Estou no pátio de uma prisão de segurança máxima nos Estados Unidos. Viro para os lados e enxergo muros alambrados e um horizonte desértico do oeste americano. Céus, o que foi que eu fiz? Nada, estou em Step to the Line.
Produzido para ser exibido em realidade virtual, o curta-documentário Step to the Line foi exibido em um corte para tela plana nesta quinta-feira no Gramado Film Market – Conexões, dentro da programação do 45º Festival de Cinema de Gramado. A projeção ocorreu durante o painel Filmando com Realidade Virtual, do diretor brasileiro Ricardo Laganaro, no Hotel Serra Azul. Porém, o verdadeiro potencial do filme pode ser conferido no corredor em frente à sala onde era realizado o painel, em dois óculos de realidade virtual disponíveis.
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Produzido pela O2 Filmes em parceria com a Oculus VR, Step to the Line mostra o trabalho feito pela ONG Defy Ventures em prisões de segurança máxima nos Estados Unidos, que promove encontros entre presos e empreendedores. O mote do curta é refletir que a saída do encarceramento não é fácil e é preciso ressocializar o detento para que ele não retorne à prisão.
Durante o curta, o espectador se vê em meio às cenas, assistindo ao que ocorre no cenário em 360º. Em um primeiro momento, ao perceber que mexer a cabeça pode levar a outro ângulo do cenário, a experiência pode remeter a um game em primeira pessoa. Como não há possibilidade de interação com personagens e objetos, a sensação é que você é Sam Wheat (Patrick Swayze), protagonista de Ghost – O Outro Lado da Vida, ou seja, um fantasma que está ali na butuca.
Conforme Laganaro explicou no painel, o importante é que cada cena de um filme rodado em realidade virtual tenha um norte. Eu sempre procurava o sul: queria saber o que tinha atrás de mim. Por exemplo, em uma cena que a câmera se movimenta entre duas filas de presos, ao girar para trás, o espectador se depara com um membro da equipe empurrando um carrinho sobre trilhos. De repente, o espectador se pega girando não só a cabeça, mas também o corpo, sem sair do lugar, como se fosse um parafuso humano.
A realidade virtual promove uma expansão das dimensões da obra e uma melhor percepção do cenário. Há uma cena rodada em uma cela em que girando ao redor dá para se sentir claustrofóbico naquele espaço apertado de confinamento.
Ainda há muito a explorar com produção cinematográfica envolvendo realidade virtual, afinal, a mídia ainda é incipiente. Como destacou Langanaro, a gramática do meio ainda está sendo construída. De qualquer maneira, os óculos de realidade virtual não podem ser ignorados como um novo suporte para contar histórias.
Assista ao filme: