É pouco provável que, entre os grandes cineastas em atividade (e em grande parte da humanidade), alguém se torne um velho centenário com a energia física e criativa do português Manoel de Oliveira, que morreu aos 106 anos, em 2015, lançando bons filmes com impressionante regularidade – os três longas-metragens, entre um punhado de curtas, que Oliveira apresentou depois dos cem anos estão entre seus melhores trabalhos. No cinema contemporâneo, uma turma de realizadores consagrados cruzou a faixa dos 80 anos produzindo bons filmes e com novos projetos no horizonte. O Segundo Caderno destaca alguns octogenários cheios de fôlego, dos irmãos italianos Paolo e Vittorio Taviani ao americano Clint Eastwood, do franco-suíço Jean-Luc Godard ao britânico Ken Loach, entre outros mestres que seguem acelerando sem olhar para atrás.
Ken Loach, 80
O cineasta britânico conquistou sua segunda Palma de Ouro no Festival de Cannes com Eu, Daniel Blake, em cartaz nos cinemas. Atento aos dramas da classe trabalhadora, o engajado Loach (de óculos na foto acima) coloca nesse filme o tema sob a perspectiva do desemparo na velhice, com a odisseia de um carpinteiro (Dave Johns, ao lado do diretor na foto acima ) para receber o benefício social após sofrer um infarto. Também em 2016, Loach apresentou o documentário In Conversation with Jeremy Corbyn, registro de um encontro com o líder do Partido Trabalhista e principal voz da oposição no Reino Unido.
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Irmãos Taviani: Vittorio, 87, e Paolo, 85
Os realizadores de clássicos como Pai Patrão (1977) e A Noite de São Lourenço (1982) conquistaram em 2012 o Urso de Ouro no Festival de Berlim com o inventivo docudrama César Deve Morrer, no qual acompanham presidiários encenando Júlio César, de Shakespeare. Apresentaram depois Maravilhoso Boccaccio (2015), adaptação de histórias do período medieval publicadas por Giovanni Boccaccio em Decameron. Em 2017, os manos devem lançar Una Questione Privata, sobre a resistência italiana contra o nazifascismo na II Guerra Mundial.
Fernando Solanas, 80
O renomado cineasta argentino passou a alternar seus documentários políticos com a carreira parlamentar. Se no começo da trajetória tratava de temas como a subserviência dos países latinos às nações neocolonialistas, Solanas dedicou-se nos últimos anos a iluminar o impacto social das sucessivas crises políticas e econômicas em seu país. Lançou em 2016 El Legado, com reflexões sobre a figura do líder político Juan Domingo Perón (1895 – 1974).
Clint Eastwood, 86
Apresentando uma sequência de dramas biográficos – J. Edgar, Jersey Boys e Sniper Americano –,o diretor lançou em 2016 o vigoroso Sully: O Herói do Rio Hudson, estrelado por Tom Hanks (com Eastwood no foto acima). Mas a história do piloto do Airbus que fez um pouso de emergência sobre a água, no coração de Nova York, salvando todos os passageiros e tripulantes, acabou esquecida na temporada de premiações. Eastwood está agora cotado para comandar The Ballad of Richard Jewell, sobre um policial americano suspeito de participar do atentado a bomba ocorrido na Olimpíada de Atlanta, em 1996. Leonardo DiCaprio e Jonah Hill podem ser os protagonistas.
William Friedkin, 81
Depois de cair em desgraça em Hollywood, o autor de clássicos da década de 1970 como Operação França e O Exorcista ressurgiu com força nos anos 2000, em filmes como Possuídos (2006) e Killer Joe – Matador de Aluguel (2011). Friedkin está agora ligado à produção de Frankie Machine, sobre um insuspeito pai de família que é assassino da máfia.
Roman Polanski, 83
Após o drama erótico A Pele de Vênus (2013), o realizador polonês toca dois projetos. Ainda este ano, Polanski lança o suspense psicológico D’Après Une Histoire Vraie, com sua mulher, Emmanuelle Seigner (na foto acima com o diretor no set de A Pele de Vênus), e Eva Green, sobre escritora perseguida por uma fã obcecada. Também prepara uma releitura do Caso Dreyfuss, o julgamento do oficial acusado de traição que dividiu a França no século 19.
Carlos Saura, 85
O diretor espanhol de Cría Cuervos (1976) e Bodas de Sangue (1981), entre outros títulos marcantes, vem apresentando documentários sobre a cultura ibero-americana, como Fados (2007), Flamenco, Flamenco (2010) e Zonda: Folclore Argentino (2015). Em 2016, mostrou Jota de Saura (2016), sobre as tradições da região em que nasceu, Aragón. Tem na fila Renzo Piano, an Architect for Santander, sobre um projeto do arquiteto italiano na Espanha.
Jean-Luc Godard, 86
O mais inquieto dos realizadores da Nouvelle Vague já promoveu muitas reviravoltas na carreira. Foi um dos pioneiros no uso do suporte digital e, no experimental Adeus à Linguagem (2014), investiu na projeção 3D para expandir o impacto sensorial do espectador. O mestre franco-suíço segue remando contra a corrente do cinema como mero entretenimento. Sua próxima provocação está a caminho: Image et Parole deve ser apresentado ainda em 2017. Com cenário em uma região petrolífera do Oriente Médio, o filme embaralha ficção e documentário para tratar, como sempre à luz da sagacidade política, filosófica e humanista de Godard, de temas como guerra, poder e pobreza.
Domingos Oliveira, 80
O representante brasileiro no time apresentou em 2016 um de seus mais elogiados trabalhos, BR 716, ganhador do Kikito de melhor filme no Festival de Gramado. Nele, o cineasta e dramaturgo carioca retoma, em tom de celebração à vida, o painel memorialístico que marca títulos de sua produção recente, como Juventude (2008) e Infância (2014).
Woody Allen, 81
Como é recorrente, o diretor americano lança um filme já preparando seu próximo. Depois de Café Society e da série de TV da Amazon Crisis in Six Scenes, ambas produções que apresentou em 2016, Allen concluiu as filmagens de um drama ainda sem título ambientado na Nova York dos anos 1950. No elenco, estão Kate Winslet, Justin Timberlake, Juno Temple e Jim Belushi.