O diretor norte-americano Spike Lee, 64 anos, afirmou nesta terça-feira (6) que o "mundo é governado por gângsteres", citando o presidente Jair Bolsonaro, além Donald Trump e Vladimir Putin. A declaração ocorreu na abertura do Festival de Cannes, do qual ele é presidente do júri, dando contornos políticos à tradicional coletiva de imprensa que marca o início do evento.
— Este mundo é governado por gângsteres — disse Lee. — O Agente Laranja (Donald Trump), o Cara do Brasil (Jair Bolsonaro) e o (presidente russo Vladimir) Putin. Eles são gângsteres e farão o que quiserem. Eles não têm moral, nem escrúpulos. E temos que falar abertamente contra gângsteres como esse — acrescentou.
O cineasta é o primeiro afro-americano a ocupar o posto de presidente do júri do Festival de Cannes, que começa nesta terça-feira (6) com o musical Annette, estrelado por Adam Driver e Marion Cotillard. Além deste, outros 23 filmes disputam a Palma de Ouro nesta 74ª edição, que marca o retorno do evento após cancelamento no ano passado devido à pandemia.
Durante a coletiva, Lee também lembrou de ter apresentado o filme Faça a Coisa Certa (1989) em Cannes.
— Quando você vê como o irmão Eric Garner e o rei George Floyd foram mortos, linchados... Você pode pensar que depois de 30 malditos anos os negros parariam de ser caçados como animais — comentou ele sobre o longa que aborda violência contra os negros nos Estados Unidos.
Pandemia e igualdade de gênero
Ao lado de Lee, o júri conta com figuras como Song Kang-ho, Mélanie Laurent, Mati Diop, Maggie Gyllenhaal e o diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho, que em 2019 conquistou, com Juliano Dornelles, o prêmio do júri com Bacurau.
Em suas primeiras declarações, Mendonça Filho falou sobre a crise de saúde que o Brasil enfrenta, com mais de meio milhão de mortes por causa da covid-19.
— Segundo dados técnicos, se o governo tivesse feito a coisa certa, 350 mil vidas teriam sido salvas — declarou ele, lamentando também o "fechamento há mais de um ano da cinemateca brasileira, com 90 mil títulos (...) e todos os técnicos e especialistas despedidos".
Já as mulheres do júri, que são a maioria, exigiram mais igualdade no setor.
— Mesmo dentro de uma cultura tão masculina, fazemos filmes diferentes, explicamos as histórias de uma maneira diferente. Vamos ver o que acontece com um júri de cinco mulheres e quatro homens — disse a atriz americana Maggie Gyllenhaal.