todas no relacionamento por conta de sua imaturidade. E que se renova para ser um pai participativo. Foi muito legal que eles acharam esse roteiro — relata Piangers.
Lázaro também chegou a desconfiar do projeto:
— Quando li o primeiro roteiro, pensei: "Cadê a história? É só umas pessoas vivendo a vida. Não está acontecendo nada!". Decidi fazer porque gosto do Caíto e teria a Elisa Lucinda (atriz que interpreta Gladys, a mãe de Tom). No processo de ensaio, eu entendi qual era o tamanho do tema.
O ator conta que já tinha há muito tempo o desejo de falar sobre paternidade no cinema. Estava caçando projetos a respeito disso, falando com cineastas sobre a importância do tema, mas sem sucesso. Até que surgiu o convite do diretor.
— Li o livro do Piangers e achei ótimo. Ele escreve de um jeito que a gente entende com facilidade, se sente convocado. Bateu em mim como um livro que eu gostaria de ter lido quando me tornei pai, um conteúdo que me faltou — diz Lázaro.
Aprendendo a ser pai
Na trama, Tom trabalha com tecnologia da informação, enquanto Elisa é advogada. Ele cresceu sem a presença do pai — algo pelo qual Piangers também passou —, sendo criado apenas por sua mãe. Quando nasce sua filha, Tom não consegue desempenhar uma paternidade ativa, deixando Elisa sozinha nessa jornada. Para ele, está tudo bem deixar a esposa e a bebê de lado para sair com os colegas de trabalho. Afinal, julga que já fez a parte dele no dia (menos que o mínimo).
Piangers observa que Tom não é só um mau pai, mas também um mau adulto. Ele acrescenta também que o homem é construído para a malandragem.
— O homem se sente mais homem quando ele é desonesto, desde que não seja pego. Tom está com uma pessoa que ama e com a qual escolheu casar, mas está o tempo todo dando enganadinha… Então, alguma coisa está errada. A transformação é possível e ela acontece — frisa.
Um desses tipos é representado em Júlio (Leandro Ramos), amigo de Tom. É um personagem que se orgulha de não ter trocado uma fralda, que não se compromete na criação, mas publica fotos com o filho nas redes sociais. É o famigerado "pai de selfie".
— É um toque para esse cara que, em 2022, acha que pode só pegar o filho uma vez de 15 em 15 dias, publicar foto na rede social e achar que é um grande pai. O filme chama para essa responsabilidade. Leandro consegue trazer isso de forma leve, que pode ficar no inconsciente desse pai que não é participativo — atesta Piangers.
De acordo com o escritor, os temas de Papai É Pop vão além da paternidade, apontando também para a necessidade de homens amadurecerem e assumirem suas responsabilidades. O escritor sublinha que o longa também permeia a questão da mãe, que se sente sozinha na criação dos filhos, mesmo com marido dentro de casa.
Lazáro ressalta que há uma criação histórica em que se prepara muito as mulheres desde criança para cuidar dos filhos, enquanto os homens são incentivados a ser livres e brutos. Contudo, o ator observa que isso está mudando aos poucos.
— Estamos trocando pneu com o carro andando — avalia Lázaro. — No modelo atual que a gente vive, a presença é o que vai transformar essas relações. Tem que haver um esforço, o cara precisa se responsabilizar e dizer: "Vou me organizar para isso". Não teremos todas as respostas nem seremos perfeitos, mas isso faz parte do aprendizado.
Para Piangers, daria para ver ainda mais o aprendizado e a evolução de Tom. O escritor revela que já discute a ideia de uma continuidade no cinema, um Papai É Pop 2.
— Papai É Pop pode levar a entender que é o pai perfeito. O pai que chegou lá. Mas você assiste ao filme e vê que é o pai que está no caminho e que está curtindo o caminho. É uma celebração desse caminho de aprendizado — pondera.
Tanto que no livro Piangers narra que, ao ser pai pela primeira vez, cada noite era "uma faculdade de como aprender a ser pai": "Sem professor, nem teoria. A gente aprende sendo. Amando".