O palestino Hany Abu-Assad já emplacou dois ótimos títulos entre os finalistas ao Oscar de filme estrangeiro: Paradise Now (2005), tenso thriller sobre dois homens-bomba que levou o Globo de Ouro e três prêmios no Festival de Berlim, e o drama romântico e político Omar (2013). O Ídolo (2015), mais recente longa do diretor, também foi indicado à estatueta dourada, mas não chegou a constar entre os finalistas da premiação. Em cartaz a partir desta semana na Capital, O Ídolo abre mão da alta voltagem dramática das produções anteriores do cineasta em favor de um registro mais leve, alternando-se entre o cômico e o excessivamente sentimental para contar a história verídica de um jovem aspirante a cantor que se tornou o primeiro palestino a vencer o mais popular concurso de calouros do mundo árabe.
O Ídolo narra a trajetória de Mohammed Assaf da infância em Gaza até as finais do programa Arab Idol, no Cairo, em 2013. Na primeira parte, o filme mostra o dia a dia do protagonista (interpretado pelo menino Kais Attalah) e a vontade precoce de dedicar-se à música, improvisando a duras penas uma banda pop amadora ao lado da irmã Nour (Hiba Attalah) e de amigos. Nour adoece por conta de insuficiência renal, e Mohammed, ao acompanhar a irmã em uma sessão de diálise, acaba conhecendo uma garota que sofre do mesmo problema, chamada Amal. Anos mais tarde, depois de uma série de decepções e perdas, o jovem adulto Mohammed (Tawfeek Barhom) deixou a música de lado, trabalhando como taxista na conturbada região que vive a permanente tensão entre árabes e israelenses. O reencontro com Amal (Dima Awawdeh) e o incentivo da moça despertam novamente no rapaz o desejo de cantar. O caminho até chegar à disputa televisiva que pode alçá-lo à fama, no entanto, é cheio de percalços, que vão desde a falta de dinheiro e de condições técnicas para se apresentar até a impossibilidade de cruzar a fronteira de Israel com Egito a fim de participar das eliminatórias do Arab Idol.
Leia também
Documentário "Waiting For B." mostra a devoção de fãs da Beyoncé
Cinema em Porto Alegre: novo filme do Wolverine, vencedor do Oscar e outras estreias desta semana
Além do realizador Hany Abu-Assad fazendo um pequeno papel, O Ídolo conta ainda no elenco com a talentosa e linda diretora, atriz e roteirista libanesa Nadine Labaki, que dirigiu e estrelou os filmes E Agora Onde Vamos? (2011) e Caramelo (2007). O Ídolo exibe também ao final imagens e depoimentos do verdadeiro Mohammed Assaf e registros jornalísticos da comoção popular que o avanço do calouro rumo à final do show provocou no território palestino. O cantor transformou-se em um raro representante cultural positivo de destaque internacional de um povo cuja imagem está geralmente associada a conflitos, violência e opressão – como o próprio Abu-Assad, que confessou no material de divulgação de O Ídolo ter ficado mais contente com o êxito do compatriota do que com o Prêmio Especial do Júri na mostra Un Certain Regard, em Cannes, conquistado por seu filme Omar:
– Fui flagrado pelas câmeras no meio de milhares de pessoas reunidas na praça em Nazaré para ouvir o resultado final de Arab Idol. Eu pulava de empolgação como um menino. Eu estava mais animado pela possibilidade de ele ganhar o Arab Idol do que pelo prêmio que eu havia ganho no Festival de Cannes três semanas antes.
O ÍDOLO
De HanyAbu-Assad
Comédia dramática, Palestina,2016, 95min.
Em cartaz no Guion Center 2
Cotação: regular