Representante da Tunísia na disputa de uma vaga ao Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano, Assim que Abro Meus Olhos foi premiado em festivais como os de Veneza, Cartagena e Dubai, entre vários outros. Oriundo de uma cinematografia que raramente chega aos cinemas brasileiros – uma exceção foi o ótimo Os Silêncios do Palácio (1994) –, o título em cartaz na Capital marca a estreia no longa da jovem diretora e roteirista tunisiana Leyla Bouzid. Em Assim que Abro Meus Olhos, a realizadora concentra na trajetória de uma inquieta garota as aspirações e os inconformismos de uma geração que logo estaria na linha de frente da Primavera Árabe.
A ação do filme se passa em Túnis, às vésperas da Revolução de Jasmim – série de manifestações populares ocorrida entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, que levou à saída do presidente Zine el-Abidine Ben Ali, no poder desde 1987, e desencadeou movimentos semelhantes no mundo árabe. Farah (Baya Medhaffer) é uma estudante de 18 anos que canta em uma banda de pop rock. Cheia de vitalidade e espontaneidade, a adolescente desfruta das descobertas da cidade à noite, como as festas, a bebida e os rapazes, e não pensa em seguir a vontade mãe, Hayet (Ghalia Benali), que deseja ver a filha formar-se em medicina. Apaixonada pelo líder de seu grupo, o compositor e alaudista Borhène (Montassar Ayari), Farah logo descobre que a repressão oficial está de olho em todos e quer calar até mesmo as vozes dissidentes de rebeldes sem militância política, como a protagonista e seus amigos.
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A grande força de Assim que Abro Meus Olhos está na verdade da atuação da estreante Baya Medhaffer, que imprime o caráter exigido pela personagem: uma energia eufórica temperada por ousadia e ingenuidade. Tanto nos conflitos e aproximações com a mãe em casa quanto nas interações com o mundo exterior, Farah sente-se duplamente reprimida pelo governo que sufoca a liberdade dos cidadãos e pela sociedade que submete as mulheres ao machismo. Uma realidade hostil que Farah transcende no palco cantando com vigor e entrega.
Sala e horário
Guion Center 3, às 19h, neste sábado e domingo. Cotação: 3 de 5.