1) Sintetizou como nenhum outro filme a era do videoclipe
Com uma combinação certeira de músicas pop (reunidas em dois discos que viraram clássicos), planos rápidos e montagem ágil, além da fotografia repleta de filtros, o filme trabalhou o que os teóricos definiram como a fragmentação da imagem de uma forma única. A seguir, o diretor Danny Boyle seria acusado de maneirista por levar adiante essa formatação estética (em filmes como o premiado Quem Quer Ser um Milionário?), mas em Trainspotting conseguiu sintetizar uma era da cultura pop – a do videoclipe dos anos 1990, repleto de ecos ainda dos anos 1980.
2) A lisergia em sequências inesquecíveis
Trainspotting está longe de ser o primeiro filme a "ilustrar" delírios provocados pelo consumo de drogas, mas poucas vezes o cinema conseguiu seduzir tanto a partir dessas imagens. O mergulho de Spud no vaso sanitário é apenas uma das sequências dignas de antologia apresentadas por Danny Boyle, que aproveitou o carisma de seus atores e personagens para fazer o espectador mergulhar em suas viagens.
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3) As músicas
Não cabe em uma, talvez nem em duas mãos cheias a lista de hits reunidos nos dois álbuns "duplos" que apresentaram a trilha sonora de Trainspotting. Lust for Life, de Iggy Pop, Born Slippy, do Underworld, talvez tenham sido as que mais marcaram, mas, de Brian Eno a Primal Scream, passando por Blur e Lou Reed, com músicas compostas para o filme e outras já conhecidas do público, Boyle reuniu um compilado que fez história – poucas vezes discos de trilhas de filmes venderam tanto.
4) Os personagens carismáticos
O sotaque, com suas gírias enigmáticas, o contexto (o underground de Edimburgo, na Escócia) ajudam, mas as personalidades de Renton, Spud, Sick Boy e Franco são um dos segredos do sucesso de Trainspotting. Renton, o narrador-protagonista, é uma espécie de mediador entre o espectador mais "certinho" e aquele universo de contravenções. Os outros três são, cada um a seu modo, a cara do desajuste social. Franco, particularmente, ainda representava o alívio cômico, que fazia o público rir de toda aquela desgraça que era o seu mergulho no universo de drogas e crimes.
5) Politicamente muito incorreto
A rebeldia juvenil, periodicamente, encontra algum filme ou outro produto da cultura pop como símbolo. Os jovens dos anos 1990 se identificaram com Trainspotting. Não necessariamente porque o filme falava do uso de drogas (há muitos outros sobre esse tema), mas porque entendeu essa rebeldia à luz do seu tempo. Mark Renton, o personagem de Ewan McGregor que penetra nesse submundo, é um alter ego de uma geração inteira.