Ele é a cara do Cinema Novo e um dos atores mais queridos do Brasil. Com mais de 60 filmes no currículo, Antonio Pitanga é um personagem cuja dimensão artística e humana é celebrada no documentário dirigido por Beto Brant e Camila Pitanga. No entanto, ainda que o diretor de Cão sem Dono (2007) e Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios (2012) e a atriz filha do homenageado preencham os 113 minutos de projeção com a presença solar do veterano astro de 77 anos, Pitanga não consegue dar conta da dimensão do seu tema.
O longa é conduzido pelos encontros do retratado com familiares e artistas que cruzaram sua trajetória – desde a estreia em 1960 no drama Bahia de Todos os Santos, o soteropolitano trabalhou com virtualmente todo mundo no cinema, no teatro e na televisão nacionais. A procissão de reuniões de Antonio Pitanga com nomes como Cacá Diegues, Caetano Veloso, Walter Lima Jr., Neville d’Almeida, Ziraldo, Joel Zito Araújo, Hugo Carvana, Tonico Pereira, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Luiz Carlos Barreto, Zé Celso Martinez Corrêa e Milton Gonçalves, entre muitos outros, é costurada por trechos de filmes nos quais o intérprete atuou – de A Grande Feira (1961) a Apolônio Brasil, o Campeão da Alegria (2003), passando por O Pagador de Promessas (1962), Barravento (1962), Ganga Zumba (1963), Menino de Engenho (1965), A Grande Cidade (1966), Quando o Carnaval Chegar (1972), Joanna Francesa (1973), A Idade da Terra (1980), Rio Babilônia (1982) e Quilombo (1984).
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É muita coisa – em todos os sentidos: as histórias evocadas por essas personalidades da cultura brasileira em suas conversas com Pitanga são ricas demais para serem apresentadas tão sucintamente como no filme, mais concentrado em mostrar o maior número possível de entrevistados do que em efetivamente explorar a ligação deles com o perfilado. A sucessão de visitas chega a se tornar cansativa devido à repetição do formato – muitas vezes valendo-se do expediente canhestro de registrar o momento da chegada de Pitanga do lado de dentro da casa do anfitrião, que recebe o convidado com encenada surpresa.
Pitanga, entretanto, é maior do que esses problemas: seu sorriso permanente ilumina as sequências ao lado de Camila e Rocco Pitanga – filhos de seu casamento com a atriz Vera Manhães –, dos netos e da esposa, Benedita da Silva, ex-governadora do Rio de Janeiro. Além de enfatizar sua dedicação à família e relembrar seu engajamento no movimento negro no final dos anos 1960, incentivado pela luta por direitos civis nos Estados Unidos, o doc também se rende ao poder de sedução de Pitanga. Legítimo "homme à femmes", o ator contabiliza um gigantesco rol de antigas conquistas e ex-namoradas, como Maria Bethânia, Ittala Nandi, Tamara Taxman, Léa Garcia, Angela Leal, Ruth de Souza, Maria Creuza e Zezé Motta – mulheres cujo brilho rendido no olhar, registrado pelas câmeras, denuncia o afeto devotado ao galante interlocutor.
PITANGA
De Beto Brant e Camila Pitanga
Documentário, Brasil, 2016, 110min
Em cartaz no Espaço Itaú, às 16h e 21h20min