O italiano Piero Messina reuniu em A Espera (2015) duas belas estrelas do cinema francês de distintas gerações: a madura Juliette Binoche – a maior atriz de seu país, ao lado de Isabelle Huppert – e a jovem Lou de Laâge, novo nome que vem se destacando graças a títulos como Respire (2014) e Agnus Dei (2016). Estreia na direção de longa do assistente de Paolo Sorrentino em Aqui É o Meu Lugar (2011) e A Grande Beleza (2013), A Espera concentra-se exatamente na intensidade dramática das atuações das protagonistas: Juliette vive uma mãe imersa em um luto prostrante e Lou encarna a radiosa namorada de seu filho, que viaja da França para a Sicília a fim de encontrar o rapaz. Giuseppe, porém, nunca aparece, deixando Jeanne intrigada, ao mesmo tempo em que Anna se aproxima de sua hóspede. À medida que se passam os dias na imensa e vazia villa, as mulheres estabelecem um vínculo cujo elo é a saudade pela ausência do homem que ambas amam.
Exibido no Festival de Veneza de 2015, A Espera é livremente inspirado em La Vita che Ti Diedi, peça de Luigi Pirandello (1867 – 1936). Rodado em um palácio siciliano que remete à residência do príncipe de O Leopardo (1963), o filme destaca-se pela fotografia exuberante, que ressalta tanto a beleza das paisagens e dos interiores quanto a expressividade das intérpretes – especialmente Juliette, cuja angústia silenciosa de sua personagem preenche a tela em longos planos fechados. Tanto maneirismo estético, porém, dissipa o calor da história, aproximando-a perigosamente do artificialismo.
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Como surgiu a história do filme A Espera?
O filme veio à minha mente há alguns anos. Um amigo me contou sobre um caso que ele tinha lido no jornal sobre um homem que perdera o filho e que decidira parar de falar, e as pessoas ao redor dele respeitavam essa decisão. Venho de uma família em que ninguém fala sobre quem morreu, e essa história me tocou. Fiquei pensando: "O que se passa na cabeça desse homem que resolveu parar de falar no dia do funeral do filho?". Mas nunca imaginei fazer um filme disso. Depois de uns dois anos, essa história começou a despertar lembranças da minha infância em um vilarejo siciliano, da procissão com a Virgem que aparece no final do filme. Comecei então a escrever um roteiro tentando imaginar como conectar essas coisas todas. Finalmente, entendi a ligação com a procissão: trata-se da história de uma mãe que perdeu o filho.
Como foi a escolha do elenco? Você já tinha pensado em Juliette Binoche quando escreveu o roteiro?
Quando escrevi o roteiro, tinha em mente a minha mãe. Para ser sincero, nunca achei que fosse conseguir rodar esse filme. Quando um produtor disse que iria bancar o projeto, tive que apagar minha mãe da cabeça e começar a pensar em uma atriz (risos). A história com Juliette é engraçada: quando meu produtor perguntou que atriz eu queria para o papel, respondi que gostaria de alguém como Juliette Binoche. Passamos então a procurar atrizes na Itália do tipo dela, mas não encontramos. Resolvemos então mandar o roteiro para o agente de Juliette, mas sem qualquer esperança. Em 10 dias, ele me ligou dizendo que tinha gostado do roteiro e iria enviá-lo para Juliette, mas que ela não iria poder participar do filme. Seguimos procurando por uma atriz. Alguns dias depois, recebi no celular uma mensagem de um telefone francês: "Li seu roteiro e fiquei comovida. Você pode vir para Paris amanhã?". Era Juliette.
A interação entre Juliette e Lou de Laâge é muito intensa na tela. Como foi dirigi-las?
Eu trabalhei de um jeito com Juliette e de outro com Lou. Acho que o melhor foi o tipo de relação que criamos no set. Lou é muito jovem, ainda não era tão conhecida e estava muito excitada por trabalhar com Juliette. Fui então a Juliette e disse para ela que talvez fosse uma boa ideia se ela não se encontrasse com Lou até filmarmos a primeira cena das duas juntas, justamente o momento em que Jeanne fala com Anna, a mãe do seu namorado, pela primeira vez. Quando filmamos, portanto, foi a primeira vez que Juliette viu Lou e que a mãe viu a garota. Essa tensão está lá, da jovem atriz que se encontra diante da grande diva. Elas realmente trabalham de maneiras muito distintas: Juliette quer repetir muitíssimas vezes as cenas, enquanto Lou é o oposto, gosta de tudo muito rápido. Com Lou, rodávamos uma tomada apenas, com Juliette, às vezes eram necessárias 25 tomadas. O difícil era equilibrar no set esses dois métodos, mas acho que conseguimos. No final, se o filme funciona é porque essa relação entre elas funciona.
SALAS E HORÁRIOS
Guion Center 1 (14h15, 21h15) e Guion Center 3 (16h35).