A sociedade que representa autores, diretores e produtores da França criticou, nesta terça-feira (15), a convocação de boicote contra o filme Mignonnes, disponível na Netflix. De acordo com a entidade, a ação é "um sério atentado à liberdade de criação".
"Este filme produzido na França, e posteriormente comprado pela Netflix para veiculação nos Estados Unidos, é emblemático da indispensável liberdade de expressão que o cinema, em toda a sua diversidade, necessita para abordar questões incômodas e, portanto, necessárias para o exercício da democracia", declara a Authors, Filmmakers and Producers (ARP) em um comunicado.
"Em uma altura em que os americanos mais conservadores apelam ao boicote ao filme Mignonnes, queremos dar o nosso apoio a Maïmouna Doucouré, a sua realizadora, que ganhou o prêmio de melhor realizador no Festival de Cinema de Sundance", acrescenta.
Milhares de internautas norte-americanos acusam o filme de sexualizar as meninas que o estrelam. A diretora Maïmouna Doucouré e a Netflix destacam que, ao contrário, o objetivo do filme é justamente denunciar a sexualização das crianças.
Uma primeira onda de críticas em agosto levou a Netflix a retirar o pôster usado para promover o filme, que estreou nos cinemas em meados daquele mês na França, antes de ser transmitido online nos Estados Unidos em 9 de setembro com o título de Cuties.
Embora os ataques venham de todos os tipos de usuários da Internet, inclusive da esquerda, a questão reuniu muitos conservadores americanos.
— A polêmica começou com o pôster (...) O mais importante é ver o filme para entender que estamos na mesma luta — disse Doucouré, citada nesta segunda-feira (14) pela revista americana Variety.
Mignonnes, premiado no American Sundance Festival, conta a história de Amy, uma parisiense de 11 anos que deve transitar entre as regras rígidas de sua família senegalesa e a tirania da aparência nas redes sociais, a que está exposta jovens de sua idade. Amy faz parte de um grupo de dança formado por outras três garotas de seu bairro, cujas coreografias por vezes são sugestivas.