Paulo Betti apresentará na noite desta terça-feira (22), na mostra competitiva nacional do Festival de Gramado, A Fera na Selva, que estrela e dirige em parceria com Eliane Giardini – com Lauro Escorel assinando com eles a codireção. Baseado na obra do escritor americano Henry James, o filme conta a história de um homem à espera de que algo extraordinário venha a acontecer em sua vida, negligenciando os afetos ao ser redor. Em entrevista a Zero Hora, Betti falou sobre o filme.
Quando você visitou a redação de ZH, em junho, estava esperançoso em lançar A Fera na Selva em Gramado. Qual seu sentimento com a seleção do filme para o festival?
Estou me sentindo como se estivesse duplamente premiado. Que alegria! Que satisfação! Cancelei minha peça em São Paulo só para ficar em Gramado e curtir o festival todo até a entrega dos prêmios. Estou me sentindo muito bem com este filme.
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Você já encenou A Fera na Selva com a Eliane no teatro nos anos 1990. O filme é mais uma adaptação da peça ou do texto do Henry James?
Houve um longo trajeto entre a peça e o filme. Pelo menos, uns 20 tratamentos de roteiro. Mas eu mantive a essência da peça, que é a essência da história do Henry James. Tem uma origem no teatro, mas sem temer a literatura, no tom do filme. Ele fala de um jeito mais empostado, em conjugações verbais, de uma forma um pouco mais elevada, que acho até conveniente para o que os personagens estão fazendo, no caso, uma prospecção filosófica e psicológica. Nesse sentido, tem uma origem no teatro sim, eu sou uma pessoa de teatro. Então, o filme é profundamente teatral.
De que maneira esse texto é marcante para você?
Quem me apresentou esse texto foi a Eliane Giardini (ex-mulher de Betti). Tudo que é muito bom e parecido com a gente, num primeiro momento, a gente rechaça. Eu não entendi A Fera na Selva quando a Eliane me deu na primeira vez. Do teatro para o cinema, eu é que fiz a transposição. Gosto muito do roteiro, lutei muito por ele, até pelo aspecto literário.
A Fera na Selva tem uma divulgação diferenciada, que envolve debater livro e o filme com o público didaticamente pela internet, como um curso. Você estava coletando e-mails do público em suas apresentações no teatro para possíveis participantes. Como anda esse projeto?
De vento em popa. Estou cada vez mais contente com isso. Sou muito ligado à educação. Estou fazendo isso para lançar meu filme. Não é fácil lançar um filme de conteúdo filosófico e psicológico, e ainda baseado em uma obra literária. Decidi aprofundar isso. Está indo muito bem, há diversos lugares do Brasil se interessando. Estou com umas cinco mil pessoas mais ou menos seguindo esse projeto. Estou com um espaço bom para lançar em Belém, em Manaus e em Porto Alegre. Acho que essa ideia conquistou as pessoas.
A Fera na Selva é filmado em Sorocaba (SP), onde você nasceu. Como foi rodar um filme em sua terra natal?
Foi uma alegria. A cidade abraçou o filme de uma forma positiva e entusiasmada. Todos os figurantes leram o roteiro e o livro de Henry James. Fizemos um cineclube no qual passamos 10 filmes fazendo referências para o nosso longa. Foi um processo aberto. Quando acabou a projeção de Limite, do Mário Peixoto, que é um filme difícil, um menino de 12 anos resolveu falar. Ele disse que eu deveria mudar o final do roteiro, o que acatei. O menino criou uma cena.