O Festival de Cinema de Veneza concedeu nesta quinta-feira (29) um Leão de Ouro pelo conjunto da obra ao cineasta espanhol Pedro Almodóvar.
— Trinta anos depois, me dão o Leão de Ouro por um filme de 1988. É um ato de justiça poética — comentou Almodóvar alegremente durante uma coletiva de imprensa antes da cerimônia de premiação.
O diretor se referia ao filme Mulheres à beira de um ataque de nervos, que competiu à época em Veneza e que havia entusiasmado o então presidente do júri, o cineasta italiano Sergio Leone. Em sua homenagem, o festival mostra justamente o longa que o lançou no cenário internacional.
Almodóvar, que em 25 de setembro completa 70 anos de idade, ganhou destaque mundial com as cores e o atrevimento de seus filmes e iniciou sua carreira internacional a partir da mostra da cidade italiana.
— Meu batizado foi aqui, neste festival, em 1983, com o filme Maus Hábitos. Participar de um festival internacional para mim era um milagre — afirmou ao relembrar sua carreira cinematográfica.
O "leão ferido", como o chamou a imprensa italiana, ficou emocionado ao receber o prêmio, que fará companhia aos dois Oscar por Tudo sobre minha mãe e Fale com ela. Conhecido por filmes descontraídos e corrosivos e que evoluiu em direção a uma cinema mais introspectivo, Almodóvar reconheceu que seu cinema é o "produto da democracia espanhola".
— Meus filmes são a demonstração de que é real. Quando comecei a fazer filmes, não se falava em diversidade. A vida era muito diferente — disse.
— Como diretor, coloquei em todos os meus filmes toda a variedade que havia na vida — declarou ao se referir a temas "almodovarianos": masoquismo, homossexualidade, masturbação, drogas, pornografia, ataques à religião.
Em uma alusão à sua homossexualidade, ele acrescentou que "para mim, era a própria vida".
— Todas as orientações sexuais eram bem-vindas. Meus personagens têm autonomia moral, sejam transexuais, freiras ou donas de casa — explicou.
O cineasta confessou ainda que em seus filmes a cor reina como uma espécie de "reação" contra sua terra natal.
— Era como uma reação contra o lugar onde nasci, La Mancha, então extremamente conservadora, calvinista, com pouca cor e muito árida. O oposto de como eu me sentia — revelou.
— Não me lembro de ter visto a cor vermelha na minha infância. Apenas o preto do luto — concluiu, com seu tradicional estilo irônico.