O ator, diretor, roteirista e apresentador de televisão Édouard Baer é um astro da comédia na França, já tendo atuado em mais de 40 filmes, apresentado três vezes o prêmio César – considerado o Oscar do cinema francês – e duas vezes o Festival de Cannes.
O artista francês de 50 anos esteve recentemente no Brasil divulgando Imprevistos de uma Noite em Paris (2016), longa que entrou nesta semana em cartaz na Capital.
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Escrito, dirigido e protagonizado por Baer, o filme acompanha a atribuladíssima jornada do hiperativo produtor Luigi para salvar seu teatro, que corre o risco de ser fechado na véspera da estreia de uma nova peça. No curto período de uma noite, o personagem principal precisa encontrar um macaco capaz de atuar, recuperar a confiança de sua equipe, enrolar sua assistente Nawel (Audrey Tautou, a musa de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain), que lhe cobra um mínimo de bom senso, e provar para sua jovem estagiária Faeza (Sabrina Ouazani, de O Passado) que existe uma maneira diferente – e temerária – de resolver os problemas: dando prioridade ao que achar mais divertido. No elenco dessa comédia alucinante – na qual Paris é mais um personagem exuberante da noite feérica –, destaca-se ainda o grande ator francês Michel Galabru, morto em janeiro de 2016, em seu último papel, interpretando a si próprio.
– Foi um tesouro ver Michel Galabru fazendo um personagem com essa intensidade e essa loucura natural – disse Édouard Baer em entrevista por telefone a Zero Hora.
Leia a entrevista com o diretor francês
Como surgiu a ideia de "Imprevistos de uma Noite em Paris"?
Adoro filmes que são retratos de alguém, de personagens de ficção que parecem existir de verdade, que encaram a sorte com confiança. Pensei em um personagem assim e depois construí uma história em torno dele, que tivesse uma pegada do tipo que os americanos chamam de "filme de estrada" e que o envolvesse.
Quais são as diferenças e as semelhanças entre você e o personagem Luigi?
Inventei um personagem de ficção influenciado por artistas que admiro como Woody Allen e John Cassavetes, que criam personagens a partir das coisas que eles têm medo, que expressam neles o seu melhor e o seu pior, mesmo que de forma exagerada.
Por falar em americanos, há algo também de comédia maluca hollywoodiana no seu filme. Quais foram suas referências?
Quando eu era mais jovem, amava muito as grandes comédias italianas dos anos 1960 e 1970, os filmes de Dino Risi, os personagens de Vittorio Gassman, gente com muita energia e loucura. Gostava dos personagens do Nino Manfredi, que passavam por situações malucas enormes, que não sei se eram de comédia ou de tragédia. Essas foram também minhas influências. Além disso, quis filmar Paris como se filmava também nas décadas de 1960 e 1970, com personagens envoltos em histórias e mistérios.
Seu filme é uma declaração de amor a Paris, ao teatro e à vida.
Sim, o resultado vem da crença no efeito desejado, na história, na energia. Luigi passa isso para todos os personagens, um crença que não se abala mesmo diante do impossível.
Como foi a escolha das atrizes Audrey Tautou e Sabrina Ouazani?
Adoro personagens femininos que têm muita personalidade como elas. Audrey e Sabrina são assim, além de belas e graciosas. Audrey é talvez a parisiense mais tradicional, enquanto Sabrina é a nova parisiense. Ao mesmo tempo, as personagens femininas são as que têm autoridade sobre Luigi. Funciona muito na comédia que, apesar da aparência frágil, elas sejam mais fortes do que ele.
Você transita com desenvoltura tanto entre a comédia popular quanto a mais sofisticada. Qual é o segredo?
Como espectador, adoro igualmente os dois tipos de comédia. Creio que primeiro me interesso por comédias que carregam um pouco de melancolia, como as de Woody Allen e as italianas, que já citei. Depois, tem as coisas americanas, como as comédias de Will Ferrell, que me fazem rir como as crianças com suas bobagens.
Imprevistos de Uma Noite em Paris
De Édouard Baer
Comédia dramática, França, 2016, 97min, 12 anos.
Em cartaz no Guion Center
Cotação: bom