Quem assistiu a Cinquenta Tons de Cinza, que em 2015 arrecadou U$ 560 milhões em bilheteria, sem ler ao best-seller sucesso mundial em algum momento da história questionou-se como o personagem Christian Grey (Jamie Dornan) conquistou tantas fãs fervorosas mundo afora. Arrogante e longe de ser gentil no trato social, ainda foi abandonado pela parceira Anastasia Steele (Dakota Johnson), que acabou o romance após uma experiência "peculiar" no quarto vermelho – expressão que o protagonista adota para explicar suas sádicas práticas sexuais.
Diferenças entre literatura e cinema à parte, na sequência Cinquenta Tons Mais Escuros, que estreia nesta quinta nos cinemas da Capital, um pouco do que os mais entusiastas da narrativa tratavam como defesa ao jeitão de Grey começa a ser narrado. Sem julgamentos morais e, de certa forma, justificando o lado muitas vezes sombrio do bilionário prodígio, o passado do personagem é um tema presente ora nas lembranças, ora nas entrelinhas de suas ações. A luz acompanha o clima intimista e denso, sugerindo o peso que essas marcas, inclusive físicas, deixaram no órfão que perdeu a mãe viciada em drogas aos quatro anos de idade.
A história tem seu começo quando Anastasia inicia o trabalho em uma editora de livros, e Grey insiste em retomar o romance. O retorno não demora muito, mas ao longo do filme há uma série de DRs sobre os termos e, principalmente, os limites da relação. Entre fantasmas – alguns deles bem vivos, como Elena Lincoln, vivida por Kim Basinger, no papel da mulher que foi a dominante de Grey por seis anos –, a dupla tenta criar uma nova dinâmica, sempre com a garota oscilando entre cautelosa e encantada. Por outro lado, em grande parte do tempo, vê-se um homem sem muito carisma e com dificuldades de ouvir um não da parceira.
Para quem associa exclusivamente a história a cenas de sexo, um aviso: o clima é mais leve do que no primeiro filme, que para muitos também já ficou aquém do fervor causado pelo livro.
A química entre os dois atores também não evoluiu nestes dois anos de intervalo. Jamie Dornan causa mais estranheza do que provoca, mesmo com beleza de sobra. Não compromete a atuação da colega, que consegue manter sua Anastasia contida e convincente, mas que poderia ter melhores momentos caso a dupla fosse mais afinadabit.ly/50tonsescuros.
Entre sequências que poderiam ser melhor trabalhadas, como uma cena pós-acidente de helicóptero, o filme por si só não soma novos adeptos ao séquito do casal. Pode agradar aos olhos de quem idealizou previamente os dois nas páginas da trilogia escrita por E. L. James, mas não sustenta a curiosidade de quem busca na projeção uma narrativa mais consistente.
Cinquenta Tons Mais Escuros
De James Foley
Drama, EUA, 2016, 118min.
Estreia nesta quinta nos cinemas
Cotação: Regular