Há 20 anos, Amnésia estreava no Festival de Veneza. Há 10, A Origem brilhava nos cinemas. E, há cinco anos e alguns meses, o público era apresentado a Interestelar. Christopher Nolan, no entanto, ainda não acha que é hora de parar de brincar com o tempo. Nesta quarta-feira (26), pelo menos em parte do mundo, o diretor introduz uma nova odisseia temporal à sua filmografia com Tenet.
E não é qualquer estreia, mas uma turbinada de expectativa sobre a retomada dos cinemas. Desde março, grandes lançamentos só foram vistos no streaming. Agora, quando alguns países já reabriram suas salas, surge a pergunta: o público vai comparecer? Tenet vai ter seu sucesso medido também por essa reação, assim como seu legado.
Antes disto, no entanto, críticos que já receberam cópias do longa-metragem têm opiniões diametralmente opostas sobre a qualidade da produção. Catherine Shoard, no jornal britânico The Guardian, declarou que o filme não vale uma temerária visita ao cinema e talvez nem uma sessão noturna na televisão, daqui a cinco anos. "Há algo desagradável em um filme que insiste em detalhar sua pseudociência, ao mesmo tempo em que reconhece que você provavelmente não terá entendido nada", escreveu.
Ela definiu a obra como um "palindromic dud" ("besteirol palíndrômico", em tradução livre). Palíndromos são sequências de unidades (sejam letras, números ou símbolos) que permanecem com o mesmo significado independente da direção de leitura, como em Tenet, oco e osso. Tenet, especialmente, é o palíndromo original, do Quadrado Sator.
Mas a jornalista do The Guardian não foi a única insatisfeita. No portal Deadline, Anna Smith classificou a obra como o filme de Christopher Nolan que "você pode perder". Mais uma vez, o longa é acusado de usar muitos conceitos difíceis sem nunca explicar muito bem como a inversão do tempo — o tema central da história, já visto nos trailers de Tenet — funciona. "O diálogo fortemente expositivo pode não conquistar o público de pipoca, mas os fãs de Nolan devem saborear a chance de decodificá-lo em várias exibições", destacou Anna.
Assim como no Deadline, a crítica do New York Times Jessica Kiang encontrou paralelos entre Tenet e James Bond. John David Washington, o protagonista sem nome do filme, não deixa de ser um agente secreto em ação. E, mesmo que aqui a produção seja declarada um bom entretenimento, sobra uma alfinetada para suas aspirações no mundo da ficção científica: "(Tenet) é inegavelmente agradável, mas sua grandiosidade vertiginosa serve apenas para destacar a fragilidade de sua suposta inteligência."
Já no Los Angeles Times, Jonathan Romney viu as coisas de forma diferente, vendo genialidade na utilização de sci-fi em meio à uma narrativa de ação já comum. "É basicamente uma aventura de espionagem, mas com uma espinha dorsal de ficção científica: Nolan aumenta a aposta em Missão: Impossível tornando a impossibilidade não apenas física, mas física quântica. E ele faz isso habilmente, de maneira otimista e com uma intenção vertiginosa e perversa de confundir".
Ellise Shafer, na revista norte-americana Variety, ainda defende o filme justamente pelo espetáculo que entrega à audiência. "É apenas um filme: um grande, impetuosamente bonito e grandiosamente agradável que fornecerá socorro ao público há muito sedento por um espetáculo escapista nesta escala robusta feita para IMAX."