Gatos começa com uma imagem aérea de Istambul, uma das maiores e mais cosmopolitas metrópoles do mundo. Os planos seguintes adentram as ruelas da cidade, seus espaços diminutos ocupados por muita gente e prédios velhos cheios de história. Em seguida vêm os personagens.
O documentário turco em cartaz a partir desta quinta-feira nos cinemas foge dos modelos tradicionais de filmes não ficcionais, mas não pela forma, e sim porque esses personagens são, como o título indica, gatos. A câmera da diretora Ceyda Torun os segue em suas andanças, buscando comida, cuidando dos filhotes, interagindo com as pessoas.
Há muita música na trilha, inclusive e sobretudo instrumental, estabelecendo uma espécie de sinfonia de Istambul pelo ponto de vista dos pequenos felinos, o que remete ao subgênero dos documentários poéticos sobre as cidades, que engloba de Berlim, Sinfonia da Metrópole (1927) a Suíte Havana (2003). Mas, diferença fundamental em relação a esses filmes, entrevistados pontuam a narrativa de Gatos com relatos sobre suas relações com os bichanos.
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São depoimentos em geral bonitos, de quem, coisa não tão comum assim, consegue efetivamente estabelecer uma comunicação harmoniosa com eles.
Istambul trata bem os gatos – é a imagem que fica do filme. Eles "personificam o caos da cidade", diz um desses entrevistados, no início do longa. "Sem eles, Istambul perderia parte de sua alma", prossegue.
Não é apenas porque são fofos. Um dos méritos de Gatos, o filme, é ir além dos clichês e aprofundar o exame da relação dos felinos com as pessoas e o ambiente em que vivem, incluindo os problemas advindos do aumento da população e da escassez de comida. Outro: conseguir capturar a "personalidade" de cada gato apresentado, graças ao olhar atento aos seus movimentos e, sobretudo, a uma montagem bastante competente.
Ainda no início da projeção, uma lojista conta que conversa, literalmente, com uma gata que costuma visitar seu estabelecimento comercial. "E ela responde. De verdade." Em seguida, nova frase com a qual aqueles que gostam dos felinos devem se identificar: "Eles doam uma energia boa e absorvem a negativa que está no ambiente".
Tem quem cuide de maneira ainda mais dedicada dos animais que perambulam pelas ruas, alimentando filhotes perdidos, protegendo-os dos perigos diversos. Nesses casos, fica mais escancarada a incompreensão quanto a ter gatos como animais de estimação. "Por que prendê-los numa casa? Só para fazer carinho neles? Há milhares lá fora, podemos fazer carinho quando quisermos", defende um dos entrevistados. Ele não sabe que, diferentemente da capital da Turquia, alguns locais são mais hostis aos pequenos felinos.
O que acaba reforçando a ideia inicial do filme: de fato, há particularidades na relação dos gatos com Istambul que precisam ser examinadas em seus pormenores. É por fazer isso que Ceyda Torun nos entrega um bom documentário, capaz de agradar a todos e de encantar particularmente quem gosta deles.
GATOS
De Ceyda Torun
Documentário, Turquia/EUA, 2016, 79min.
Cotação: bom
Onde ver: Sexta (21) - Cinespaço Wallig 7 (13h40, 15h30, 17h20, 19h10, 21h10). Sábado (22) e Domingo (23) - Cinespaço Wallig 7 (13h40, 15h30, 17h20, 19h10, 21h10)Espaço Itaú 3 (11h30, 13h30, 15h20, 17h10, 19h)