A franquia A Era do Gelo encantou adultos e crianças ao longo de seus 20 anos de existência. Porém, quanto mais filmes chegavam para compor a cinessérie, menos interessante ela se tornava, já que ela foi sendo desgastada pelo uso repetitivo dos elementos que funcionaram no início e, ao mesmo tempo, ela ia aumentando a sua escala — o quinto longa, por exemplo, tem até naves alienígenas.
E para decretar que, de fato, as animações dos animais pré-históricos já deveriam ter entrado em extinção, agora chega ao Disney+ o sexto capítulo da franquia, A Era do Gelo: As Aventuras de Buck — e nem o título é honesto, visto que a doninha Buck, apesar de ter destaque, não é a protagonista. O foco são os gambás Crash e Eddie, que decidem mostrar que são independentes e, por isso, deixam de viver com o bando composto por sua irmã Ellie, e os três amigos Manny, Sid e Diego.
Desastrados e soltos pelo mundo, sem a supervisão dos animais responsáveis, os irmãos acabam se metendo em uma série de confusões, até que retornam para o Mundo Perdido, aquele que é o tema central do terceiro filme da franquia e lar de Buck. Porém, quando Eddie e Crash chegam por lá, um dinossauro superinteligente está querendo assumir o comando do lugar, querendo subjugar os animais que lá vivem em harmonia, tornando-se uma espécie de ditador.
Cabe, então, aos irmãos gambás, Buck e Zee, uma zorilla — que, apesar de parecer, não é o mesmo que o famoso zorrilho —, formarem uma "equipe de super-heróis" para não deixarem o malvadão triunfar e evitar, assim, que o Mundo Perdido seja... perdido.
Decepcionante
A trama do novo A Era do Gelo é simples, mas não ruim. Por sinal, se tivesse um pouquinho de cuidado, poderia ser uma boa história de amadurecimento, ajudando os espectadores a acreditarem nas suas próprias habilidades, por mais que elas pareçam bobas — como, no caso dos gambás, cair e se fingir de mortos. Porém, antes uma propriedade da Fox, a franquia passou para a Disney quando esta comprou o estúdio concorrente. E a empresa do Mickey não teve carinho com o material. Ou com o público.
O longa, destinado às crianças, comete o erro de apostar única e exclusivamente neste público, esquecendo que os fãs da franquia a acompanham desde 2002 — ou seja, já são adultos — e, por isso, a animação dirigida por John C. Donkin deixa de fazer o básico: ter uma finalização. E não no sentido de um desfecho, mas sim, de não terminar cenas, ter cuidado na hora da montagem da produção ou, simplesmente, caprichar no visual dos animais.
Para se ter uma noção, além dos animais e do cenário ficarem devendo muito em textura, parecendo cutscenes de jogos de videogame — aqueles filminhos não-jogáveis que ajudam a contar a história —, em dado momento, os gambás se arremessam de uma árvore e o longa simplesmente não mostra o trajeto deles ou eles caindo no chão. Segue-se um corte bruto e, no segundo seguinte, eles estão dentro de um buraco no gelo. Em outro momento, o vilão é jogado longe e cai em um local em que animais querem bater nele. No momento seguinte, os animais sumiram e os ex-aliados dele estão no lugar, com a mesma finalidade, mas sem explicação.
Por mais que este seja um produto destinado para o streaming, ou seja, sem o retorno financeiro que o cinema proporciona, o investimento na animação — seja de dinheiro ou de tempo — deixou muito a desejar aos seus cinco antecessores ou, até mesmo, para filmes infantis de outras plataformas, feitos com capricho, apesar de não renderem bilheteria — vide os ótimo Klaus e A Família Mitchell e A Revolta das Máquinas, ambos da Netflix.
Com aparência de ter sido feito a toque de caixa, o longa até pode entreter a criançada por 1h20min, mas não deixa de ser triste ver tamanho descuido com personagens tão queridos da cultura pop. Ah, e sabe o fissurado esquilo Scrat? Não foi nem convidado para o filme.