Uma delicada reaproximação entre pai e filho é o mote de Uma Viagem Inesperada, em cartaz na Sala Norberto Lubisco da Casa de Cultura Mario Quintana, com sessões às 17h30min. Coprodução entre Argentina e Brasil, o drama também permeia temáticas como o complexo universo dos adolescentes e o bullyng.
Uma Viagem Inesperada é dirigido por Juan José Jusid – cineasta argentino conhecido por produções como Asesinato en el Senado de la Nación (1984), Made in Argentina (1987) e Bajo Bandera (1997) –, que, desta vez, procura promover uma travessia de redescobrimento pessoal e familiar.
Na trama, somos apresentados ao engenheiro Pablo (Pablo Rago), que leva uma vida bem-sucedida no Rio de Janeiro, onde comanda a instalação de uma plataforma de exploração de petróleo prestes a ser inaugurada. Ele namora uma brasileira (vivida por Débora Nascimento, no ar em Verão 90, novela das sete da Globo), que engravida. Em um momento chave de sua vida, Pablo recebe um chamado de sua ex-mulher, Ana (Cecília Dopazo), direto da Argentina. Ela avisa que o filho adolescente, Andrés (Tomás Wicz), tem passado por uma série de crises, embriagando-se constantemente e chegando a levar um facão para a escola. Desesperada, a mãe já não consegue mais se comunicar com o jovem. Ana exige que o ex-marido retorne para Buenos Aires e passe um tempo com Andrés.
A contragosto, Pablo parte para a Argentina. A relação com seu filho é azeda e distante, não apenas geograficamente. Não há intimidade: os dois são estranhos um para o outro. Como muitos adolescentes deslocados, Andrés se fecha em seu mundo e reluta em se abrir para o seu pai. Já o engenheiro é um homem egoísta e desapegado afetivamente, que derrapa facilmente em suas responsabilidade. Entre os dois, não há muita empatia, mas sobra desconfiança. Para tentar estabelecer um vínculo com seu filho, Pablo decide viajar com ele para a bucólica e interiorana Bolivar – sua cidade natal.
Embora o palco montado para a narrativa seja interessante, os personagens não evoluem de forma satisfatória, e os conflitos são resolvidos de forma rasa, por meio de monólogos que relatam situações dramáticas do passado, além de diálogos que soam impostados. O olhar do cineasta sobre os adolescentes argentinos também não chega à superfície, transparecendo estereotipação. De qualquer maneira, Pablo Rago e, principalmente, Tomás Wicz entregam uma boa química quando contracenam juntos. A estrada para a viagem inesperada de pai e filho é cheia de pedras e percalços, mas, mesmo assim, agridoce.