Quando se fala em brasileiros com carreira no cinema internacional, os nomes lembrados são recorrentes: Wagner Moura, Alice Braga e Rodrigo Santoro entre os atores, José Padilha, Fernando Meirelles e Walter Salles no time dos diretores. Mas nenhum deles têm no Exterior uma trajetória tão regular quanto Rodrigo Teixeira, que atua em uma área bem mais restrita a profissionais latino-americanos: a produção-executiva, função que exige lidar com orçamentos e talentos em todas as etapas da realização de um projeto.
Carioca, 40 anos, Teixeira está à frente da RT Features, produtora instalada em uma casa de dois andares em Higienópolis, São Paulo. De lá, administra uma cartela de longas em produção no Brasil e nos EUA. Em 2016, apresentou títulos como os nacionais O silêncio do céu, de Marco Dutra, e O filho eterno, de Paulo Machiline, e os estrangeiros Indignação, adaptação do livro de Philip Roth assinada por James Schamus, e Melhores amigos (2016), seu segundo trabalho com o diretor Ira Sachs, com quem fez também O Amor é estranho (2014). Um de seus trabalhos de maior repercussão, o terror A bruxa (2015) foi indicado a melhor diretor estreante (Robert Eggers) no Independent Spirit Awards.
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Diante de duas realidades – o modelo dependente dos editais públicos no Brasil e o dos investidores dos Estados Unidos –, o produtor compara, em entrevista a ZH:
– Nos EUA, a figura do produtor é mais representativa. É mais fácil produzir fora do país, você tem retorno mais rapidamente.
Além de integrar o poderoso sindicato dos produtores de Hollywood, Teixeira foi convidado a ingressar na Academia de Artes e Ciência Cinematográficas, entidade que promove a festa do Oscar.
– É a realização de um sonho. E um reconhecimento – comenta.
Antes de se tornar conhecido no cinema, Teixeira desenvolveu projetos na literatura. Criou as séries Camisa 13, com livros sobre times de futebol escritos por famosos, e Amores expressos, que levou 17 autores a 17 cidades do mundo para escrever um romance cada. Dessa experiência, faz uso adquirindo direitos de livros como Cordilheira, que Daniel Galera escreveu em Buenos Aires para o projeto Amores expressos. Do mesmo Galera, produzirá Barba ensopada de sangue, com direção de Aly Muritiba.
Após produzir dois curtas, o primeiro longa de Teixeira foi O cheiro do ralo (2006), de Heitor Dhalia. Entre as dezenas que vieram depois estão O abismo prateado (2011), de Karim Aïnouz, Heleno (2011), de José Henrique Fonseca, e Tim Maia (2014), de Mauro Lima. A estreia internacional foi com o cult Frances Ha (2012), de Noah Baumbach, diretor com quem fez também Mistress America (2015). A boa repercussão de Frances Ha chamou a atenção para o produtor, que está nos créditos também de Love (2015), de Gaspar Noé.
– Trabalho com filmes de baixos, médios e grandes orçamentos. Cada projeto, no Exterior, segue um modelo específico de produção. Frances Ha e Mistress America, por exemplo, banquei integralmente. Já em Indignação e (no ainda inédito) Call me by your name, do (diretor italiano) Luca Guadagnino, entrei com metade do orçamento. É preciso adaptar-se ao filme que você que fazer.
Um de seus projetos de grande orçamento é a ficção científica Ad astra, próximo filme do diretor americano James Gray (de Amantes). No Brasil, virão dois longas com Belmonte, Alemão 2 e Aurora. Outra adaptação garantida é Blood on the tracks, filme inspirado no álbum homônimo de Bob Dylan.
– Não tenho a necessidade de sair do Brasil. Consigo trabalhar daqui com minha equipe. Nunca vi o mercado norte-americano como fechado. Pelo contrário, é bastante aberto a quem entra nele com postura profissional. Lá, a palavra tem muita importância nas relações. Costumo analisar com meu feeling o potencial de um filme dentro de cada gênero. Só faço o que me desperta interesse – explica.