Em 2007, José Mojica Martins foi homenageado pela Sala Redenção, em Porto Alegre, com uma mostra especial pelos seus 50 anos de carreira. Na época, o cineasta conversou com Zero Hora sobre sua trajetória e a relação com a Capital. GaúchaZH republica o texto nesta quarta-feira (19), com algumas atualizações.
Maldito, louco, satânico. José Mojica Marins completou 50 anos de carreira em 2007 consagrado no imaginário popular pelos adjetivos assustadores ligados a sua persona cinematográfica: Zé do Caixão.
Visionário, transgressor, persistente. São as palavras que melhor definem a trajetória do cineasta paulista. Em 2007, ele conclui após muita luta, como de costume, seu mais ambicioso projeto: A Encarnação do Demônio, ponto final da trilogia de terror iniciada em 1964 com o clássico À Meia-Noite Levarei Sua Alma.
Porto Alegre entrou no clima de comemoração com a exibição, na Sala Redenção, de uma mostra com oito filmes de Mojica, seis deles protagonizados por Zé do Caixão. Durante a programação, ele esteve na Capital para um bate-papo com os fãs, no Salão de Atos da UFRGS.
— Recebo muitas mensagens do pessoal de Porto Alegre — disse Mojica, por telefone. — Lembro que uma vez, nos anos 1980, fui acompanhado até o aeroporto por uma multidão que cantava o hino do Zé do Caixão.
A mostra exibiu títulos como À Meia Noite Levarei sua Alma e Esta Noite Encarnarei no seu Cadáver (1967), filmes com os quais Mojica iniciou a trilogia e a luta contra a falta de recursos (não raro investindo tudo que tinha nos projetos), censura (pelo excesso e violência e sexo) e reconhecimento (no Exterior é cultuado como um mestre do gênero, não apenas como figura folclórica).
— Durante muito tempo, me incomodou essa confusão entre o Mojica e o Zé do Caixão — lembra. — Convivia com pessoas que se ajoelhavam aos meus pés e outras que faziam o sinal da cruz e saíam correndo. Mas hoje isso não existe mais. E também não tenho mais necessidade de me matar para fazer um filme com pouco dinheiro. Jamais abri mão da minha visão autoral, do meu cinema artesanal, e por isso demorei tanto para filmar