Imagens como a da babá flutuando com seu guarda-chuva, músicas como Feed the Birds e expressões como “Supercalifragilisticexpialidocious!” estão marcadas no cérebro dos fãs de Mary Poppins.
– Entendo que eles queiram proteger seu filme tão querido – diz a atriz Emily Blunt, que tem a difícil missão de fazer o papel eternizado por Julie Andrews em O Retorno de Mary Poppins, continuação do clássico de 1964 que estreia nesta quinta-feira (20) nos cinemas.
A história se passa cerca de 20 anos após o filme original, com a Inglaterra mergulhada na Grande Depressão provocada pela crise econômica mundial de 1929. As crianças do filme original agora são os adultos Jane (Emily Mortimer) e Michael (Ben Whishaw), que é pai de três filhos um tanto negligenciados. Aí entra Mary Poppins.
Diretor da sequência, que tem quatro indicações ao Globo de Ouro, Rob Marshall (dos musicais Chicago e Caminhos da Floresta) resume em uma palavra sua abordagem: “respeito”.
– Primeiro de tudo, jamais faria uma refilmagem. Não ousaria tocar no filme original. Tínhamos de encontrar outra forma de contar a história.
A solução que ele, o coreógrafo John DeLuca e o roteirista David Magee acharam foi mergulhar nos outros sete livros escritos por P.L. Travers, a arredia autora que foi tema do filme Walt nos Bastidores de Mary Poppins (2013).
– No fim, disse “sim” também porque não queria correr o risco de outra pessoa dirigir e desrespeitar o filme que amo tanto – afirma Marshall.
Nenhuma das músicas originais está na continuação, que tem canções novinhas compostas por Marc Shaiman e Scott Wittman, dupla apaixonada pelos irmãos Sherman, autores das canções do primeiro filme.
Um clássico não datado
Marshall destaca que sempre sonhou em fazer um musical original, e O Retorno de Mary Poppins era a ocasião perfeita:
– Queria que fosse clássico, não datado.
O diretor criou, por exemplo, sua própria versão da sequência de animação em 2D, trazendo artistas da aposentadoria para poder fazê-la:
– Esta cena faz parte do DNA de Mary Poppins.
Mas os movimentos de câmera são mais modernos e há até uso de drones, algo que, acredita Marshall, Walt Disney aprovaria:
– Ele sempre tirava vantagem das novidades, das novas tecnologias.
Em vez do limpador de chaminés Bert (Van Dyke), a nova versão tem um acendedor de lampiões Jack, vivido por Lin-Manuel Miranda, do fenômeno da Broadway Hamilton.
– Ele é perfeito para o papel, porque tem uma pureza e um otimismo contagiantes – elogia Emily Blunt.
Mas Van Dyke, aos 91 anos, faz uma aparição especial.
– Ninguém ficou de olhos secos no dia em que ele filmou – lembra Miranda. – Passar um tempo com Van Dyke é como tomar cafeína na veia. Tem mais energia do que qualquer garoto.
Os atores tiveram oito semanas de ensaios para os números de canto e dança complexos, que deixaram tanto Emily quanto Miranda um pouco preocupados.
– Quase tudo foi feito de verdade, sem CGI (computação gráfica) – ressalta Emily. – Dançar fez meus joelhos tremerem. Tenho um passado na ginástica e sei me mover, mas não sou bailarina.
Os dois foram indicados para o Globo de Ouro, e Emily concorre também no Screen Actors Guild. Para todos os envolvidos, O Retorno de Mary Poppins não poderia chegar em hora mais propícia.
– Estávamos desesperados para fazer algo assim, uma fantasia esperançosa e emocionante, para equilibrar com esse mundo em que vivemos – afirma Marshall. – Meryl Streep (que faz uma pequena participação) topou imediatamente, me dizendo: “Quero fazer parte do envio desta mensagem bonita. Para mim, este é um presente para o mundo neste momento”.
Papel valeu o Oscar a Julie Andrews
Julie Andrews já era uma atriz respeitada no teatro quando estreou no cinema em 1964, com Mary Poppins. Seu talento musical reforçado pela bela voz de soprano e a fama no palco convenceram Walt Disney a convidá-la para o papel principal. Uma decisão certeira, pois Julie levou o Oscar de melhor atriz logo em seu primeiro trabalho cinematográfico – e seria indicada novamente na categoria com outro musical clássico, A Noviça Rebelde (1965).
Para muitos, foi uma doce vingança. Naquele mesmo ano de 1964, outro musical que se tornou histórico, My Fair Lady (Minha Bela Dama, no Brasil), não teve sua protagonista, Audrey Hepburn, entre as indicadas. Vingança porque Julie brilhou nos palcos nesse papel que coube a Audrey na tela grande porque o chefão da Warner, Jack Warner, acreditava que a falta de experiência de Julie no cinema pudesse comprometer o sucesso do filme.