A soberana Viola Davis
Ela é a primeira atriz negra na história a ganhar todos os principais prêmios de atuação nos Estados Unidos: Oscar, Globo de Ouro, Tony e Emmy. A vitória de Viola Davis como melhor coadjuvante feminina porUm Limite Entre Nós – repetindo no cinema o papel que lhe rendeu no teatro o Tony em 2010 – consagra uma intérprete versátil e de presença magnética em cena. Ganhadora do Emmy de 2015 pela série How to Get Away with Murder, a norte-americana de 51 anos destaca-se tanto em filmes dramáticos como Histórias Cruzadas (2011) quanto em produções de entretenimento puro do tipo Esquadrão Suicida (2016). Elegante usando um vestido escarlate da grife Armani, Viola subiu ao palco no domingo à noite e proporcionou mais uma de suas célebres performances em cerimônias de premiação, que tanto têm encantado o público e quase já se tornaram rotineiras: chorando, a atriz agradeceu a estatueta recebida pelo papel da fiel e batalhadora esposa do protagonista Denzel Washington em Um Limite Entre Nós, fazendo um discurso emocionado e eloquente sobre o privilégio de exercer uma profissão que lhe permite viver outras vidas.
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Reflexos das mudanças na Academia
A destacada presença de profissionais negros entre os principais concorrentes ao Oscar, assim como de filmes abordando o preconceito racial nos EUA, refletiu a iniciativa da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas em buscar maior representatividade racial e sexual entre seus votantes. Conceder a estatueta de melhor filme a Moonlight: Sob a Luz do Luar, filme de pequeno orçamento sobre a jornada de autodescoberta de um menino negro e gay em meio à pobreza e à violência, simboliza um passo inédito e ousado da Academia. Ainda falta quebrar a barreira de dar a estatueta de direção a um cineasta negro. Barry Jenkins (na foto acima com Tarell Alvin McCraney, autor da peça inédita que inspirou o roteiro adaptado também premiado) foi apenas o quarto negro a disputar o prêmio. Diante dos discursos evocando tolerância e integração no palco do Dolby Theatre e das novas diretrizes da Academia – a entidade reelegeu como presidente Cheryl Boone Isaacs, uma negra, e tem entre os novos associados 283 profissionais de 59 países –, vida real e Oscar devem continuar em sintonia nos próximos anos.
Kimmel, comediante comedido
Um dos mais conhecidos humoristas e apresentadores de talk-shows dos Estados Unidos, Jimmy Kimmel foi a aposta da Academia para comandar a cerimônia do Oscar. Pode-se dizer que foi uma condução morna, quase protocolar, com o mérito de Kimmel optar mais pela contenção do que pelo histrionismo sarcástico de, por exemplo, Chris Rock, que conduziu a festa no ano passado. As previsíveis piadas com Donald Trump foram boas, seus improvisos alternaram momentos mais e menos inspirados e fez o que pôde para dar alguma graça às cafonices que o cerimonial preparou, como as guloseimas caídas sobre a plateia e a incursão de pessoas comuns em meio às celebridades. Comparando sua performance com a de colegas de ofício, saiu-se melhor do que David Letterman, que nunca pareceu à vontade na função, e não repetiu a desenvoltura da carismática Ellen DeGeneres. A presepada final poderia ter tido de Kimmel uma intervenção mais ativa para esclarecer a vexaminosa troca dos filmes, mas, convenhamos, nem o mais preparado rei do improviso haveria de driblar tamanha saia-justa em uma festa que é planejada em cada ínfimo detalhe.
O caçula Damien Chazelle
Ao erguer o Oscar de melhor direção por seu trabalho em La La Land: Cantando Estações, Damien Chazelle, com 32 anos completados em 19 de janeiro, tornou-se o mais jovem ganhador da categoria. Quebrou a marca que pertencia, desde 1931, a Norman Taurog, consagrado vencedor com a comédia juvenil Skippy, aos 32 anos e oito meses de idade – naquela ocasião, a cerimônia foi realizada no dia 10 de novembro. Chazelle é um dos mais promissores talentos revelados em Hollywood nos últimos anos. Apaixonado por jazz, fez o gênero marcar presença em todos os seus filmes, desde a estreia em longa-metragem com Guy and Madeline on a Park Bench, inédito no Brasil. A experiência em uma escola musical – ele toca bateria – inspirou-o a realizar o curta Whiplash, transformado em 2014 no longa Whiplash: Em Busca da Perfeição, sobre a relação entre um aluno prodígio e um professor carrasco vivido por J.K. Simmons, vencedor do Oscar de ator coadjuvante (o longa recebeu cinco indicações). Entre seus próximos projetos está First Man, sobre o astronauta Neil Armstrong, primeiro homem a pisar na Lua, em nova parceria com o ator Ryan Gosling.
A rainha Meryl Streep
A indicação a melhor atriz pela saborosa comédia dramática Florence: Quem É Essa Mulher? foi a 20ª da brilhante carreira de Meryl Streep. Não levou desta vez o Oscar – a intérprete já tem três estatuetas na estante –, mas foi lembrada e saudada pelo mestre de cerimônias Jimmy Kimmel e pelos colegas na plateia. Em uma noite pautada por comentários sobre o presidente Donald Trump e suas polêmicas decisões, Meryl não destoaria em nada se tivesse subido ao palco e replicasse o incisivo discurso que proferiu no Globo de Ouro ao receber o prêmio honorário Cecil B. DeMille, quando refutou as políticas contra imigrantes e cidadãos de países islâmicos adotadas pelo mandatário máximo dos Estados Unidos, além de denunciar a perseguição a veículos de imprensa que criticam a nova administração norte-americana.
Barrado na festa
O diretor iraniano Asghar Farhadi não pôde celebrar sua segunda estatueta de melhor filme estrangeiro, por O Apartamento. Tão logo tomou conhecimento das medidas contra a imigração impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, em seu início de mandato, que colocaram o Irã na lista negra dos países indesejados, Farhadi avisou que não iria comparecer à cerimônia. A atriz protagonista de O Apartamento, Taraneh Alidoosti, também avisou que não iria. Farhadi foi representado pelos compatriotas Anousheh Ansari , astronauta, e Firouz Naderi, cientista da Nasa. Anousheh leu a mensagem enviada pelo diretor, oscarizado em 2012 com A Separação: "Lamento não estar com vocês hoje. Minha ausência é por respeito pelas pessoas do meu país e das outras seis nações que foram ofendidas pela lei desumana que proíbe a entrada de imigrantes nos Estados Unidos".
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