Mais baixinho do que se imagina e sensivelmente careca, um agitado Luiz Inácio Lula da Silva abre a porta de sua casa vestindo um conjunto de ginástica de tactel azul e tênis de corrida preto para que nove agentes da Polícia Federal entrem. Quando recebe de um deles, o delegado Ivan Romano, a informação de que será levado para interrogatório no Aeroporto de Congonhas, assusta-se com a possibilidade de estar sendo preso.
O policial, quase pedindo desculpas, diz que "isso se chama condução coercitiva", ao que o ex-presidente explode:
– Isso se chama filhadaputice!
Leia mais:
"Lula é escorregadio, difícil de entender", diz Ary Fontoura, ator que vive o ex-presidente no filme
Na verdade, Lula é Ary Fontoura, o delegado é Antonio Calloni e a cena faz parte do filme Polícia Federal – A Lei É para Todos, que mostra os bastidores da Operação Lava-Jato sob o ponto de vista dos responsáveis pela investigação. Rodada em um condomínio da Barra da Tijuca, sob o sol escaldante do Rio, a cena é uma das mais importantes do longa (o roteiro termina com o depoimento de Lula à PF) e faz parte da reta final do cronograma de filmagens. ZH visitou o set na semana passada.
Com estreia prevista para julho e elenco composto por Flávia Alessandra, Rainer Cadete e Marcelo Serrado (no papel de Sergio Moro), Polícia Federal surge em meio a uma onda de obras baseadas na operação. O diretor Marcelo Antunez, que tem experiência restrita a comédias, como Qualquer Gato Vira-Lata 2 e Até que a Sorte nos Separe 3: A Falência Final, decidiu apostar alto: planeja rodar uma trilogia. Com distribuição da Paris Filmes e da Dowtown, mesma dupla que tem se associado para levar aos cinemas as chamadas globochanchadas, o longa é desde já um candidato a blockbuster brasileiro.
No total, o filme custará R$ 15 milhões. A própria PF forneceu suas imagens captadas durante as operações (da condução coercitiva de Lula, inclusive) e colocou os agentes à disposição da equipe. Mas Antunez rejeita o rótulo de chapa-branca:
– Queremos um filme de entretenimento. Não é nosso objetivo politizar o projeto.
Nas cenas em que o filme recria episódios reais, a ordem é interpretar de maneira mais parecida possível as ações dos personagens: Antonio Calloni, por exemplo, explicava os maneirismos de seu personagem dizendo que, nas imagens fornecidas pela PF, o delegado "quase se ajoelhava pedindo desculpas" para Lula.
Para Ary Fontoura, que interpreta o ex-presidente, o filme pode servir como trampolim para discussões políticas mais profundas. O ator – que se descreve como "um cidadão brasileiro que quer um país melhor" e diz que "participou como observador" da onda de manifestações – acredita que o longa pode servir para motivar discussões políticas mais profundas:
– Até pouco tempo atrás, éramos um país praticamente acéfalo. Hoje todos se preocupam com política. Acho o que tem acontecido de uma importância extraordinária.
*O repórter viajou a convite da produção do filme
Crise política e Operação Lava-Jato inspiram onda de produções
Além de Polícia Federal, outro projeto audiovisual deve retratar a operação Lava-Jato nos próximos meses: uma série que terá a direção de José Padilha (de Tropa de Elite e Narcos) e ainda está sem data de estreia prevista.
Também vem aí uma onda de filmes sobre a turbulência política que vive o país. Apenas sobre o impeachment de Dilma Rousseff há no mínimo três documentários de longa-metragem em produção, um deles dirigido por Petra Costa (de Elena), outro por Maria Augusta Ramos (Justiça).
Adirley Queirós (Branco Sai, Preto Fica) está filmando a crise em Era uma Vez Brasília, assim como Silvio Tendler, um dos principais documentaristas do país.